"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 6 de outubro de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

SEGURAR OS LOUCOS

Jânio Quadros renunciou em 25 de agosto de 61, pegou um navio cargueiro, foi para a Europa. Quando voltou, novamente de cargueiro, na passagem pelo Rio, o general Cordeiro de Farias, que estava no Rio sem função no Rio, foi a bordo visitá-lo. E contou nas suas memórias:

– Nosso encontro foi comovente. Eu sempre gostei muito dele. Era um louco maravilhoso.

Quando nos encontramos em seu camarote, eu lhe disse:

– Faltou em Brasília alguém ao seu lado, com serenidade para agir.
– Agir como?
– Eu o prenderia, rasgaria a carta-renúncia, o levaria de avião para São Paulo e de lá para a casa de campo de um amigo, até que acabasse sua loucura.

Jânio levantou-se, abraçou Cordeiro em prantos e disse:
– O senhor foi a primeira pessoa a afirmar que faria isso.

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SENSAÇÃO DE ALÍVIO

Cordeiro disse que teria prendido Jânio mesmo:

– Tenho a impressão de que o Horta (ministro da Justiça) e Quintanilha (chefe da Casa Civil) tiveram uma sensação de alívio com a renúncia de Jânio. O Pedroso, que tinha maior intimidade comigo, dizia-me com freqüência:

– Quando chega a noite em Brasília, tenho raiva da humanidade.

Quer dizer, concluía Cordeiro, ele tinha raiva de Jânio. Aliás, logo após a renúncia, militares viram o Pedroso e o Quintanilha rindo, achando graça no blefe dado pela loucura de Jânio. É preciso segurar os loucos, contê-los.

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LULA

Amigos de Lula, velhos companheiros dele de fundação e primeiros anos do PT, andam preocupados com ele. Estão vendo o presidente Lula excessivamente eufórico, às vezes beirando à histeria, como se tudo estivesse no melhor dos mundos, a eleição já ganha nas grandes cidades, a economia alcançando números jamais vistos no Brasil e ele entrando para a História como o melhor
presidente que o País já teve.

Quando alguém, e são raríssimos, lhe chama a atenção para os números ruins que a economia e a realidade nacional estão apresentando, ele não toma conhecimento. Não quer saber. Só diz que está tudo ótimo e será melhor ainda.

O grave é que, antes dos escândalos do mensalão comprovados pelas CPIs, e da quadrilha e da organização criminosa denunciadas pelo Procurador Geral da República, ainda havia José Dirceu, Palocci e Gushiken, que ele ouvia. Não tomava providências, mas ouvia. Agora, nem isso.

06 de outubro de 2012
Sebastião Nery

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