SEGURAR OS LOUCOS
Jânio Quadros renunciou em 25 de agosto de 61, pegou um navio cargueiro, foi para a Europa. Quando voltou, novamente de cargueiro, na passagem pelo Rio, o general Cordeiro de Farias, que estava no Rio sem função no Rio, foi a bordo visitá-lo. E contou nas suas memórias:– Nosso encontro foi comovente. Eu sempre gostei muito dele. Era um louco maravilhoso.
Quando nos encontramos em seu camarote, eu lhe disse:
– Faltou em Brasília alguém ao seu lado, com serenidade para agir.
– Agir como?
– Eu o prenderia, rasgaria a carta-renúncia, o levaria de avião para São Paulo e de lá para a casa de campo de um amigo, até que acabasse sua loucura.
Jânio levantou-se, abraçou Cordeiro em prantos e disse:
– O senhor foi a primeira pessoa a afirmar que faria isso.
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SENSAÇÃO DE ALÍVIO
Cordeiro disse que teria prendido Jânio mesmo:
– Tenho a impressão de que o Horta (ministro da Justiça) e Quintanilha (chefe da Casa Civil) tiveram uma sensação de alívio com a renúncia de Jânio. O Pedroso, que tinha maior intimidade comigo, dizia-me com freqüência:
– Quando chega a noite em Brasília, tenho raiva da humanidade.
Quer dizer, concluía Cordeiro, ele tinha raiva de Jânio. Aliás, logo após a renúncia, militares viram o Pedroso e o Quintanilha rindo, achando graça no blefe dado pela loucura de Jânio. É preciso segurar os loucos, contê-los.
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LULA
Amigos de Lula, velhos companheiros dele de fundação e primeiros anos do PT, andam preocupados com ele. Estão vendo o presidente Lula excessivamente eufórico, às vezes beirando à histeria, como se tudo estivesse no melhor dos mundos, a eleição já ganha nas grandes cidades, a economia alcançando números jamais vistos no Brasil e ele entrando para a História como o melhor
presidente que o País já teve.
Quando alguém, e são raríssimos, lhe chama a atenção para os números ruins que a economia e a realidade nacional estão apresentando, ele não toma conhecimento. Não quer saber. Só diz que está tudo ótimo e será melhor ainda.
O grave é que, antes dos escândalos do mensalão comprovados pelas CPIs, e da quadrilha e da organização criminosa denunciadas pelo Procurador Geral da República, ainda havia José Dirceu, Palocci e Gushiken, que ele ouvia. Não tomava providências, mas ouvia. Agora, nem isso.
06 de outubro de 2012
Sebastião Nery
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