Um idoso isolado do seu meio torna-se perigoso, intolerante. Esta informação foi apresentada por um psiquiatra no congresso da Associação Portuguesa de Gerontologia, mês passado, em Lisboa. Pincei-a na internet pensando no Brasil, onde pessoas com mais de 60 anos já correspondem a mais de 20% da população brasileira. Nesse percentual está Lula.
Se estiver isolado, cuidado com ele. Por enquanto, está se dando ao luxo de expor sua ranzinzice como ex-presidente sexagenário. Durante um comício, neste último sábado, chamou José Serra de velho, dizendo que o tucano não tem mais idade para disputar a Presidência da República.
Teria sido uma casca de banana para o outro bicar? Ou Lula realmente acredita que existe limite de idade para concorrer em 2014? Vai saber...
O psiquiatra observou, ainda durante o congresso português, que um velho pobre pode ficar avarento; e um desconfiado virar paranoico. Uma pessoa comum dizendo isso em um evento brasileiro seria considerada politicamente incorreta, apesar da velhice em nosso país ser vista com preconceito.
Confundida com velharia: algo ultrapassado, imprestável, para ser jogado fora. Ou excluído. Mas houve um tempo em que a condição de velho, de mais vivido e sabido, dava status. Faz tempo... Depois passou a designar ancianidade. Portanto, não foi por acaso o Congresso ter aprovado, em 2003, o Estatuto do Idoso.
Ele institui penas severas para quem desrespeitar os direitos, maltratar ou abandonar cidadãos com mais de 60 anos. Ou seja, os da terceira idade. Que além de ganharem o benefício de 50% de desconto em atividades de cultura, esporte e lazer, não devem ser discriminados para vagas de emprego por causa de seu número de anos de vida.
O resultado dessas e outras conquistas apareceram no último censo do IBGE: 64,5% da renda dos domicílios no país dependem dos ganhos de seus idosos, cada vez mais presentes no mercado de trabalho.
Descobriu-se, assim, que a capacidade de aprender e atualizar conhecimentos tem mais a ver com mente ativa do que com aparência física. Pelo menos isso. Longevos saudáveis são longevos pela qualidade de vida. Daí que ainda há muito a fazer.
O envelhecimento da população não significa que idosos estejam influenciando politicamente o país. Parece que ser velho ainda custa voto.
Os antigos jovens estão vivendo por mais tempo onde há menos gente nascendo. Isso pode ser muito bom se o Brasil souber envelhecer com sabedoria. Ruim será se houver isolamento...
02 de outubro de 2012
Ateneia Feijó é jornalista
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