Bastou o pneu de uma
aeronave furar para uma parte considerável do sistema aéreo brasileiro entrar em
parafuso. Um acidente banal ocorrido no aeroporto de Viracopos no fim de semana
levou quase dois dias para ser superado e deixou cerca de 40 mil pessoas no
chão.
Como o país poderá
decolar com fragilidades tão evidentes?
Um cargueiro tombou
na pista do terminal de Campinas às 19h55 de sábado e só foi retirado de lá
ontem à tarde. Durante 46 horas, o aeroporto, o segundo mais importante em
termos de movimentação de cargas no país, ficou parado.
Numa reação em
cadeia, 495 voos foram cancelados em todo o país e 21% das partidas domésticas
saíram com atraso ontem.
O episódio ilustra a
debilidade da nossa infraestrutura. Um país cuja malha aérea fica durante dois
dias refém de acidentes fortuitos não pode ser considerado preparado para alçar
voos mais altos. Até onde esta desídia pode nos levar?
Até quatro meses
atrás, Viracopos e mais 65 aeroportos eram administrados exclusivamente pela
Infraero. A estatal agora tem sócios privados no terminal de Campinas e em mais
dois (Brasília e Guarulhos), nos quais mantém 49% do capital.
Ocorre que, com todo
o seu gigantismo, a empresa é despreparada para bem gerir.
A estatal não dispõe
de um único equipamento capaz de fazer a retirada de aeronaves - operação que
não é trivial, mas está longe de ser incomum - como o que precisou ser usado
ontem. No país, apenas uma empresa privada, a TAM, possui um kit destes, que
custa entre R$ 2 milhões e R$ 13 milhões.
Desde 2005, quando o
da Varig deixou de operar, até o ano passado, o Brasil ficou sem instrumentos
deste tipo.
A Infraero informou que "esse
tipo de acidente não acontece todo o dia", para tentar justificar por que, mesmo
cuidando de dezenas de terminais aéreos, não está aparelhada para enfrentar
sequer acidentes mais simples e por que, quando tem que agir, demora tanto para
resolver um problema.
A verdade é que, sob
as asas do PT, a estatal transformou-se num poço de ineficiência e o exemplo
mais acabado de aparelhamento e predação. O que é necessário, ela não faz:
investir. Desde 2000, a Infraero só aplicou 51% das verbas que lhe foram
destinadas no Orçamento Geral da União.
Neste ano, de R$ 370
milhões previstos, apenas 18% haviam sido gastos até julho.
Se a estatal é falha,
nossa agência reguladora do setor aéreo é omissa. A Anac não tem qualquer norma
que defina como o sistema deve estar organizado para se antecipar a episódios
como o deste fim de semana, de forma a mitigar riscos. Segundo técnicos do setor, um
acidente como o de Viracopos poderia ter sido resolvido em menos de dez horas,
mas, no país da ineficiência, demorou quase 50.
Desde junho,
Viracopos é administrado por um consórcio de empresas em sociedade com a
Infraero. É claro que a nova gestão não teve tempo hábil para eliminar o
histórico de maus serviços prestados pela estatal. Mas o mais grave é o risco de
que o terminal de Campinas e os demais aeroportos já privatizados - ou que
venham a ser - continuem sem a perspectiva de melhoria por falhas no processo de
concessão tocado pelo governo Dilma.
Técnicos consultados
pelos jornais dizem que o sistema aéreo só travou como neste fim de semana
porque o aeroporto de Campinas ainda não dispõe de uma necessária segunda pista.
O pior da história é que o contrato de concessão feito pela atual gestão só
prevê a instalação de tal estrutura daqui a cinco anos.
Como ficaremos até
2017?
Após uma década no
poder, o governo petista não pode alegar desconhecimento ou razões imprevistas.
O processo de depauperação da nossa infraestrutura está explícito há anos. A
solução das privatizações - além de ter sido aplicada com sucesso no governo
tucano e sempre ter sido defendida pela oposição - foi por anos renegada pelo
PT.
A atual gestão não
consegue enfrentar os problemas que afligem a população e, assim, continua
fazendo o país refém até de pneus furados.
Fonte: Instituto
Teotônio Vilela
17 de outubro de 2012
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