"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 25 de novembro de 2012

PAUSA POÉTICA

AOS DETURPADORES DO AMOR

Diovani Mendonça

 
Se tiver que bater, bata.
Mas na cara da própria covardia.

Se tiver que arrancar, arranque.
Os cabelos da própria valentia.

Se tiver que rachar, rache.
A testa da própria hipocrisia.

Se tiver que furar, fure.
Os olhos do próprio ciúme.

Se tiver que puxar, puxe.
As orelhas do sentimento de posse.

Se tiver que apertar, aperte.
O gatilho no nariz da própria sorte.

Se tiver que lascar, lasque.
As unhas da própria vaidade.

Se tiver que enjaular, enjaule.
A própria irracional animalidade.

Se tiver que incendiar, incendeie.
A casa e o quintal da própria maldade.

Se tiver que amputar, ampute.
Os músculos de sua pré-potência.

Se tiver que socar, soque.
A boca da própria ignorância.

Se tiver que quebrar, quebre.
Os dentes da própria arrogância.

Se tiver que cortar, corte.
A própria língua que enfeitiça.

Se tiver que enforcar, enforque.
A garganta da vingança.

Se tiver que envenenar, envenene.
O ventre da própria insegurança.

Se tiver que metralhar, metralhe.
A vidraça da própria desconfiança.

Se tiver que atirar, atire.
No peito da própria amargura.

Se tiver que amarrar, amarre.
As patas da própria força-burra.

Se tiver que decepar, decepe.
Os dedos da própria loucura.

Se tiver que esfaquear, esfaqueie.
As longas pernas da própria mentira.

Se tiver que aprisionar, aprisione.
As mãos e os pés da própria ira.

Se tiver que sufocar, sufoque.
O grito do próprio desespero.

Se tiver que afogar, afogue.
As próprias mágoas enfim.

Se tiver que matar, mate (e bem matado!).
O egoísmo dentro de si.

Reflita... Erga a cabeça e vire o disco
e que ninguém tenha que fazer nada disso.
 
 
25 de novembro de 2012
 

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