Guichê da imigração francesa na estação do trem que vai de Londres a Paris,
uma vazia tarde de quinta-feira. Carimbos em série. Os agentes olham a cara do
viajante, olham o documento e plac. Isso até eu chegar com o meu passaporte
azul.
- Paris é seu destino final?
- Sim. Por quê?
- Você tem prova de acomodação?
Ainda confuso depois de todos passarem numa boa:
- Fui convidado por um amigo que mora lá. O endereço é este.
Fiscal sai da cabine com cara de “de novo…” e me chama para conversar do lado de fora.
- Você precisa de uma carta da prefeitura. Seu amigo deveria ter avisado à prefeitura bem antes, eles responderiam e você apresentaria a carta aqui.
- Puxa, não sabia disso. Ele se mudou para lá faz um mês. Ele chegou para estudar e eu devo ser a primeira pessoa que o visita. Se soubesse certamente teria pedido.
- Você mora onde?
- Londres.
- Qual é o endereço?
- É este aqui na carta do banco.
- O que você faz na Inglaterra?
- Um mestrado em uma faculdade aqui perto.
- Posso ver seu cartão de estudante?
- Aqui.
- Quanto tempo você quer ficar em Paris?
- Dois dias.
- Me mostre sua passagem de volta.
- Eu gostaria de passar mais tempo, mas tenho provas em breve.
- (impassível) Você tem dinheiro para ficar lá?
- Tenho no meu cartão de crédito. Tenho conta aqui e no Brasil.
- Me mostre seu cartão de crédito. Você está levando euros?
- Eu liberei o uso do cartão lá, achei que seria mais barato do que trocar libras aqui.
- Você tem seguro de saúde?
- Tenho o seguro do cartão. Na Inglaterra estou registrado no setor público.
- Já foi à França antes?
- Sim, em 2008 eu passei uma semana em Paris praticando francês na volta de Pequim, estava lá trabalhando nas Olimpíadas.
- Esses carimbos não estão no passaporte.
- Estão neste outro, que venceu neste ano. Este é o visto da China e este é o carimbo do aeroporto de Paris.
- Com o que você trabalhava?
- Jornalismo. Ainda trabalho, estou só dando uma pausa para estudar.
(silêncio de cinco segundos)
- Ok. Aqui está seu carimbo. Na próxima vez peça uma carta da prefeitura.
- Obrigado.
Cinco minutos de interrogatório para provar que eu tinha condições de sobreviver por dois dias em Paris. Imagino que muita gente de passaporte azul perca o trem para reservar um hotel, embora até tenha quem os receba na França. Males de não ter um documento comunitário. Mas pelo tanto que respondi acho que comprovei com sobra a minha paciência para lidar com os nobres franceses por um fim de semana.
(Artigo transcrito do Globo, enviado por Mário Assis)
25 de novembro de 2012
Maurício Savarese
- Paris é seu destino final?
- Sim. Por quê?
- Você tem prova de acomodação?
Ainda confuso depois de todos passarem numa boa:
- Fui convidado por um amigo que mora lá. O endereço é este.
Fiscal sai da cabine com cara de “de novo…” e me chama para conversar do lado de fora.
- Você precisa de uma carta da prefeitura. Seu amigo deveria ter avisado à prefeitura bem antes, eles responderiam e você apresentaria a carta aqui.
- Puxa, não sabia disso. Ele se mudou para lá faz um mês. Ele chegou para estudar e eu devo ser a primeira pessoa que o visita. Se soubesse certamente teria pedido.
- Você mora onde?
- Londres.
- Qual é o endereço?
- É este aqui na carta do banco.
- O que você faz na Inglaterra?
- Um mestrado em uma faculdade aqui perto.
- Posso ver seu cartão de estudante?
- Aqui.
- Quanto tempo você quer ficar em Paris?
- Dois dias.
- Me mostre sua passagem de volta.
- Eu gostaria de passar mais tempo, mas tenho provas em breve.
- (impassível) Você tem dinheiro para ficar lá?
- Tenho no meu cartão de crédito. Tenho conta aqui e no Brasil.
- Me mostre seu cartão de crédito. Você está levando euros?
- Eu liberei o uso do cartão lá, achei que seria mais barato do que trocar libras aqui.
- Você tem seguro de saúde?
- Tenho o seguro do cartão. Na Inglaterra estou registrado no setor público.
- Já foi à França antes?
- Sim, em 2008 eu passei uma semana em Paris praticando francês na volta de Pequim, estava lá trabalhando nas Olimpíadas.
- Esses carimbos não estão no passaporte.
- Estão neste outro, que venceu neste ano. Este é o visto da China e este é o carimbo do aeroporto de Paris.
- Com o que você trabalhava?
- Jornalismo. Ainda trabalho, estou só dando uma pausa para estudar.
(silêncio de cinco segundos)
- Ok. Aqui está seu carimbo. Na próxima vez peça uma carta da prefeitura.
- Obrigado.
Cinco minutos de interrogatório para provar que eu tinha condições de sobreviver por dois dias em Paris. Imagino que muita gente de passaporte azul perca o trem para reservar um hotel, embora até tenha quem os receba na França. Males de não ter um documento comunitário. Mas pelo tanto que respondi acho que comprovei com sobra a minha paciência para lidar com os nobres franceses por um fim de semana.
(Artigo transcrito do Globo, enviado por Mário Assis)
25 de novembro de 2012
Maurício Savarese
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