"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

'TERRORISMO LEGITIMADO'

 


Imagine o leitor se ele tivesse um vizinho que, dia após dia, derrubasse a cerca que os separa e tentasse invadir sua propriedade. Sendo repelido judicialmente, passasse então a jogar pedras e bombas contra o objeto de sua ira e cobiça.
 
Nenhum apelo, nenhum acordo, conseguem demover o agressor de suas intenções. Tal hipotética situação no âmbito das relações privadas admite que, em última instância, a vítima possa apelar para medidas extremas de defesa.
 
Se no campo civil o direito natural à auto-tutela tem legitimidade, muito mais haveria quando se tratasse de relações entre agrupamentos humanos envolvendo direitos potestativos de estados soberanos.

Esta é claramente a situação vivida por Israel, com seu povo sob constante agressão ou ameaça de sofrê-la por parte de seus belicosos vizinhos, notadamente ao norte – na fronteira com o Líbano e a Síria – e ao centro e ao sul de suas divisas – com os terroristas do Hamas e de outros grupos mais sectários e mais violentos ainda.
 
O fanatismo totalitário é o ponto de concordância que os une, quer estejam próximos da fronteira israelense, que estejam mais distantes, como é o caso das teocracias medievais do Irã, da Arábia Saudita e seus simpatizantes espalhados por outras regiões do planeta.

No meio de tão profunda escuridão civilizatória, Israel é um ponto de luz a sinalizar o sentido do apoio que deveria ser dado por todos os homens de bem da face da Terra. Ao contrário do que ocorre na democrática sociedade israelense, a truculência, a bestialidade, a homofobia, a misoginia e outras deformações de caráter têm ampla guarida entre aqueles que censuram e que querem ver destruído o estado e o povo hebreus.

Hitler e seus acólitos dialogariam bem com tantos aiatolás, príncipes, reis, xeques, ímãs, irmandades muçulmanas bem como outros ditadores de feitio laico espalhados por todo o oriente médio e norte da África, ressalvadas raras e honrosas exceções.
 
O atual governo brasileiro, de quem se esperaria um mínimo de lucidez, no entanto, repete em sua política externa a má lição dada pelos palestinos – nunca perde a oportunidade de perder a oportunidade.

Despreocupada com os mais profundos valores que deveriam orientar a ação pública, a liderança do país pelo menos tem uma coerência: apóia sempre aqueles que navegam nas águas turvas do terrorismo, estando este do outro lado de nossas fronteiras, como as Farc colombianas, ou em qualquer lugar do globo onde a barbárie se faça presente e queira impor às suas vítimas, a ferro e fogo, suas concepções totalitárias, as quais sempre resultam nas mais graves violações aos princípios universais dos direitos humanos.

Realmente, soa grotesco falar em direitos e dignidade humana para gente que, não só dá vivas à morte, como pratica o apedrejamento de adúlteros, a mutilação genital feminina, o enforcamento de homossexuais e outras transgressões tão ou mais cruéis.
 
26 de julho de 2012
Antônio Machado de Carvalho é sociólogo

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