Eu moro na Alemanha há mais de três anos e até hoje umas das minhas empreitadas pessoais mais ambiciosas é tentar fazer o alemão rir. Não sou comediante, mas sempre fui uma pessoa tida como “engraçada” entre os demais, ou pelo menos é assim que meus amigos me descrevem. Então você pode imaginar que, para mim, ter o meu feeling para piadas podado por causa da linguagem, essa danada, é nada mais que... broxante.
Ontem li um artigo antigo (de 2006) e interessante no jornal The Guardian sobre o humor alemão. Tratava-se de uma comparação entre o humor alemão e o britânico.
Embora a princípio pareça o sujo falando do mal lavado, os argumentos colocados pelo autor, o comediante inglês Stewart Lee, são muito bons.
Lee explica que o tipo de humor tão comum entre americanos e britânicos, o stand up, simplesmente é impossível de existir em alemão. Primeiro, tem o problema linguístico, o qual se manifesta da seguinte forma: em um idioma famoso por seu potencial de exatidão, é dificílimo brincar com a ambiguidade.
Ó meu Deus, quantas vezes já não tive que ficar explicando para o interlocutor minhas tentativas fail de piadas, após o não efeito da mesma, achando que estava abafando!
Tem um segundo problema, o cultural. E este Lee exemplifica com a piada abaixo:
Um casal britânico tem um filho. Eles são informados pelo pediatra que o bebê é totalmente saudável, porém é alemão. Mas isso não vai atrapalhar seu desenvolvimento. Com o passar dos anos, os pais notam que o menino não fala. O tempo vai passando e o menino anda, come, lê, escreve e vive como qualquer criança da idade dele, porém não diz uma palavra.
"Não há motivo para se preocupar, ele se desenvolve bem”, diz o médico. Um belo dia, quando o menino já tinha 13 anos, sua mãe serviu-lhe uma sopa de tomate. Alguns minutos depois ele veio e disse: “Mãe, a sopa está fria”.
A mãe, atônita, diz: “Meu filho, todo esse tempo nós achávamos que você não conseguia falar, mas você consegue! Por quê meu filho, por quê você não disse nada durante esses anos todos?”
No que diz o filho: “Ué, mãe, porque até agora não tive do que reclamar”.
Com a racionalidade como o principal lubrificante das relações sociais, é difícil encontrar espaço para o humor casual e espontâneo no dia a dia. Mas isso não quer dizer que não existam piadas em alemão!
Para terminar, morram de rir com esta piada natalina:
Na noite de Natal, a família está reunida à mesa. De repente Hans diz: “Vocês souberam que o Papai Noel mandou uma carta para todas as virgens da cidade?” Sua irmã mais velha pergunta: “E o que vem escrito na carta?” No que Hans responde: “Ué, você não recebeu a sua?”
20 de dezembro de 2012
Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim. De lá, mantém o blog www.diekarambolage.wordpress.com
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