Simpatia no vocabulário nem sempre é sinal de atos de amor. Em se tratando da diplomacia, e especialmente da diplomacia comercial que sempre ronda os encontros oficiais entre governos, muito menos.
Pois, uma sequência de palavras e expressões que nos inspiram sentimentos muito simpáticos estão novamente sendo usadas durante a 5ª reunião de cúpula dos países do bloco BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que ocorre na cidade sul-africana de Durban, nestes dias 26 e 27.
Uma enorme e variada quantidade de organizações da sociedade civil desses cinco países tem expressado suas preocupações com a simpatia vocabular expressa neste encontro dos BRICS, que leva o nome de “Os BRICS e a África: parceria para o desenvolvimento, integração e industrialização”.
Temem que por trás de toda essa simpatia estejam os interesses de corporações, principalmente brasileiras e chinesas, que precisam justificar politicamente seus planos de expansão para acessar os recursos naturais ainda imensos da África. Uma espécie de simpatia interessada para explorar a natureza presente nos 54 países africanos, usando a África do Sul como porta de entrada.
Assim, centenas dessas organizações, que se reúnem no evento “BRICS desde abaixo”, ou os “BRICS por seus povos”, desconfiam que, em verdade, esteja sendo colocado em marcha um plano dos BRICS para ocuparem um novo papel na geopolítica internacional.
Avaliam que, em decorrência de mais uma crise de acumulação capitalista iniciada nos EUA e que não para de bater às portas da Europa, os BRICS tenham vislumbrado a oportunidade de se encaixar de forma mais firme e sistemática nas franjas de uma ordem internacional ainda chefiada por Washington e, subsidiariamente, pela Europa. E a forma de fazê-lo seria explorando ainda mais intensamente a África.
Assim, usando e abusando da imagem simpática que os vocábulos encarnam, querem investir em tudo ao mesmo tempo: de hidrelétricas e usinas atômicas a rodovias, passando por portos, grandes infraestruturas de mineração e plantations de grãos e oleaginosas variados para produzir combustível agrícola “verde”, e fazer desta uma forma de encontrar soluções de mercado para a crise climática global.
Ou seja, implementando a versão século 21, ecologicamente correta, do velho e convencional modelo de acumulação baseado no intensivo uso de recursos públicos para explorar e exportar natureza sob variadas formas, com pouca atenção à legislação ambiental e praticando muita violação de direitos humanos para apressar o ciclo de conclusão de projetos e, assim, realizar lucros no mais curto espaço de tempo.
Claro que nada disso está escrito dessa forma em qualquer documento oficial da 5ª Cúpula dos BRICS – afinal, transparência de intensões não é o forte de nenhum dos BRICS, como, aliás, de nenhum governo nacional. Mas, após monitorar durante décadas os impactos causados por projetos de infraestrutura econômica em seus próprios países, está claro para essas organizações da sociedade civil quais são a natureza dos movimentos oficiais e os objetivos escondidos atrás deles.
O tempo mostrará se os BRICS apostam de fato em alguma novidade ou se se limitam a fazer apenas mais do mesmo.
26 de março de 2013
Carlos Tautz, jornalista, é coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.
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