Mais uma vez a presidente Dilma utilizou-se da defesa do “presidencialismo de coalizão” para indiretamente criticar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mas, desta vez, tendo-o a seu lado no palanque.
Anteriormente, ela falara da necessidade de lealdade política ao empossar novos ministros, cujas escolhas tinham o objetivo de fortalecer o PMDB e minar as candidaturas de Campos e de Aécio Neves, não de melhorar a gestão pública.
A questão é que no Brasil uma interpretação distorcida do que seja o papel dos partidos políticos no apoio a um governo levou a que a corrupção e o fisiologismo se tornassem elementos fundamentais da chamada “governabilidade”.
Ontem a presidente reafirmou que “nenhuma força política sozinha é capaz de dirigir um país desta complexidade”, para acrescentar que precisa de parceiros “comprometidos com esse caminho”, que é o de reduzir as desigualdades no país e combater a miséria.
Acontece que o governador pernambucano, com um pé fora da coalizão governista, está convencido de que a maneira como ela está organizada não ajuda a alcançar os objetivos desejados, pois o que a comanda seria o fisiologismo e o toma lá dá cá, de um lado, e o insaciável apetite petista por cargos do outro.
O PSB tem um diagnóstico sobre a situação do país que não coincide com a euforia propagandeada pelo governo. Campos está convencido de que o caminho escolhido é correto, mas acha que os instrumentos utilizados pelo PT são antiquados e colaboram para atravancar o desenvolvimento da economia.
Seria preciso mudar o grupo dirigente, mas manter o mesmo rumo. Como explicar isso para o eleitor?
Por isso, ontem, ele reafirmou do palanque o reconhecimento das políticas anteriores à chegada do PT ao governo, para deixar claro que não participa dessa imagem vendida pelo governo e, por enquanto, aceita com grande ênfase pelo eleitorado de que o país só encontrou seu verdadeiro caminho quando o PT chegou ao poder.
Sem a realização de reformas estruturais na economia brasileira, não teremos condições de sair desse marasmo em que o país estacionou, num desencontro entre a percepção do cidadão comum e a realidade dos números.
Eduardo Campos — assim como Aécio Neves —, está convencido de que, a continuar nesse ritmo, com a inflação acima da meta e o crescimento baixo, logo a consequência será sentida no bolso do brasileiro, minando a popularidade da presidente Dilma.
O que não sabem é se esse casamento da percepção com a realidade chegará ainda a ponto de enfraquecer a candidatura da presidente ou se a decepção ficará para o segundo mandato.
É essa avaliação que o governador Eduardo Campos está fazendo no momento, tendente a concorrer mesmo que a presidente Dilma continue favorita nas pesquisas. A coalizão do governo Dilma é instável porque a maioria que a compõe é de partidos de corte tradicional, pragmático, clientelista, que, além de não ter qualquer afinidade com o projeto político do PT são caçados pelo PT nas suas bases.
O caso do PSB é mais paradoxal, pois é um desses partidos historicamente aliados ao PT que sofrem para ganhar um espaço maior no governo, sendo pragmaticamente trocados pelo PMDB ou outro partido qualquer, desde que os interesses de curto prazo do governo assim determinem.
Um governo de coalizão pressupõe, segundo os especialistas, mais que a partilha de cargos, a partilha do próprio poder, o que dificilmente acontece. Como ficou explícito recentemente na eleição municipal, o PT não respeita o território do parceiro, por mais comprometido com o governo que ele seja, e, se outros partidos se satisfazem com as migalhas oferecidas pelo governo, o PSB acha que merece mais e procura o caminho alternativo para realizar seu projeto. Mas esbarra na definição da estratégia.
Como ficou claro ontem, a presidente Dilma usará o nome de Lula para acusar Eduardo Campos de ingratidão, para não falar em traição. E Campos terá que encontrar um caminho para explicar ao eleitorado que continua do mesmo lado.
26 de março de 2013
Merval Pereira, O Globo
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