"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 26 de março de 2013

PARADOXOS DA POPULARIDADE

 


Quando um candidato dispara tão na frente dos outros quanto Dilma Rousseff (PT), o risco é dar-se a corrida eleitoral por terminada antes de ela começar. Hoje a presidente é imbatível. Nunca antes na história eleitoral brasileira um incumbente abriu tanta distância dos outros presidenciáveis a tanto tempo da eleição. Há dois problemas embutidos nessa frase, porém.

A história eleitoral brasileira é curta. Só dois presidentes disputaram a reeleição. Saíram vitoriosos – é fato -, e um deles foi o presidente mais popular desde a redemocratização, mas não dá para criar uma teoria a partir de dois ou três casos apenas. A dimensão do feito de Dilma é notável, especialmente para um “poste”. Mas ter perspectiva é bom e conserva os saltos baixos.

A inédita vantagem de Dilma ocorre a um ano e meio da eleição. É mais provável que a vantagem aumente ou diminua até 2014? A presidente está em ascensão, mas ficou tão perto do teto que corre risco de bater a cabeça. Se ela oscilar do “excelente” para o “ótimo”, a manchete será “Dilma caiu”. O desempenho de Dilma na opinião pública é excepcional – o “timing”, nem tanto.

Se algo pode dar errado para Dilma, o que será? A popularidade da presidente está nas nuvens. O julgamento do mensalão ficou para trás. A economia começa a dar sinais de recuperação. Justamente.
Marqueteiro eleitoral da presidente, João Santana deve coçar a cabeça quando vê o ministro da Fazenda, Guido Mantega, projetar um crescimento de 4% do PIB brasileiro para 2013. Não por medo de que ele erre novamente, mas de que acerte.

Com os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste 40% mais vazios do que a média histórica recente, o crescimento acelerado da indústria produziria uma demanda extra por eletricidade que pode não casar bem com o período de secas que se avizinha. Esgotar as represas em 2013 implica comprometê-las para 2014.

Se a economia logo começar a crescer mais depressa, antecipa-se o risco de descompasso entre oferta e demanda. Mais filas nos portos e aeroportos, atrasos nos suprimentos. Resultado plausível: preços sobem, pressionando ainda mais a inflação.

Excitação demais antes da hora costuma resultar em comemoração precoce. Por isso, por mais paradoxal que pareça, um pibinho pode ser melhor que um pibão em 2013 – se não para a presidente e o país, ao menos para a candidata. Há precedente. Mesmo com o PIB crescendo 0,9% em 2012, Dilma chegou onde está.

E como a candidata petista chegou tão longe? Por mérito próprio e ajuda dos adversários.
Dilma conseguiu uma coesão partidária em torno do seu nome de dar inveja a Aécio Neves (PSDB).

Mantendo a popularidade alta e o consumidor confiante, ela liquidou as especulações sobre uma volta de Lula. O Ibope mostrou que o eleitor lulista também compreendeu isso e, nos últimos quatro meses, intensificou a migração para Dilma. Daí os 35% dela na pesquisa espontânea.

Uma série de anúncios televisivos com apelo popular, como corte de impostos da cesta básica e das tarifas de energia (a nuvem de palavras com a cara de Dilma que ilustra este texto reproduz o discurso presidencial), criou um clima de opinião favorável à presidente.
Tanto faz a oposição chamar de populismo. As medidas miraram e acertaram no lugar certo: o bolso da maioria. Consumidor feliz, eleitor contente.

Como resultado, Dilma não só desceu ao patamar de desprezíveis 20% de rejeição, como transfere rejeição para os outros. É difícil crer que 1 a cada 3 brasileiros diga que não votaria de jeito nenhum em Eduardo Campos (PSB) para presidente quando o governador é desconhecido por 1 a cada 2 eleitores. Metade da rejeição a Campos são dilmistas rejeitando quem quer que seja.

Se Eduardo Campos aparecer sozinho na Praça da Sé, na Cinelândia ou até no Pelourinho, corre mais risco de ser assaltado do que assediado. O único lugar onde é reconhecido em São Paulo, Rio e Salvador é nos escritórios de grandes empresários. Pode vir a ser bom para o caixa da campanha, mas não dá voto.

Aécio está um degrau adiante. Compartilha a mesma taxa de rejeição, mas tem um potencial de voto duas vezes e meia maior que Campos. Ao contrário do presidente do PSB, porém, o mineiro não comanda seu partido. Para sua sorte, o Ibope confirmou que José Serra, com 50% de rejeição, é virtualmente inelegível.

Aécio e Campos se complementam eleitoralmente. Concorrendo um contra o outro, mas juntos contra Dilma, diminuem a vantagem da presidente. Mas eles precisam de mais nomes na cédula eletrônica para haver chance de segundo turno. Daí a importância de Marina Silva. A ex-petista divide a preferência de 4 a cada 10 eleitores potenciais de Dilma. É, hoje, quem mais pode tirar votos da presidente. Só lhe falta um partido.

Até 2014, a oposição tem que correr, se multiplicar e torcer para que, desta vez, Mantega acerte sua previsão sobre o PIB.

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