Se havia alguma chance remota de PT e PMDB se juntarem em palanque único no Rio de Janeiro em nome da unidade em torno da reeleição da presidente Dilma Rousseff, esta hipótese ficou definitivamente afastada no último fim de semana.
O pré-candidato do PT, senador Lindbergh Farias, se declara oficialmente em oposição ao governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, por causa da publicação na revista Época de uma denúncia de que teria montado esquema de corrupção quando prefeito de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense). A revista deixou claro que a denúncia foi entregue pelo PMDB.
O petista reagiu de imediato postando na internet um vídeo em que chama o grupo de Cabral de "corja de patrimonialistas", entre outras delicadezas. Ficou possesso, é verdade, mas de certa forma se diz agradecido ao governador (Cabral negou a autoria em nota, mas Lindberg não acreditou).
"Até agora eu tinha um grande problema na minha candidatura: não podia atacar o governador devido às relações dele com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. Havia uma espécie de acordo de não agressão. Como ele resolveu declarar guerra já no primeiro capítulo do livro, estou liberado para fazer oposição", diz o senador, que prevê clima de radicalização total.
Mas, vamos à questão central: oposição em que termos?
"Não vou entrar no jogo sujo de dossiês, vou demarcar terreno na política, mostrar ao eleitorado que, se o PMDB conseguiu avanços para o Rio devido à parceria com o governo federal, nós do PT somos muito mais parceiros e podemos fazer em relação aos mais pobres, como Lula fez no Brasil."
Lindbergh já tem os números preparados para mostrar que no governo atual houve concentração de investimentos nas regiões mais nobres (zona sul e Barra) e descaso em relação às regiões que não compõem o cartão postal do Rio como cidade maravilhosa.
Na visão do petista, o PMDB está sendo autoritário e desleal no Rio. Autoritário porque não admite concorrência, quer construir uma "super-hegemonia", obrigando os adversários a viverem eternamente a reboque do partido (isso Lindbergh não diz, mas é o mesmo que o PT faz no plano nacional).
A deslealdade, segundo ele, estaria não só na utilização de dossiês, mas também em outros dois pontos: a ameaça de não apoiar a reeleição de Dilma se o PT nacional não intervier para a retirada da candidatura e a tentativa de reabrir julgamento de contas já aprovadas da gestão de Lindbergh em Nova Iguaçu.
"Que relação é essa? Se começam assim, é porque o plano é nos aniquilar."
Partindo desse princípio, o senador acha que o PMDB não recua da candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão e que não há possibilidade de intervenção por parte do PT. "Não desisto nem se Lula e Dilma pedirem, até porque não pedirão, pois sabem que a resposta será negativa."
Atritos à parte, o PT não desiste principalmente porque tem chance de ganhar. No momento, as pesquisas indicam Lindbergh em primeiro lugar (28%), o deputado Anthony Garotinho em segundo (21%) e Pezão em terceiro (10%).
Muito bem, e a parceria nacional entre os dois partidos como fica?
"Da minha parte, inabalada. Na reeleição de Lula no Rio ele chegou a fazer um comício de tarde para um candidato e de noite para outro."
O senador avisa que não vai pedir à presidente nem a Lula exclusividade no apoio e também que não acredita na ameaça do PMDB de romper com o Planalto por causa de uma eleição estadual.
"Se romper, melhor ainda, fico sozinho com Dilma aqui no Rio e aí é que eles perdem mesmo."
Toda eleição tem uma disputa regional que chama mais atenção. Em 2012 aconteceu em São Paulo e Recife. Em 2014, o Rio aparece como forte candidato a produzir grandes emoções.
26 de março de 2013
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
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