"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 22 de março de 2013

DESEMBARGADOR TOURINHO NETO: UMA VEZ MAIS, UMA EXCEÇÃO. POR POUCO TEMPO.

 

O desembargador federal Tourinho Neto é provavelmente o, digamos, mais polêmico integrante dos tribunais superiores — ele é membro do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, com sede em Brasília e jurisdição sobre vários outros Estados, como Goiás e a Bahia.

Só nos processos contra o malfeitor Carlinhos Cachoeira, pivô de escândalos de corrupção envolvendo uma fileira de políticos, Tourinho Neto tomou sucessivas decisões favorecendo a defesa do réu que foram criticadas por colegas e, na maioria dos casos, revistas.

Agora, na reunião do Conselho Nacional de Justiça de ontem, dia 19, na qual o ministro Joaquim Barbosa apontou e condenou a existência de “conluio” entre advogados e magistrados no Brasil, Tourinho — integrante do CNJ –, fez, entre outras, as seguintes declarações:

“Juiz não pode ter amizade nenhuma com advogado? Isso é uma excrescência (…). Fui juiz do interior da Bahia, tomava uísque na casa de um, tomava cerveja na casa de outro, e isso nunca me influenciou”.

Poder-se-ia dizer, como de fato é, que a juízes, como à mulher de César da famosa história, não basta ser correto e imparcial. É preciso PARECER correto e imparcial.

Bem, não se disse isso ao ilustríssimo doutor desembargador.


Desembargador Tourinho Neto

O fato é que a 165ª sessão ordinária do CNJ examinou os casos que deveria examinar, e, num processo administrativo-disciplinar sobre a atuação do juiz de Direito João Borges de Sousa Filho, da comarca de Picos (PI), o relator foi Tourinho Neto.

Ele examinou as diversas e graves irregularidades apontadas na atuação do juiz e, no final, propôs a pena: advertência.

Foi voto vencido, o único dos 15 integrantes do CNJ que não decidiu que a atuação do magistrado era “incompatível com seus deveres funcionais” e determinou sua aposentadoria compulsória. Sem prejuízo de processos criminais a serem movidos pelo Ministério Público.

Tourinho deixará de ser polêmico — ou, pelo menos, suas posições polêmicas deixarão de ter qualquer importância — dentro de exatos, precisos 27 dias. Na data de 17 de abril próximo, ao completar 70 anos de idade, o desembargador atingirá o limite de idade para permanecer no serviço público e vestirá o pijama de aposentado.

22 de março de 2013
Ricardo Setti

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