Amigas e amigos do blog, aproveitando que bandidos perigosos de São Paulo e de Santa Catarina, promotores de ondas criminosas e de matanças, estão sendo transferidos para penitenciárias federais (nas quais, infelizmente, especialistas constatam defeitos de segurança), queria apresentar a vocês o que é uma cadeia pra valer para chefões criminosos — nos Estados Unidos.
No Brasil, a única penitenciária de segurança máxima que pode ser assim considerada – se levarmos em conta seu índice de fuga, que é de 0% em 11 anos de existência - é o Centro de Readaptação Penitenciária em Presidente Bernardes, a 580 quilômetros de São Paulo.
Fora o CRP, as demais prisões brasileiras consideradas “de segurança máxima” são alvos de frequentes motins e servem de centro de operações para criminosos, inclusive as federais. (Recentemente, mostrei uma delas, a 50 quilômetros de Porto Velho, em Rondônia, aparentemente isolada do mundo pela floresta amazônica. Mas ela fica à margem de uma rodovia federal, localização inteiramente inadequada para configurar “segurança máxima”.)
Uma realidade absurda e desmoralizante, como mencionei em post do dia 21 de fevereiro, citando rebelião ocorrida na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG).
Segurança máxima para valer – e polêmica
Não se trata, definitivamente, do caso da cadeia dura, duríssima, que é a Administrative Maximum Facility (ADX) de Florence, no Estado americano do Colorado.
Inaugurada em 1994, é a única penitenciária de segurança máxima pertencente ao Federal Bureau of Prisons, subdivisão do Departamento de Justiça Americano responsável pelo sistema carcerário, e figura entre os destinos mais temidos pela bandidagem.
Seu apelido, “A Alcatraz das Rockies”, faz referência a Alcatraz, a lendária prisão situada em ilha de mesmo nome próxima a San Francisco, operante entre1934 e 1963, e as Montanhas Rochosas, que cruzam o Colorado.
Ao contrário do que ocorre na maioria dos centros de “segurança máxima” brasileiros, a vida dos quase 500 detentos de Florence, que se distribuem em seis andares de um edifício de 36 mil metros quadrados, é… como se imagina seja uma cadeia de segurança máxima, sem aspas.
É dura a ponto de gerar protestos de entidades como a Corte Europeia dos Direitos Humanos, e também uma ação judicial conjunta de 11 internos aberta no ano passado, na qual responsabilizavam o presídio por agressões e negligência a presos portadores de doença mental.
Só cinco horas por semana fora da cela
Em Florence, os presidiários passam dois dias completos por semana sem sair de suas diminutas celas, nas quais há uma cama e uma escrivaninha, ambas de concreto. Não há peças soltas nos banheiros. Nas outras cinco jornadas, têm apenas uma hora para exercitar-se em uma espécie de cela maior, semelhante a uma piscina vazia.
Nada de pátio, nada de contato com outros “moradores”. O contato, rarefeito, com parentes — como também com advogados — é feito tendo uma parede de vidro blindado entre os interlocutores, que falam por telefone. Não é permitido aos detentos nem sequer saber em que ala do presídio estão, já que as celas com portas de aço possuem apenas uma janela estreita posicionada para o céu. Vigiando a tudo e a todos estão centenas de câmeras e sensores de movimentos. Detectores de metais e um complexo sistema de acesso aos visitantes — em conta-gotas — tornam impensável o contrabando de celulares.
Ali, em 19 anos, nunca houve uma fuga, nem qualquer tentativa de rebelião.
Terroristas famosos e outros criminosos de peso
Tanta precaução para manter zeradas as estatísticas de rebeliões e fugas na ADX de Florence pode ser explicada na lista de chamada de seus habitantes.
Para lá só vai a mais alta classe de bandidos, de capos de cartéis de drogas a comandantes de nefastas seitas neonazistas assassinas, além de presos com histórico de comportamento extremamente violento em outras cadeias.
Mas esta supermax – expressão americana para designar os presídios de segurança máxima – se especializou em manter trancafiados terroristas conhecidos mundialmente. Há em seu interior, inclusive, o que é informalmente chamado de ala dos bombers, em alusão a multiassassinos cujo método de chacina era a explosão de bombas.
Entre os mais notórios, ambos cumprindo sentenças perpétuas, encontra-se o americano , culpado de nada menos que 16 ataques com carta-bomba e responsável pela morte de três pessoas e ferido outras 23; e o francês Zacarias Moussaoui, participante da conspiração dos ataques de 11 de Setembro.
Moussaoui é apenas um dos membros da Al-Qaeda detidos em Florence. Há cerca de outros 20 com ligação à organização terrorista jihadista.
Outro assassino em massa de grande fama, o americano Timothy McVeigh, autor do terrível atentado de Oklahoma City, que matou 168 pessoas e feriu mais de 800 em 19 de abril de 1995, viveu ali antes de ser transferido e executado (fora condenado à pena de morte em 1997 e, depois de uma batalha de recursos e apelos, recebeu a injeção letal em 2011, numa prisão em Indiana).
22 de março de 2013
Ricardo Setti - Veja Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário