Se a história do Brasil moderno ensina alguma coisa é que a eficiência administrativa nunca foi o objetivo primordial de nenhuma reforma ministerial. Num moto-contínuo que empobrece até a rima, os presidentes nomeiam os ministros mais convenientes, não os mais eficientes.
A nova reforma ministerial de Dilma Rousseff, a penúltima, ficará como um marco na involução do seu primeiro mandato. Livre de todos os pruridos de consciência, a presidente ajusta sua equipe para formar não um gabinete dos que considera melhores, mas dos que acha politicamente mais rentáveis.
A maioria da plateia vê a movimentação de Dilma como algo normal. Ela apenas ajusta-se à tradição. Ao compor o gabinete da reeleição, faz o que todos os outros fizeram: chama fisiologismo de pragmatismo. Tudo verdade. Mas são justamente essas evidências que permitem concluir: Dilma pulou o corguinho.
Ao tomar posse, ela nomeara o gabinete herdado de Lula. Na pseudofaxina de 2011, simulara autonomia. Agora, Dilma assume perante a nação: a exemplo dos antecessores, trabalha com um gabinete de reféns. Os ministros serão ministros enquanto seus partidos estiverem associados ao projeto de poder do PT.
É tudo muito explícito. O PMDB de Minas exigia uma pasta, sob pena de aliar-se ao tucano Aécio Neves. Queria os Transportes. Na bacia das almas, levou a Agricultura, que já era do PMDB. Jura que esquecerá Aécio. Melhor: compromete-se a apoiar o petista Fernando Pimentel para o governo de Minas.
Dilma já não faz a sua hora. Ela adota o estilo Zeca ‘Deixa a Vida me Levar’ Pagodinho. No alvorecer do governo, o PMDB atravessou na mesa o nome de Moreira Franco. A presidente torceu o nariz. Temer insistiu. Dilma cedeu, mas empurrou o indicado para a decorativa poltrona dos Assuntos Especiais.
Súbito, Moreira passa da condição de organizador de seminários à de ministro-chefe dos negócios da Secretaria de Aviação Civil. Ex-governador do Rio, o promovido pode dar conta do recado. Mas a interrogação é outra: o que Dilma vê hoje em Moreira que não via em janeiro de 2011?
Varrido do Trabalho, Carlos Lupi foi trocado por Brizola Neto –escolha pessoal de Dilma, dizia-se em dezembro de 2011, para realçar a ‘independência’ da faxineira.
De repente, o neto de Brizola vai ao meio-fio. E Lupi volta a dar as cartas, terceirizando o ministério a Manoel Dias, um deputado que é seu chegado.
Por quê? Ora, para tentar evitar que Lupi enfie o PDT na caravana do oposicionista Aécio ou, pior, na canoa pós-governista de Eduardo Campos.
Eis um resumo da cena: nos primeiros dois anos, Dilma acreditava que presidia o ministério. No biênio final, ela começa a se dar conta de que é presidida pelo gabinete. Dilma ainda imagina que está nomeando reféns. Logo descobrirá que está se deixando sequestrar. Faz isso sem nenhuma garantia de que o resgate será pago.
Aos mais incomodados, a história informa: a julgar pelos acordos que PSDB e PSB negociam com outras legendas, seja qual for o próximo presidente –Dilma ou qualquer outro— a desfaçatez tende a se perpetuar.
16 de março de 2013
Josias de Souza
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