Notícias Faltantes - Foro de São Paulo
Hugo Chávez incitou o ódio de classes, polarizou a sociedade e a deixou dividida, insultou uns e outros, arremeteu contra a Igreja, encarcerou inocentes e opositores, governou para poucos e não para todos, popularizou a vulgaridade e a grosseria, a corrupção, se fez rico e enriqueceu a “boliburguesia”.
Fede a enxofre. Foi-se o militarote, o tenente-coronel que posava de comandante.
Chávez foi nefasto para a Colômbia. Com o Tenente-Coronel o comércio despencou. De 7 bilhões de dólares em exportações ao país vizinho, em 2012 apenas se chegou a algo mais de 1.500.
O histriônico em uma raivinha fechou a fronteira e impulsionou todo tipo de travas aos produtos colombianos. Perdemos um mercado natural, o mais óbvio entre os possíveis. Congelaram o pagamento do exportado por nossos empresários e a alguns nunca lhes pagaram. Várias companhias colombianas foram expropriadas na Venezuela, sem indenização. Quantos empregos colombianos se perderam por causa de Chávez? Quantos empresários quebraram?
Porém, se em economia foi mal, em segurança foi pior.
Chávez deu discurso ideológico à guerrilha, animou-a em sua luta, deu-lhe refúgio e apoio logístico, em algum momento pretendeu dar-lhe caráter de força beligerante. Sem Chávez, há tempo teríamos conseguido a paz na Colômbia. Protegidos na Venezuela na zona de fronteira e no Forte Tiuna, o mais importante quartel militar venezuelano, os máximos chefes guerrilheiros se fizeram intocáveis. Ainda hoje são, embora Márquez esteja agora em Cuba.
Desde a Venezuela mandam, planejam, comunicam-se sem risco algum. Com Chávez, a Venezuela foi o safe land sonhado por qualquer insurgente.
Semelhante vantagem estratégica neutralizou os efeitos da ofensiva militar colombiana. E significou para nós muitos mortos e feridos. E muito dinheiro para manter o esforço militar, dinheiro que se deveria ter investido na luta contra a pobreza, em superar a desigualdade, em construir a infra-estrutura indispensável para alcançar a modernidade.
Para rematar, a consolidação dos cartéis “dos sóis” [1] (entre os militares) e dos “delegados” (entre a Polícia), e o relaxamento total dos controles na luta contra o narco-tráfico, converteu a Venezuela no lugar de trânsito perfeito. Os vôos ilegais que saíam da Colômbia saem hoje, quase todos, desde o território vizinho.
A tarefa colombiana na luta contra o narcotráfico se ressente pelas vantagens que os narcotraficantes encontram no país patriota. Quantas vidas Chávez nos custou? Quantas famílias colombianas têm chorado seus mortos, seus mutilados, seus feridos, por conta de seu apoio à guerrilha?
O legado político de Chávez também fede a podre.
O Tenente-Coronel foi golpista, desmantelou o regime democrático, acabou com a separação de poderes e o sistema de freios e contrapesos, perseguiu seus opositores e a imprensa, pôs a serviço de suas campanhas o aparato burocrático e os fundos públicos. Como bem diz o El País da Espanha, a Venezuela é hoje “um regime autocrático travestido de democracia”.
Por trás dele, seus emuladores fazem o mesmo, apagando de uma só tacada os avanços democráticos que se conseguiram na América Latina nos anos noventa.
Apoiou ditaduras a granel, desde Cuba até a Coréia do Norte, sem se importar com a crueldade do tirano. Acabou com o pouco que restava da OEA e criou organismos que não procuram senão defender os governos que os constituem. Interveio descaradamente nos assuntos internos de outros países, começando pelo nosso, financiou candidatos a presidentes, meteu a mão de maneira descarada para sustentar Ortega, Cristina, Evo e Zelaya.
Incitou o ódio de classes, polarizou a sociedade e a deixou dividida, insultou uns e outros, arremeteu contra a Igreja, encarcerou inocentes e opositores, governou para poucos e não para todos, popularizou a vulgaridade e a grosseria, a corrupção, se fez rico e enriqueceu a “boliburguesia”, acabou com o pouco que havia da indústria nacional, desmantelou a PDVSA e a tornou caixa menor do governo, dilapidou 800 bilhões de dólares de ingressos extraordinários petroleiros, afundou a economia no caos.
Agora o embalsamam, como a Lenin, a Stalin, a Mao, a Hoxa, a Kim Il Sung. Que Deus tenha sido misericordioso, porque se trata-se de merecimentos, deveria arder no inferno, entre os de sua condição.
Notas da tradutora:
[1] Diferente da maioria dos países que utilizam estrelas, na Venezuela os graus militares são marcados por um sol. O “Cartel dos Sóis” refere-se à máfia dos militares de alto grau do Exército Venezuelano, sobretudo coronéis e generais.
[2] O título deste artigo deve referir-se a uma infeliz citação do próprio Chávez que, durante uma das Assembléias da OEA se pronunciou logo depois do ex-presidente George W. Bush, e suas primeiras palavras foram que o ambiente “fedia a enxofre”. Como era sabido, Chávez referia-se ao Presidente Bush como “mister danger” ou “el diablo”. O vídeo com tais declarações causaram escândalo e percorreram o mundo.
16 de março de 2013
Rafael Nieto Loaiza
Tradução: Graça Salgueiro
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