Quase sem merecer registro nos jornais, o Orçamento Geral da União foi aprovado anteontem no Senado Federal, como sempre sem que nenhum dos “nossos representantes” tomasse conhecimento ou discutisse qualquer dos números que continha.
Os três meses de atraso da votação deveram-se ao fato da peça orçamentária se ter constituído, desta vez, no pivô das chantagens de deputados e senadores cúpidos que passaram todo este início de ano salivando em público em cima de um suposto tesouro ainda enterrado a oito quilômetros abaixo do oceano com que don Lula I andou excitando o apetite desses predadores.
É caso para se pensar.
A democracia moderna nasceu justamente como função da longa luta do Parlamento inglês para tirar do rei o poder de usar o dinheiro alheio como bem lhe aprouvesse e entregar ao povo e seus representantes a atribuição de determinar, tostão por tostão, como e aonde deve ser investido o que é da coletividade.
Por isso, até hoje, é essa a principal função dos Parlamentos civilizados.
A obra democrática consolidou-se quando, depois de arrancar do rei o controle sobre o dinheiro que não é dele, tratou-se de submetê-lo, e a todo o resto dos mortais, a uma única e mesma lei.
No país dos foros e das prisões especiais, a mais alta das quais fica invariavelmente vazia, não existe nem uma coisa nem a outra.
Não demos ainda nem o primeiro comezinho passo fundador de uma democracia. Tudo que temos por aqui que faz lembrar uma, a começar pela própria “Independência”, foi-nos outorgado pelo rei.
Continua sendo assim.
Aquilo que tomamos, por aqui, como os grandes divisores de águas “ideológicos”; toda a discussão política brasileira gira em torno da momentosa questão de saber se quem chegou à posição de fazê-lo a cada trecho de nossa história pelos tortuosos caminhos do conluio, do conchavo e da corrupção, está outorgando a seus súditos, em sua onipotência, “a coisa certa” ou “a coisa errada”.
A estes, definida cada sucessão, só cabe torcer pelo menos mal…
O Brasil ainda está por fazer a sua revolução fundadora, que será aquela que finalmente nos libertará da herança maldita de don João VI e seus 15 mil ávidos puxa-sacos que invadiram o país pelo Rio de Janeiro ha pouco mais de 200 anos para iniciar a mãe de todos os saques, que ainda não acabou.
Ela acontecerá quando o país for realmente unificado e emancipado pela educação e começará por uma revisão crítica de sua história.
Só então encontraremos uma identidade nacional para colocar no lugar disto que se parece com ela hoje, mas é só uma visão bandalha da vida que, como tudo o mais, vem nos sendo impingido por uma elite doente através da televisão.
16 de março de 2013
vespeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário