Fez bem a presidente Dilma Rousseff em explicar sua fala sobre discordar de “políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico”, pois o “dilmês” quase sempre mais confunde do que esclarece.
Reafirmar, em nota, que “o combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente” do seu governo sinaliza ao mercado financeiro internacional a intenção de manter a inflação sob controle, o que não descarta o aumento da taxa de juros, justamente o contrário da expectativa que a primeira fala da presidente gerou no mercado.
As taxas de juros tiveram a queda acentuada no mercado futuro na crença de que a presidente havia, talvez por ato falho, explicitado uma política que parece clara a todos: um pouco mais de inflação não faz mal desde que haja crescimento. A acusação de que sua fala fora “manipulada” pela imprensa repete mais do mesmo, ou seja, culpar o mensageiro pela mensagem que repercutiu mal no mercado internacional.
Os jornais mais importantes do mundo, como o “New York Times” e o “Financial Time”, vêm publicando nos últimos dias diversas reportagens sobre as dificuldades da economia brasileira, focando especialmente a alta da inflação e a crise da Petrobras, um ícone da pujança da economia brasileira, especialmente depois da descoberta do pré-sal.
Os problemas da estatal brasileira são tidos pelo mercado financeiro como exemplares das dificuldades por que passa a nossa economia.
Há a sensação generalizada de que o país vive um ambiente crescentemente complexo de inflação alta e reprimida, com uma economia que ainda dá sinais tênues de recuperação, conforme a definição de um relatório de fundo de investimentos estrangeiro.
O problema criado pela fala da presidente, que depois precisou ser retificada no seu sentido, é que o mercado financeiro está se convencendo de que o Banco Central não tem autonomia para aumentar a taxa de juros a fim de combater a inflação.
Os números indicam que a taxa de inflação está sendo segura pelo controle dos preços administrados pelo governo, que estariam com uma inflação de 1,6% devido à ação de retardar aumentos da gasolina ou de transporte público.
Se os preços administrados estivessem com uma inflação dentro da meta de 4,5%, a inflação anual já estaria na faixa de 7,15%, que seria, segundo alguns analistas, um índice mais próximo da realidade atual.
A antecipação da campanha eleitoral para presidente também chamou a atenção dos analistas, que consideram que a presidente Dilma deixará para depois da sua provável reeleição uma ação mais forte de combate à inflação, o que faria com que este ano e o da eleição, em 2014, tivessem maiores riscos de perda do controle da inflação devido a medidas populistas que serão tomadas no período. Afinal, como a própria Dilma já disse, faz-se “o diabo” para vencer uma eleição.
Foi necessário ontem que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, viesse a público assumir uma postura até mesmo de enfrentamento em relação ao Ministério da Fazenda — coisa que não é de seu estilo — para garantir que o BC tem ampla autoridade para agir em caso de necessidade.
Há no mercado financeiro a desconfiança de que o Banco Central apenas ganha tempo com declarações como as do último boletim oficial, dando a sensação de que pode aumentar os juros brevemente, para permitir que o governo mantenha uma política econômica mais solta de amarras a fim de aumentar a taxa de crescimento do PIB neste terceiro ano de governo Dilma.
O fato é que declaração que precisa ser explicada por uma nota oficial não ajuda o ambiente econômico, que necessita investimentos pesados para voltar a crescer.
28 de março de 2013
Merval Pereira, O Globo
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