Convencionou-se que o que falta à oposição ou a qualquer pessoa que venha a disputar o poder central com o governo do PT é "discurso".
Nesta concepção, a carência seria de mensagem. Não se leva em conta a força dos meios, como se não fossem estes que assegurassem o sucesso daquela junto ao público votante.
O governo tem tudo, sempre. De um para outro varia apenas o grau de pudor ou despudor em se utilizar do espaço em jornais, revistas, rádio, internet; dinheiro a rodo, diário oficial, cadeia nacional à disposição do freguês, poder de distribuir, ferramentas para fazer e desfazer "o diabo".
Sejamos francos: não foi falta de discurso, mas erro de estratégia o que levou o PSDB a não emplacar seu terceiro período na Presidência da República.
Da mesma forma não se pode dizer que a estabilidade da moeda tenha sido um "discurso" que elegeu Fernando Henrique Cardoso. O Plano Real foi fruto de uma decisão de governo que tinha o poder real e legal para executá-lo.
Na época, 1994, o PT tinha o "discurso" da denúncia de que o plano era meramente eleitoreiro, uma repetição do Cruzado. Mas, quem tinha os instrumentos que acabaram por desmentir os argumentos era o governo. No caso, Itamar Franco, de quem FH era sustentáculo político e ministro da Economia.
Sejamos claros: o "discurso" de Fernando Collor não teria ido a lugar algum não fosse o fracasso fragoroso do Plano Cruzado, a inflação nos píncaros, a popularidade do então presidente nas profundezas e, consequentemente, a desistência de José Sarney de tentar eleger sucessor de sua preferência.
Acabou sendo eleito aquele que o chamava de "batedor da carteira da História" e depois viria a se tornar um disciplinado bajulador de Sarney na presidência do Senado.
Palavrório, todo mundo tem. A questão é saber quem desperta a esperança no melhor "fazetório", quem representa expectativa de mais bem-estar. Em contrapartida depende também de o governo em curso ser ou não alvo de desesperança e desconforto.
Discurso, em verdade, é o de menos. O senador Aécio Neves relata o processo de destruição das relações entre União, Estados e municípios, o chamado pacto federativo; bate na tecla do desmonte da Petrobrás; aponta o descalabro na infraestrutura; denuncia o aparelhamento da administração pública.
Eduardo Campos, em outro tom, fala de tudo isso, ressalta os feitos dos governos petistas e diz que pode fazer "mais e melhor". Até slogan já tem.
Mensagem não falta e com ela se pode até conquistar prefeitos e governadores, mas seduzir o eleitorado é outra história. Depende muito mais do crédito no dia de amanhã a ser garantido por quem está no poder do que na aposta do certo pelo duvidoso baseada apenas no discurso.
Serve para encontros com empresários e políticos, mas não necessariamente vale para despertar subjetividades suficientes para eleger um presidente.
Não sobra um. Doação eleitoral crime inafiançável? Foi o que propôs o ex-presidente Lula em debate no jornal Valor Econômico, ao defender o financiamento público de campanha.
O sistema carcerário não suportaria a demanda. Não fosse apenas uma tolice, a proposta poderia soar como um exagero proposital de quem tem culpa registrada nesse cartório - o mercado do caixa 2.
Este sim, é que mereceria mais rigor de legisladores, magistrados, governantes e partidos.
O financiamento público, além de já existir na forma de recursos ao fundo partidário e renúncia fiscal às emissoras pela transmissão do horário eleitoral, não reduz a busca por mais recursos nem elimina a disposição dos doadores de agradar a futuras autoridades com poder de defender seus interesses.
28 de março de 2013
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
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