"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 28 de abril de 2013

"BRASIL, COLÔNIA DA CHINA"

Industriais, incomodados com uma concorrência desleal, demonstram que não há uma real parceria

Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia e professor do Ibmec, fez a seguinte comparação em artigo recente: "O comércio com a China aumentou dez vezes na última década. Mas tal expansão foi impulsionada principalmente pelo crescimento dramático da China e seu resultante apetite voraz por commodities minerais e agrícolas em que o Brasil tem vantagens comparativas.
 
O resultado? Uma tonelada de exportações brasileiras para a China vale cerca de US$ 200. Uma tonelada de exportações chinesas para o Brasil vale mais do que US$ 2 mil. Isso dificilmente poderia ser chamado de parceria".

Tem razão. É muito mais uma relação colonial, o que causa tremendo incômodo à indústria brasileira, até porque 63% dos exportadores queixam-se à CNI (Confederação Nacional da Indústria) de prejuízos com a concorrência chinesa.

Natural, portanto, que a entidade decidisse encomendar um estudo sobre a política industrial chinesa ao escritório King & Spalding, que habitualmente presta consultoria aos governos norte-americano e mexicano quando o assunto é China.

As conclusões põem números nessa relação de tipo colonial. São dados relativamente conhecidos, mas apresentados em conjunto impressionam muito. Cito apenas dois de uma vasta coleção:

O Brasil exporta para a China apenas 7,6% de produtos considerados de alta tecnologia, mas importa 41,4% nessa rubrica.

Já em commodities primárias (produtos típicos de colônia), as exportações brasileiras saltam para 31,6%, enquanto os chineses vendem ao Brasil só 1,6% nessa área.

Conclusão inescapável do relatório: "Esse padrão levou à preocupação no Brasil e em outros países de que a predominância da China nas manufaturas pode levar à desindustrialização em seus parceiros comerciais".

É uma situação que incomoda também o governo tanto que, na agenda de sua visita à China, já faz dois anos, Dilma Rousseff reivindicou uma mudança na qualidade do comércio.

Passados dois anos, o relatório divulgado agora pela CNI demonstra que a reivindicação não produziu mudança alguma.

Nem vai haver mudança, prevê o documento: "Apesar da adoção de políticas orientadas pelo mercado, no fim dos anos 70, o governo da China continua, em todos os níveis, a exercer substancial influência sobre o setor industrial. Os subsídios para indústrias são substanciais, e essa subsidiação tem provavelmente causado danos às indústrias brasileiras concorrentes tanto no mercado doméstico como nos de exportação".

O escritório recomenda que o Brasil recorra à Organização Mundial de Comércio para propor "ações apropriadas", em vista do que leva todo o jeito de ser concorrência desleal, já que a indústria brasileira está, na verdade, competindo com o portentoso Tesouro chinês, não apenas com as suas congêneres.

Resta ver se o governo Dilma terá a coragem de peitar a China para tentar reconduzir a relação para a parceria, em vez de um neocolonialismo.

28 de abril de 2013
Clovis Rossi, Folha de São Paulo

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