"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 22 de abril de 2013

O DILEMA DE DILMA

 

A presidente Dilma Rousseff finalmente percebeu que anunciar sua aversão a esforços anti-inflacionários abala a credibilidade institucional do Ministério da Fazenda e do Banco Central, descredenciando também a reputação pessoal de seus titulares.

Dilma alegou, então, um mal-entendido, que atribuiu a uma distorção de suas palavras pela mídia. O BC estava agora autorizado a dar sinal de vida. O que ocorreu na semana passada, quando aumentou a taxa de juros em 0,25% ao ano, quase pedindo desculpas por uma elevação pequena e tardia.

A verdade é que o plano de combate à inflação ascendente estava reduzido à política de desoneração de impostos conduzida pela Fazenda. Seus efeitos são apenas transitórios, limitando-se a amortecer as altas de preço registradas pelos índices. A inflação acaba de furar o teto oficial da meta, estabelecido em 6,5% anuais, mas sem as desonerações dos impostos os preços estariam subindo acima dos 7% ao ano.

 

O BC está atrasado em sua batalha contra as expectativas inflacionárias adversas. Segue indeciso pela falta de uma clara definição de seu mandato. Dividido entre manter o estímulo ao crescimento da economia com juros mais baixos ou tentar reverter a escalada inflacionária pela elevação dos juros, a tartaruga não consegue alcançar duas lebres ao mesmo tempo.

Sofremos também da crônica falta de coordenação entre as políticas fiscal e monetária. Foi exatamente essa incapacidade de promover a mudança do regime fiscal a maior falha genética de todos os nossos programas de estabilização, inclusive o celebrado Plano Real.

Com uma trajetória de maior controle sobre os gastos públicos ao longo das duas últimas décadas, teríamos mantido a estabilidade de preços sem os juros astronômicos, o câmbio sobrevalorizado e os excessivos impostos que derrubaram nossos investimentos, nossa competitividade nos mercados globais e nosso ritmo de crescimento econômico.

Mas os gastos públicos não param de crescer, um atestado da falta de cooperação da Fazenda com o Banco Central. Sobem nos bons tempos por distributivismo, mas também nos maus tempos com políticas anticíclicas. Entre derrubar ainda mais o crescimento e permitir de vez a volta da inflação, se equilibra a candidatura de Dilma à reeleição.

22 de abril de 2013
Paulo Guedes é economista.

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