A presidente Dilma Rousseff finalmente percebeu que anunciar sua aversão a esforços anti-inflacionários abala a credibilidade institucional do Ministério da Fazenda e do Banco Central, descredenciando também a reputação pessoal de seus titulares.
Dilma alegou, então, um mal-entendido, que atribuiu a uma distorção de suas palavras pela mídia. O BC estava agora autorizado a dar sinal de vida. O que ocorreu na semana passada, quando aumentou a taxa de juros em 0,25% ao ano, quase pedindo desculpas por uma elevação pequena e tardia.
A verdade é que o plano de combate à inflação ascendente estava reduzido à política de desoneração de impostos conduzida pela Fazenda. Seus efeitos são apenas transitórios, limitando-se a amortecer as altas de preço registradas pelos índices. A inflação acaba de furar o teto oficial da meta, estabelecido em 6,5% anuais, mas sem as desonerações dos impostos os preços estariam subindo acima dos 7% ao ano.
O BC está atrasado em sua batalha contra as expectativas inflacionárias adversas. Segue indeciso pela falta de uma clara definição de seu mandato. Dividido entre manter o estímulo ao crescimento da economia com juros mais baixos ou tentar reverter a escalada inflacionária pela elevação dos juros, a tartaruga não consegue alcançar duas lebres ao mesmo tempo.
Sofremos também da crônica falta de coordenação entre as políticas fiscal e monetária. Foi exatamente essa incapacidade de promover a mudança do regime fiscal a maior falha genética de todos os nossos programas de estabilização, inclusive o celebrado Plano Real.
Com uma trajetória de maior controle sobre os gastos públicos ao longo das duas últimas décadas, teríamos mantido a estabilidade de preços sem os juros astronômicos, o câmbio sobrevalorizado e os excessivos impostos que derrubaram nossos investimentos, nossa competitividade nos mercados globais e nosso ritmo de crescimento econômico.
Mas os gastos públicos não param de crescer, um atestado da falta de cooperação da Fazenda com o Banco Central. Sobem nos bons tempos por distributivismo, mas também nos maus tempos com políticas anticíclicas. Entre derrubar ainda mais o crescimento e permitir de vez a volta da inflação, se equilibra a candidatura de Dilma à reeleição.
22 de abril de 2013
Paulo Guedes é economista.
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