"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 9 de abril de 2013

OS AMERICANOS VÃO DEVASTANDO O MUNDO ÁRABE SOB O SILÊNCIO OMISSO DE TODOS NÓS

 


E então leio, neste final de domingo: “Doze civis morreram no sábado, durante um ataque aéreo das forças comandadas pelos americanos numa aldeia do distrito de Shigal, província de Kunar, junto à fronteira com o Paquistão. Segundo a Reuters, os mortos são 11 crianças e uma mulher. Seis outras mulheres ficaram feridas.”

Vejo a foto e fico em dúvida sobre se a publico. Decido que sim: o mundo tem que ver isso. Tem que se indignar.

Elas não vão acordar
As ciranças não vão acordar…

Até quando vamos suportar isso? Já pensaram se fossem crianças americanas? É uma rotina, lamentavelmente.

Vou contar uma história. Em dezembro de 2009, o jornalista iemenita Abdulelah Shaye foi a uma aldeia em seu país para investigar a morte de dezenas de pessoas num bombardeio. A alegação do governo do Iêmen era que se tratava de terroristas da Al-Qaeda, o grupo de bin Laden.

O que Shaye descobriu foi algo bem diferente. Crianças e mulheres tinham sido mortas, e não terroristas. Ele também encontrou destroços em que estava escrito “made in USA”. O Iêmen não tem as armas utilizadas no bombardeio.

Fora, na verdade, uma ação americana, não do Iêmen. E o meio foram os controvertidos drones, os aviões teleguiados que disparam mísseis sem que haja tripulação. Um dos documentos vazados pelo Wikileaks sobre as atividades da diplomacia americana mostrava que a Casa Branca combinara com o Iêmen que este assumiria a responsabilidade em caso de ataques como o da aldeia para a qual fora, como jornalista, Shaye.

Isso evitaria não só desgaste de imagem como a economia de dinheiro em indenizações por mortes de inocentes.

O furo de Shaye lhe valeu duas coisas. A primeira, aplausos entre os iemenistas, cansados de um governo corrupto, ditatorial e subserviente aos Estados Unidos. A segunda, a cadeia. O governo do Iêmen acusou-o de vínculos com a Al-Qaeda – sem provas — e o prendeu.

Os inocentes mortos no Iêmen – ou no Afeganistão, ou no Iraque – têm escasso valor, quando comparados aos inocentes mortos no Ocidente. São vítimas invisíveis, ignoradas no mundo — choradas apenas num canto que para nós, ocidentais, não é nada.

09 de abril de 2013
Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

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