"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 19 de abril de 2013

PETROBRAS: BRASIL SÓ VOLTARÁ A SER AUTOSSUFICIENTE EM PETRÓLEO EM 2020

Alta no consumo de derivados obriga empresa a importar combustíveis
 
 

Plataforma da estatal na Bacia de Campos: país perdeu no ano passado a autossuficiência que havia sido conquistada em 2006
Foto: Divulgação
Plataforma da estatal na Bacia de Campos: país perdeu no ano passado a autossuficiência que havia sido conquistada em 2006Divulgação

RIO E WASHINGTON - A propagada autossuficiência da Petrobras — e consequentemente do Brasil — deve ser alcançada apenas em 2020. Embora a estatal afirme que já no ano que vem a produção total de petróleo e derivados superará o consumo, a empresa continuará a importar combustíveis nos próximos anos, ficando, portanto, ainda dependente de produtos oriundos do mercado externo por algum tempo.

Na definição da Petrobras, a condição de autossuficiência significa que o país tem volume de petróleo produzido igual ou maior que o consumo de derivados. Sob esta ótica, a autossuficiência foi alcançada em 2006, mas perdida no ano passado diante do forte aumento do consumo de derivados nos últimos cinco anos, a um ritmo de 4,9% ao ano.

A própria Petrobras reconhece que o país nunca foi autossuficiente se for considerada apenas a produção de derivados — como óleo diesel, gasolina e querosene de aviação — em comparação ao consumo desses produtos.

Segundo a Petrobras, o país continuará importando derivados até que entrem em operação as novas refinarias previstas no Plano de Negócios e Gestão 2013-17, como o Comperj, em Itaboraí no Rio e a Abreu e Lima, em Pernambuco.

O especialista Adriano Pires destacou que nos últimos anos a produção tem crescido a taxas inferiores ao crescimento da demanda de derivados.

— É importante chamar a atenção para o fato de que desde 2009/2010 a produção de petróleo vem crescendo menos do que o consumo de derivados, o que já anunciava o fim da autossuficiência — disse Pires.

Nos planos da estatal, a produção chegará ao patamar de 4,2 milhões de barris de petróleo por dia em 2020, quando a produção de petróleo passará então a superar a produção de derivados. Na previsão da estatal, em 2020, ela terá uma capacidade de refino de 3,6 milhões de barris/dia e um consumo da ordem de 3,4 milhões de barris diários.

A companhia destaca que, neste ano, sete novas plataformas entrarão em operação, o que permitirá o aumento da produção. Até 2020, a Petrobras planeja colocar em operação 38 novas plataformas.

Shell de olho em ativos da estatal

Em Washington para participar de reuniões e promover o road show da 12ª Rodada de Licitações, voltada para áreas do pré-sal, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que a rodada ocorrerá em 28 e 29 de novembro e que as áreas serão conhecidas em junho.

O problema da distância das regiões produtoras em relação ao mercado consumidor, de acordo com Lobão, será resolvido com uma logística como a usada para o gás não convencional: não haveria gasodutos em todas as regiões.

— Priorizaríamos este gás para produção de energia elétrica, em térmicas próximas, onde haverá certamente linhas de transmissão de energia, já que o sistema todo é interligado — explicou.

De outro lado, o presidente da Shell Brasil, André Araújo, afirmou que a companhia tem interesse nos ativos da Petrobras no Golfo do México. Segundo ele, a área é estratégica para a companhia.

— O Golfo do México é uma das áreas mais estratégicas em águas profundas para a Shell. Por isso, temos interesse em negociar na área não só com a Petrobras mas com outros parceiros.

Peter Voser, presidente mundial da Royal Dutch Shell, lembrou ainda que a companhia tem interesse em outros ativos da estatal.

— A Petrobras está em remanejamento de carteira. A Shell vai ver quais ativos tem interesse. Mas isso vale para qualquer outra empresa ( e não só em relação à Petrobras) — disse Voser.

A companhia é sócia da Petrobras no Parque das Conchas, no Espírito Santo. Esse é um dos ativos, segundo fontes, que a Petrobras, com 35% de participação, quer vender.

19 de abril de 2013
RAMONA ORDOÑEZ, Bruno Rosa e Flávia Barbosa - O Globo

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