Aécio Neves eleva o tom das críticas ao governo e diz que Dilma e o PT se perderam num projeto autoritário de poder e empreguismo
por Mário Simas Filho e Delmo Moreira; fotos: Adriano Machado - IstoE
Um céu alvoroçado e cheio de cores envolve o prédio do Congresso Nacional na tela do pintor mineiro Carlos Bracher que está na parede atrás da mesa de Aécio Neves. Em seu gabinete no Anexo l do prédio do Senado Federal, Aécio encontra tempo para apreciar a pintura e relembrar encontros alegres com Bracher em Ouro Preto. Esses momentos amenos, contudo, podem se tornar cada mais raros, levando-se em conta a agenda do senador.
Aécio Neves vai assumir a presidência do PSDB e começa a botar na rua o bloco da campanha para 2014. Ele não se declara candidato enquanto não receber a indicação oficial do partido, o que só deve acontecer na virada do ano. Mas na entrevista que concedeu à ISTOÉ, durante pouco mais de duas horas, o senador traçou o perfil do novo PSDB que pretende construir e discutiu as ideias com as quais espera conquistar o eleitor brasileiro.
ISTOÉ – O que o sr. vai mudar no PSDB?
Aécio Neves – O PSDB deve renovar seu discurso e apresentar propostas novas para o País. Precisamos assumir o papel de principal alternativa ao que está aí, com uma proposta clara que nos diferencie do PT. O Brasil terá uma grande oportunidade de comparar propostas diferentes. Quando assumir a presidência do PSDB, meu papel será o de discutir uma agenda para os próximos 20 anos. E de mostrar que os modernos, os eficientes, os que prezam a democracia somos nós. O atraso, a ineficiência e o viés autoritário são a marca de nossos adversários.
ISTOÉ – Como isso vai ser feito?
Aécio – Como presidente do PSDB, quero correr o Brasil para, até o final do ano, ter essa proposta nova muito bem clara. Que ela mostre que apostamos na gestão eficiente e não no gigantismo da máquina pública. Que nós apostamos em uma política externa pragmática em favor dos interesses do Brasil e não no alinhamento ideológico atrasado que tanto prejuízo traz ao País. Que apostamos na refundação da Federação, com distribuição mais justa de recursos entre os Municípios e os Estados.
ISTOÉ – Essa será a base de seu programa como candidato à Presidência da República?
Aécio – Se o partido definir que serei o candidato, posso dizer que estou preparado para iniciar um tempo novo no Brasil. Vamos primeiro construir no PSDB o arcabouço para o candidato trabalhar. Vamos mostrar que podemos fazer muito melhor para o Brasil.
ISTOÉ – A presidenta Dilma Rousseff tem alto índice de aprovação. Isso não mostra que o País está satisfeito com o governo?
Aécio – Ainda vivemos uma sensação de bem-estar. Temos um nível de desemprego baixo, empregabilidade alta. Mas há uma bomba-relógio para explodir a qualquer momento. E o nosso papel é mostrar isso.
ISTOÉ – O que está errado?
Aécio – Acho que houve uma visão equivocada. O governo desenhou o crescimento da economia pela demanda, através do crédito, mas isso já está no limite. O calcanhar de aquiles estava na oferta. Temos uma péssima infraestrutura para escoar a produção, o custo Brasil é crescente e a produtividade, baixíssima. Tudo isso está levando a um quadro de incertezas, num momento em que precisaria haver o investimento privado para compensar a diminuição do consumo.
ISTOÉ – Esses temas terão repercussão eleitoral?
Aécio – O resultado eleitoral a população é que irá determinar. Ao contrário da presidenta, não me movo pela lógica eleitoral.
ISTOÉ – A presidenta provavelmente diz o mesmo...
Aécio – Infelizmente, a agenda das eleições está levando a presidenta a
buscar permanentemente medidas populistas, elevando o risco de entrarmos no ciclo vicioso da inflação e do crescimento econômico comprometido.
ISTOÉ – O sr. também não está pensando em eleição o tempo todo?
Aécio – Com muita responsabilidade. Não podemos deixar que a propaganda ufanista continue a contagiar as pessoas. O avanço do Brasil é uma construção tijolo a tijolo, feita por algumas gerações de homens públicos. Desde a estabilidade da moeda, com Itamar Franco, a implantação e consolidação do real, com Fernando Henrique e Lula. Mas agora não há uma agenda nova.
ISTOÉ – O sr. vê diferenças entre os governos Lula e Dilma?
Aécio – Há um sentimento crescente de cansaço com esse modelo que está no poder. Isso é perceptível em todo o País. Acho que o PT perdeu a capacidade de apresentar um projeto de governo e se contentou em ter um projeto de poder. O que move o governo Dilma é exclusivamente a agenda do poder. Quem administra o Brasil não é mais a presidenta Dilma, é a lógica da reeleição. O PT trocou a agenda das reformas para as quais foi eleito.
ISTOÉ – Qual é a nova agenda?
Aécio – A agenda do autoritarismo. É claro o viés autoritário nas inúmeras medidas patrocinadas pelo PT. Uma cerceia o poder de investigação do Ministério Público, outra cria uma instância revisora das decisões do STF. E tudo isso casado ainda com uma ação truculenta e casuística que inibe a criação de outras forças partidárias de oposição. Essas ações mostram o governo com enorme receio do enfrentamento político. Há também uma concentração excessiva de receitas nas mãos da União, fragilizando Estados e Municípios. Isso leva à ineficiência e a desvios permanentes.
ISTOÉ – O sr. diz que as reformas não andaram, mas isso é só culpa do governo?
Aécio – Não se fala mais em reforma política, que era o carro-chefe do segundo mandato do presidente Lula e da campanha da presidenta Dilma. O tema é escanteado sempre que a presidenta começa a enfrentar contenciosos entre os grupos aliados. Com a reforma tributária é a mesma coisa. Poderíamos ter uma política de desoneração horizontal ampla, para todos os setores da economia, e não essa de hoje só para os escolhidos.
ISTOÉ – Esses não são os problemas de sempre na relação com as bases aliadas?
Aécio – A presidenta vive uma armadilha que ela própria montou: um governo que é de cooptação, não de coalizão. O governo se pauta permanentemente pela busca de novos aliados, o que o leva à paralisia. As grandes questões que interessam ao País não andam no Congresso porque não há unidade na base. Existe apenas disputa por espaço no governo.
ISTOÉ – Não é normal que se façam alianças para governar?
Aécio – As alianças deste governo levaram à eleição do Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos, colocaram Renan Calheiros na presidência do Senado e Henrique Alves na presidência da Câmara. Cada vez mais, o PT cria cargos públicos para atender a sua turma. O que ocorre agora é assustador. Quando Fernando Henrique deixou o governo havia 1.200 cargos em comissão no âmbito da Presidência da República. Hoje são quatro mil. Essa é a lógica do PT: o empreguismo, o aparelhamento da máquina. A lógica da democracia é ter os partidos políticos a serviço do Estado. O PT inverteu isso. Colocou o Estado a serviço de um partido político. Em todos os níveis, a ocupação do governo pelos partidos aliados é assombrosa.
ISTOÉ – Quando o PSDB estava no poder não ocorria o mesmo?
Aécio – É muito diferente. Não estou dizendo que não tivemos problemas lá atrás. Esse compartilhamento sempre houve, mas nunca nos níveis de hoje. Criou-se a imagem de que a presidenta Dilma fazia uma grande faxina sem levar em conta que foi ela própria quem colocou aquelas pessoas no cargo para atender às imposições dos partidos de seu entorno. Temos um país à deriva em busca de um gestor ou de uma gestora eficiente.
ISTOÉ – Mas a presidenta ganhou a eleição com apelo de gestora competente.
Aécio – As principais obras de infraestrutura no País estão paralisadas. O Tribunal de Contas mostra que 48% das obras do PAC têm algum tipo de desvio ou de superfaturamento. A transposição do rio São Francisco está com apenas 40% das obras prontas e o orçamento, que era de R$ 4,5 bilhões, chega a mais de R$ 8 bilhões. A Transnordestina tinha orçamento de R$ 4 bilhões, já está em R$ 7 bilhões e nunca passou um trem por ela. Na Norte-Sul, além de superfaturamento, estamos descobrindo agora que o material utilizado era impróprio. A refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, foi orçada em R$ 4 bilhões e vai ser um campeão nacional: será a refinaria mais cara do mundo. Não há planejamento, as obras estão paradas e a economia está parada.
ISTOÉ – A oposição não está superdimensionando a volta da inflação?
Aécio – A inflação de alimentos já está em 14% nos últimos 12 meses. E quem ganha até 2,5 salários mínimos – 90% dos empregos gerados na era petista são nessa faixa – gasta em média 30% da renda com alimentação. Isso é muito grave.
ISTOÉ – O sr. não acredita que o Banco Central manterá a meta inflacionária?
Aécio – A meta já é virtual, não existe mais. Não a atingimos nos dois
primeiros anos do governo Dilma e não vamos atingi-la novamente. Parece que eles focam o teto da meta como se fosse o centro. Isso gera uma enorme insegurança no mercado e dúvidas sobre o real compromisso deste governo com o controle da inflação.
ISTOÉ – Qual é a marca do governo Dilma, em sua opinião?
Aécio – O governo Dilma não tem marca. É sintomático que a presidenta se apresse para comemorar os dez anos de governo do PT. É uma forma de esconder os dois anos do governo Dilma: ela acopla os dois anos dela aos oito de Lula, quando realmente vivemos um período de maior expansão dos programas sociais. Pegar uma carona com o presidente Lula é mais uma demonstração de fragilidade. O que caracteriza o governo Dilma é a insegurança jurídica que afugenta empresários. O mundo está se recuperando, mas o Brasil está ficando de fora. Onde o investidor vai colocar seus recursos? No Brasil da insegurança, das intervenções, do viés autoritário latente? O PT não convive bem com a democracia.
ISTOÉ – Onde o sr. identifica esses focos de insegurança?
Aécio – A realidade é que o sentimento lá fora é de muita cautela em relação ao Brasil. As agências reguladoras são um exemplo. Elas foram aparelhadas por gente sem a menor identificação com a área. Agora vemos a permissividade das pessoas dessas agências montando negócios com a bênção dos poderosos. Para o Brasil será bom o PT tirar férias e para o PT será bom ir para a oposição. Assim, quem sabe eles se reencontrem com os valores que levaram à sua criação e ao seu crescimento. O PT hoje é um partido que só pensa na manutenção do poder, mesmo que para isso coloque em risco a democracia e a liberdade. A agenda do PT não faz bem nem ao Brasil nem à democracia.
ISTOÉ – As questões éticas voltarão ao centro da disputa presidencial?
Aécio – É um ponto que estará na campanha. O ministro Ayres Britto me dizia outro dia que a questão da sustentabilidade precisa ir além do tema ambiental. Precisamos de sustentabilidade moral. Acho que a decisão do STF permitiu ao Brasil ter pela primeira vez um sentimento de que a impunidade não é um valor absoluto. Isso não podemos deixar que se perca. Uma nação, para ser desenvolvida, tem de se render aos valores éticos. E esse será um papel importante do PSDB nessa campanha. Vamos mostrar que a democracia não pode ser ameaçada com a concentração de poderes.
ISTOÉ – O sr. não teme que esse discurso possa parecer eleitoreiro, já que há poucos anos o sr. brigava no partido em busca de entendimentos com o PT?
Aécio – Confesso que busquei isso e, em determinado momento, enxerguei a possibilidade de uma ação conjunta para avançarmos em termos sociais. Cheguei a construir em Belo Horizonte uma aliança com o atual ministro Fernando Pimentel. Mas a oposição no PT foi raivosa, inclusive punindo o próprio Pimentel. O PT preferiu outros aliados e cada vez mais as nossas diferenças se acentuaram.
ISTOÉ – Nas últimas eleições, o PSDB levou para a campanha temas como o aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo. Esses assuntos estarão presentes de novo em 2014?
Aécio – Espero que não. Essas não são questões de responsabilidade de um presidente da República.
ISTOÉ – Mas, pessoalmente, o sr. é a favor ou contra essas questões?
Aécio – Sou favorável ao casamento de pessoas do mesmo sexo. Isso já está incorporado ao mundo moderno. Com relação ao aborto, defendo a legislação atual. Mas o meu esforço é demonstrar que o novo é o PSDB e o velho é o PT, pelos acordos que vem fazendo com os setores mais atrasados da vida nacional.
ISTOÉ – O sr. não acha que o País melhorou?
Aécio – Reconheço que o Brasil de hoje é melhor do que era há 20 anos. Até melhor do que dez anos atrás. Mas isso é um processo. Ao contrário do PT, que gosta de fazer parecer que o Brasil foi descoberto em 2003, temos clareza de que isso é produto de um processo. O maior programa de distribuição de renda que houve no País foi o Plano Real, que deixou de punir os brasileiros com o imposto inflacionário e os trouxe para o consumo. De lá para cá, avanços ocorreram, não podemos negar.
ISTOÉ – Que avanços?
Aécio – O PT fez duas coisas muito importantes. A primeira foi esquecer o seu discurso e manter por algum tempo – hoje não mais mantém – os pilares macroeconômicos herdados do governo Fernando Henrique: meta de inflação, câmbio flutuante e superávit nas contas. Esses pilares foram fundamentais para que o Brasil tivesse algum sucesso no campo econômico. Além disso, o presidente Lula teve a virtude de unificar e amplificar os programas de transferência de renda. Isso foi importante, mas é insuficiente. Hoje o PT só tem a agenda do poder.
ISTOÉ – Como caminham essas conversas entre a oposição?
Aécio – No quadro político brasileiro, é muito bom ter uma candidatura como a da Marina. Vai trazer temas importantes para o debate. A candidatura do Eduardo Campos, que espero que se confirme, também vai trazer uma discussão mais profunda. Vamos falar de desenvolvimento regional, de agenda da gestão pública, da federação. O governo é que parece atemorizado, querendo ganhar por WO.
Para levar os tucanos de volta ao poder, o senador mineiro prepara um novo projeto para o PSDB. Saiba quais são suas principais propostas, as ideias para a economia e os parceiros preferenciais
Mário Simas Filho e Delmo Moreira - IstoE
Leia a entrevista exclusiva com Aécio Neves
Se depender do roteiro traçado pelo senador, a eleição presidencial de 2014 poderá ser bem diferente das duas últimas. Tanto em 2006 quanto em 2010, o PSDB não conseguiu se colocar como alternativa real na cabeça do eleitor. Não trouxe ideias capazes de animar o debate político e não conseguiu se descolar da pauta imposta pela gestão petista. Aécio trabalha agora para formular outra agenda e começa a esboçar o programa para a campanha.
Do ponto de vista da economia, estarão de volta as bandeiras de corte liberal dos tucanos, agora apimentadas por críticas a políticas executadas pelo governo Dilma. Metas de inflação desleixadas, isenções fiscais seletivas, ingerências na economia, crescimento irrisório e paralisia nas obras de infraestrutura serão os alvos prediletos dos tucanos. A contundência das propostas, contudo, ainda parece depender demasiado de um eventual fracasso da atual política econômica, obviamente descartado pelo governo. É como se, para dar certo, tudo tivesse de dar errado.
O índice inflacionário é o cavalo de batalha do momento. Na quarta-feira 1º, no palanque da Força Sindical, em São Paulo, Aécio jogou no colo do governo a responsabilidade pela alta dos preços: “A leniência do governo coloca em risco uma das maiores conquistas das últimas décadas: o controle da inflação. Não vamos permitir que esse fantasma volte a nos assombrar”, disse Aécio.
O nascente programa tucano passa a ganhar contornos mais corrosivos quando Aécio agrega à critica da política econômica uma discussão sobre ética e democracia. Desvios mensaleiros e denúncias de corrupção serão temas da campanha levados junto com a ideia de que o governo Dilma e o PT se revelam essencialmente autoritários.
Os tucanos já começam a elevar o tom na defesa da independência de poderes e no que entendem como graves ameaças às liberdades democráticas. Há uma tendência de explorar a suposta identidade “chavista-bolivariana” que o PSDB gostaria de ver grudada ao governo petista.
Esse conjunto de liberalismo econômico e combate à corrupção e ao autoritarismo tende a aproximar o discurso tucano em 2014 daquele adotado pelas oposições na Venezuela e na Argentina, por exemplo.
ALVO
Aécio pretende associar a imagem de Dilma Rousseff à falta de diálogo e má gestão
O PSDB também irá se empenhar em conquistar aliados e ampliar a tradicional aliança com o esquartejado DEM. O quadro idealizado por Aécio para o ano que vem troca o tradicional embate PT versus PSDB por um duelo mais amplo de governo versus oposição. Aécio imagina o novo PSDB capaz de dialogar com os eleitores de todas as classes sociais, mas primeiramente com a classe média das grandes cidades.
“O PT não trouxe uma agenda para o País, trabalhou esses últimos anos com as ideias colocadas no governo de Fernando Henrique, mas precisamos avançar”, tem dito o senador a seus interlocutores.
Das inúmeras conversas mantidas com empresários e banqueiros, muitas delas feitas com a presença do ex-presidente FHC, o senador mineiro concluiu que o governo da presidenta Dilma Rousseff não transmite a segurança necessária para que o País receba investimentos privados na quantidade necessária para alavancar um crescimento consistente. Aécio ouviu queixas de empresários sobre a interferência do Estado na economia e mudanças de regras de jogo, uma ação que não identificariam no governo do ex-presidente Lula.
Dos encontros com políticos, Aécio chega a outras conclusões. A principal delas é a de que há um crescente descontentamento de prefeitos e governadores, inclusive de partidos ligados à base de apoio do governo, com o que tem chamado de “concentração de poder na esfera federal”. Muitos reclamam que Brasília distribui pacotes de bondades à custa de diminuição de recursos para os Estados e municípios, mas pouco abre mão das receitas federais.
Nesse sentido, o senador pretende levar aos tucanos a ideia da defesa do “federalismo” como uma forma de repaginar a velha bandeira municipalista, até hoje apontada como uma das principais razões para a densidade eleitoral do PMDB em todo o País.
A receita de Aécio para o PSDB é fazer com que o partido assuma a linha de frente de uma política de valorização dos Estados e municípios, assegurando a governadores e prefeitos a retomada da capacidade de investimentos locais ou regionais.
Tucanos que têm participado desses encontros de Aécio com governadores e prefeitos, relatam que muitos deles, principalmente os de partidos ligados à base de apoio do governo, se sentem tratados como dependentes de Brasília e não como aliados. São lideranças que eventualmente poderiam aderir a uma campanha oposicionista se enxergassem nela a solução para seus problemas locais.
PALANQUE
No comício da Força Sindical, ataques ao governo pela suposta volta da inflação
Nas pesquisas pré-eleitorais que tem em mãos, o senador identifica um esgotamento das gestões do PT, principalmente entre as camadas de renda mais alta. Na última pesquisa, feita com uma amostragem de seis mil eleitores nas classes A e B, sua provável candidatura tem índices semelhantes ao da presidenta Dilma e superiores aos obtidos por Marina Silva – que carrega consigo um enorme recall da eleição de 2010 – e pelo governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB. As pesquisas qualitativas também apontaram a Aécio uma preocupação da classe média com o que chama de “viés autoritário do PT”.
É um tema que une os principais pré-candidatos à Presidência e agrada a setores que passaram a olhar o PSDB com reservas depois que Serra levou para os palanques uma pauta conservadora em torno de questões como o aborto e a união homoafetiva. O tucano também aposta na consolidação da candidatura de Eduardo Campos e batalha para que o Movimento Democrático, do deputado Roberto Freire, a Rede, de Marina Silva, e o Solidariedade, de Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical, consigam efetivamente sair do papel.
A aposta é de que até as vésperas dos registros das candidaturas, tucanos, socialistas e marineiros tenham discursos convergentes. A expectativa também é de que Serra permaneça aconchegado no ninho tucano. Aécio acredita ainda que, em 2014, poderá trazer para o bloco oposicionista o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab.
Leia a entrevista exclusiva com Aécio Neves
04 de maio de 2013
por Mário Simas Filho e Delmo Moreira; fotos: Adriano Machado - IstoE
PERIGO
O senador Aécio Neves diz que a democracia está
sendo ameaçada com a concentração de poderes
O senador Aécio Neves diz que a democracia está
sendo ameaçada com a concentração de poderes
Um céu alvoroçado e cheio de cores envolve o prédio do Congresso Nacional na tela do pintor mineiro Carlos Bracher que está na parede atrás da mesa de Aécio Neves. Em seu gabinete no Anexo l do prédio do Senado Federal, Aécio encontra tempo para apreciar a pintura e relembrar encontros alegres com Bracher em Ouro Preto. Esses momentos amenos, contudo, podem se tornar cada mais raros, levando-se em conta a agenda do senador.
Aécio Neves vai assumir a presidência do PSDB e começa a botar na rua o bloco da campanha para 2014. Ele não se declara candidato enquanto não receber a indicação oficial do partido, o que só deve acontecer na virada do ano. Mas na entrevista que concedeu à ISTOÉ, durante pouco mais de duas horas, o senador traçou o perfil do novo PSDB que pretende construir e discutiu as ideias com as quais espera conquistar o eleitor brasileiro.
ISTOÉ – O que o sr. vai mudar no PSDB?
Aécio Neves – O PSDB deve renovar seu discurso e apresentar propostas novas para o País. Precisamos assumir o papel de principal alternativa ao que está aí, com uma proposta clara que nos diferencie do PT. O Brasil terá uma grande oportunidade de comparar propostas diferentes. Quando assumir a presidência do PSDB, meu papel será o de discutir uma agenda para os próximos 20 anos. E de mostrar que os modernos, os eficientes, os que prezam a democracia somos nós. O atraso, a ineficiência e o viés autoritário são a marca de nossos adversários.
ISTOÉ – Como isso vai ser feito?
Aécio – Como presidente do PSDB, quero correr o Brasil para, até o final do ano, ter essa proposta nova muito bem clara. Que ela mostre que apostamos na gestão eficiente e não no gigantismo da máquina pública. Que nós apostamos em uma política externa pragmática em favor dos interesses do Brasil e não no alinhamento ideológico atrasado que tanto prejuízo traz ao País. Que apostamos na refundação da Federação, com distribuição mais justa de recursos entre os Municípios e os Estados.
ISTOÉ – Essa será a base de seu programa como candidato à Presidência da República?
Aécio – Se o partido definir que serei o candidato, posso dizer que estou preparado para iniciar um tempo novo no Brasil. Vamos primeiro construir no PSDB o arcabouço para o candidato trabalhar. Vamos mostrar que podemos fazer muito melhor para o Brasil.
ISTOÉ – A presidenta Dilma Rousseff tem alto índice de aprovação. Isso não mostra que o País está satisfeito com o governo?
Aécio – Ainda vivemos uma sensação de bem-estar. Temos um nível de desemprego baixo, empregabilidade alta. Mas há uma bomba-relógio para explodir a qualquer momento. E o nosso papel é mostrar isso.
ISTOÉ – O que está errado?
Aécio – Acho que houve uma visão equivocada. O governo desenhou o crescimento da economia pela demanda, através do crédito, mas isso já está no limite. O calcanhar de aquiles estava na oferta. Temos uma péssima infraestrutura para escoar a produção, o custo Brasil é crescente e a produtividade, baixíssima. Tudo isso está levando a um quadro de incertezas, num momento em que precisaria haver o investimento privado para compensar a diminuição do consumo.
ISTOÉ – Esses temas terão repercussão eleitoral?
Aécio – O resultado eleitoral a população é que irá determinar. Ao contrário da presidenta, não me movo pela lógica eleitoral.
ISTOÉ – A presidenta provavelmente diz o mesmo...
Aécio – Infelizmente, a agenda das eleições está levando a presidenta a
buscar permanentemente medidas populistas, elevando o risco de entrarmos no ciclo vicioso da inflação e do crescimento econômico comprometido.
"Quem administra o Brasil não é mais a
presidenta Dilma, é a lógica da reeleição"
presidenta Dilma, é a lógica da reeleição"
ISTOÉ – O sr. também não está pensando em eleição o tempo todo?
Aécio – Com muita responsabilidade. Não podemos deixar que a propaganda ufanista continue a contagiar as pessoas. O avanço do Brasil é uma construção tijolo a tijolo, feita por algumas gerações de homens públicos. Desde a estabilidade da moeda, com Itamar Franco, a implantação e consolidação do real, com Fernando Henrique e Lula. Mas agora não há uma agenda nova.
ISTOÉ – O sr. vê diferenças entre os governos Lula e Dilma?
Aécio – Há um sentimento crescente de cansaço com esse modelo que está no poder. Isso é perceptível em todo o País. Acho que o PT perdeu a capacidade de apresentar um projeto de governo e se contentou em ter um projeto de poder. O que move o governo Dilma é exclusivamente a agenda do poder. Quem administra o Brasil não é mais a presidenta Dilma, é a lógica da reeleição. O PT trocou a agenda das reformas para as quais foi eleito.
ISTOÉ – Qual é a nova agenda?
Aécio – A agenda do autoritarismo. É claro o viés autoritário nas inúmeras medidas patrocinadas pelo PT. Uma cerceia o poder de investigação do Ministério Público, outra cria uma instância revisora das decisões do STF. E tudo isso casado ainda com uma ação truculenta e casuística que inibe a criação de outras forças partidárias de oposição. Essas ações mostram o governo com enorme receio do enfrentamento político. Há também uma concentração excessiva de receitas nas mãos da União, fragilizando Estados e Municípios. Isso leva à ineficiência e a desvios permanentes.
ISTOÉ – O sr. diz que as reformas não andaram, mas isso é só culpa do governo?
Aécio – Não se fala mais em reforma política, que era o carro-chefe do segundo mandato do presidente Lula e da campanha da presidenta Dilma. O tema é escanteado sempre que a presidenta começa a enfrentar contenciosos entre os grupos aliados. Com a reforma tributária é a mesma coisa. Poderíamos ter uma política de desoneração horizontal ampla, para todos os setores da economia, e não essa de hoje só para os escolhidos.
“Meu esforço é demonstrar que o novo é o PSDB e o velho é o PT, pelos acordos
que vem fazendo com os setores mais atrasados da vida nacional”
que vem fazendo com os setores mais atrasados da vida nacional”
ISTOÉ – Esses não são os problemas de sempre na relação com as bases aliadas?
Aécio – A presidenta vive uma armadilha que ela própria montou: um governo que é de cooptação, não de coalizão. O governo se pauta permanentemente pela busca de novos aliados, o que o leva à paralisia. As grandes questões que interessam ao País não andam no Congresso porque não há unidade na base. Existe apenas disputa por espaço no governo.
ISTOÉ – Não é normal que se façam alianças para governar?
Aécio – As alianças deste governo levaram à eleição do Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos, colocaram Renan Calheiros na presidência do Senado e Henrique Alves na presidência da Câmara. Cada vez mais, o PT cria cargos públicos para atender a sua turma. O que ocorre agora é assustador. Quando Fernando Henrique deixou o governo havia 1.200 cargos em comissão no âmbito da Presidência da República. Hoje são quatro mil. Essa é a lógica do PT: o empreguismo, o aparelhamento da máquina. A lógica da democracia é ter os partidos políticos a serviço do Estado. O PT inverteu isso. Colocou o Estado a serviço de um partido político. Em todos os níveis, a ocupação do governo pelos partidos aliados é assombrosa.
ISTOÉ – Quando o PSDB estava no poder não ocorria o mesmo?
Aécio – É muito diferente. Não estou dizendo que não tivemos problemas lá atrás. Esse compartilhamento sempre houve, mas nunca nos níveis de hoje. Criou-se a imagem de que a presidenta Dilma fazia uma grande faxina sem levar em conta que foi ela própria quem colocou aquelas pessoas no cargo para atender às imposições dos partidos de seu entorno. Temos um país à deriva em busca de um gestor ou de uma gestora eficiente.
ISTOÉ – Mas a presidenta ganhou a eleição com apelo de gestora competente.
Aécio – As principais obras de infraestrutura no País estão paralisadas. O Tribunal de Contas mostra que 48% das obras do PAC têm algum tipo de desvio ou de superfaturamento. A transposição do rio São Francisco está com apenas 40% das obras prontas e o orçamento, que era de R$ 4,5 bilhões, chega a mais de R$ 8 bilhões. A Transnordestina tinha orçamento de R$ 4 bilhões, já está em R$ 7 bilhões e nunca passou um trem por ela. Na Norte-Sul, além de superfaturamento, estamos descobrindo agora que o material utilizado era impróprio. A refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, foi orçada em R$ 4 bilhões e vai ser um campeão nacional: será a refinaria mais cara do mundo. Não há planejamento, as obras estão paradas e a economia está parada.
ISTOÉ – A oposição não está superdimensionando a volta da inflação?
Aécio – A inflação de alimentos já está em 14% nos últimos 12 meses. E quem ganha até 2,5 salários mínimos – 90% dos empregos gerados na era petista são nessa faixa – gasta em média 30% da renda com alimentação. Isso é muito grave.
ISTOÉ – O sr. não acredita que o Banco Central manterá a meta inflacionária?
Aécio – A meta já é virtual, não existe mais. Não a atingimos nos dois
primeiros anos do governo Dilma e não vamos atingi-la novamente. Parece que eles focam o teto da meta como se fosse o centro. Isso gera uma enorme insegurança no mercado e dúvidas sobre o real compromisso deste governo com o controle da inflação.
ISTOÉ – Qual é a marca do governo Dilma, em sua opinião?
Aécio – O governo Dilma não tem marca. É sintomático que a presidenta se apresse para comemorar os dez anos de governo do PT. É uma forma de esconder os dois anos do governo Dilma: ela acopla os dois anos dela aos oito de Lula, quando realmente vivemos um período de maior expansão dos programas sociais. Pegar uma carona com o presidente Lula é mais uma demonstração de fragilidade. O que caracteriza o governo Dilma é a insegurança jurídica que afugenta empresários. O mundo está se recuperando, mas o Brasil está ficando de fora. Onde o investidor vai colocar seus recursos? No Brasil da insegurança, das intervenções, do viés autoritário latente? O PT não convive bem com a democracia.
ISTOÉ – Onde o sr. identifica esses focos de insegurança?
Aécio – A realidade é que o sentimento lá fora é de muita cautela em relação ao Brasil. As agências reguladoras são um exemplo. Elas foram aparelhadas por gente sem a menor identificação com a área. Agora vemos a permissividade das pessoas dessas agências montando negócios com a bênção dos poderosos. Para o Brasil será bom o PT tirar férias e para o PT será bom ir para a oposição. Assim, quem sabe eles se reencontrem com os valores que levaram à sua criação e ao seu crescimento. O PT hoje é um partido que só pensa na manutenção do poder, mesmo que para isso coloque em risco a democracia e a liberdade. A agenda do PT não faz bem nem ao Brasil nem à democracia.
ISTOÉ – As questões éticas voltarão ao centro da disputa presidencial?
Aécio – É um ponto que estará na campanha. O ministro Ayres Britto me dizia outro dia que a questão da sustentabilidade precisa ir além do tema ambiental. Precisamos de sustentabilidade moral. Acho que a decisão do STF permitiu ao Brasil ter pela primeira vez um sentimento de que a impunidade não é um valor absoluto. Isso não podemos deixar que se perca. Uma nação, para ser desenvolvida, tem de se render aos valores éticos. E esse será um papel importante do PSDB nessa campanha. Vamos mostrar que a democracia não pode ser ameaçada com a concentração de poderes.
ISTOÉ – O sr. não teme que esse discurso possa parecer eleitoreiro, já que há poucos anos o sr. brigava no partido em busca de entendimentos com o PT?
Aécio – Confesso que busquei isso e, em determinado momento, enxerguei a possibilidade de uma ação conjunta para avançarmos em termos sociais. Cheguei a construir em Belo Horizonte uma aliança com o atual ministro Fernando Pimentel. Mas a oposição no PT foi raivosa, inclusive punindo o próprio Pimentel. O PT preferiu outros aliados e cada vez mais as nossas diferenças se acentuaram.
ISTOÉ – Nas últimas eleições, o PSDB levou para a campanha temas como o aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo. Esses assuntos estarão presentes de novo em 2014?
Aécio – Espero que não. Essas não são questões de responsabilidade de um presidente da República.
"O PT hoje é um partido que só pensa na manutenção do poder.
A agenda do PT não faz bem nem ao Brasil nem à democracia"
A agenda do PT não faz bem nem ao Brasil nem à democracia"
ISTOÉ – Mas, pessoalmente, o sr. é a favor ou contra essas questões?
Aécio – Sou favorável ao casamento de pessoas do mesmo sexo. Isso já está incorporado ao mundo moderno. Com relação ao aborto, defendo a legislação atual. Mas o meu esforço é demonstrar que o novo é o PSDB e o velho é o PT, pelos acordos que vem fazendo com os setores mais atrasados da vida nacional.
ISTOÉ – O sr. não acha que o País melhorou?
Aécio – Reconheço que o Brasil de hoje é melhor do que era há 20 anos. Até melhor do que dez anos atrás. Mas isso é um processo. Ao contrário do PT, que gosta de fazer parecer que o Brasil foi descoberto em 2003, temos clareza de que isso é produto de um processo. O maior programa de distribuição de renda que houve no País foi o Plano Real, que deixou de punir os brasileiros com o imposto inflacionário e os trouxe para o consumo. De lá para cá, avanços ocorreram, não podemos negar.
ISTOÉ – Que avanços?
Aécio – O PT fez duas coisas muito importantes. A primeira foi esquecer o seu discurso e manter por algum tempo – hoje não mais mantém – os pilares macroeconômicos herdados do governo Fernando Henrique: meta de inflação, câmbio flutuante e superávit nas contas. Esses pilares foram fundamentais para que o Brasil tivesse algum sucesso no campo econômico. Além disso, o presidente Lula teve a virtude de unificar e amplificar os programas de transferência de renda. Isso foi importante, mas é insuficiente. Hoje o PT só tem a agenda do poder.
ISTOÉ – Como caminham essas conversas entre a oposição?
Aécio – No quadro político brasileiro, é muito bom ter uma candidatura como a da Marina. Vai trazer temas importantes para o debate. A candidatura do Eduardo Campos, que espero que se confirme, também vai trazer uma discussão mais profunda. Vamos falar de desenvolvimento regional, de agenda da gestão pública, da federação. O governo é que parece atemorizado, querendo ganhar por WO.
A ofensiva Aécio
Para levar os tucanos de volta ao poder, o senador mineiro prepara um novo projeto para o PSDB. Saiba quais são suas principais propostas, as ideias para a economia e os parceiros preferenciais
Mário Simas Filho e Delmo Moreira - IstoE
Logo depois das eleições municipais de 2012, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teve uma conversa decisiva com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Foi direto ao assunto: “Geraldo, você quer ser novamente candidato a presidente da República?”, indagou o mineiro. “Se quiser, terá todo o meu apoio.” Alckmin respondeu que não e disse que trabalharia para o PSDB chegar unido em 2014. Era tudo o que Aécio queria ouvir. Sua pergunta tinha algo de retórica, pois ele já sabia que não estava nos planos do governador disputar a sucessão de Dilma Rousseff e que chegara a sua hora na fila tucana.
O que Aécio buscava mesmo era a certeza de que movimentos ressentidos do recém-derrotado José Serra não abalariam a unidade partidária em São Paulo, Estado que concentra a maior parte do eleitorado brasileiro.
Com a resposta de Alckmin e o aval do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves começou a colocar em prática uma série de ações que se tornarão mais visíveis nas próximas semanas, quando ele assumir a presidência nacional do partido.
Nos últimos meses, o senador mineiro se debruçou sobre diversas pesquisas, conversou com os empresários que costumam liderar as listas de doadores nas campanhas eleitorais, reuniu prefeitos e governadores de todas as regiões do País e vem mantendo encontros frequentes com economistas e analistas políticos. No comando do tucanato, Aécio pretende liderar uma oposição bem mais aguerrida. Irá correr o País e promete finalizar até dezembro o que vem chamando de um novo projeto para o Brasil.
Se depender do roteiro traçado pelo senador, a eleição presidencial de 2014 poderá ser bem diferente das duas últimas. Tanto em 2006 quanto em 2010, o PSDB não conseguiu se colocar como alternativa real na cabeça do eleitor. Não trouxe ideias capazes de animar o debate político e não conseguiu se descolar da pauta imposta pela gestão petista. Aécio trabalha agora para formular outra agenda e começa a esboçar o programa para a campanha.
Do ponto de vista da economia, estarão de volta as bandeiras de corte liberal dos tucanos, agora apimentadas por críticas a políticas executadas pelo governo Dilma. Metas de inflação desleixadas, isenções fiscais seletivas, ingerências na economia, crescimento irrisório e paralisia nas obras de infraestrutura serão os alvos prediletos dos tucanos. A contundência das propostas, contudo, ainda parece depender demasiado de um eventual fracasso da atual política econômica, obviamente descartado pelo governo. É como se, para dar certo, tudo tivesse de dar errado.
O índice inflacionário é o cavalo de batalha do momento. Na quarta-feira 1º, no palanque da Força Sindical, em São Paulo, Aécio jogou no colo do governo a responsabilidade pela alta dos preços: “A leniência do governo coloca em risco uma das maiores conquistas das últimas décadas: o controle da inflação. Não vamos permitir que esse fantasma volte a nos assombrar”, disse Aécio.
O nascente programa tucano passa a ganhar contornos mais corrosivos quando Aécio agrega à critica da política econômica uma discussão sobre ética e democracia. Desvios mensaleiros e denúncias de corrupção serão temas da campanha levados junto com a ideia de que o governo Dilma e o PT se revelam essencialmente autoritários.
Os tucanos já começam a elevar o tom na defesa da independência de poderes e no que entendem como graves ameaças às liberdades democráticas. Há uma tendência de explorar a suposta identidade “chavista-bolivariana” que o PSDB gostaria de ver grudada ao governo petista.
Esse conjunto de liberalismo econômico e combate à corrupção e ao autoritarismo tende a aproximar o discurso tucano em 2014 daquele adotado pelas oposições na Venezuela e na Argentina, por exemplo.
ALVO
Aécio pretende associar a imagem de Dilma Rousseff à falta de diálogo e má gestão
O PSDB também irá se empenhar em conquistar aliados e ampliar a tradicional aliança com o esquartejado DEM. O quadro idealizado por Aécio para o ano que vem troca o tradicional embate PT versus PSDB por um duelo mais amplo de governo versus oposição. Aécio imagina o novo PSDB capaz de dialogar com os eleitores de todas as classes sociais, mas primeiramente com a classe média das grandes cidades.
“O PT não trouxe uma agenda para o País, trabalhou esses últimos anos com as ideias colocadas no governo de Fernando Henrique, mas precisamos avançar”, tem dito o senador a seus interlocutores.
Das inúmeras conversas mantidas com empresários e banqueiros, muitas delas feitas com a presença do ex-presidente FHC, o senador mineiro concluiu que o governo da presidenta Dilma Rousseff não transmite a segurança necessária para que o País receba investimentos privados na quantidade necessária para alavancar um crescimento consistente. Aécio ouviu queixas de empresários sobre a interferência do Estado na economia e mudanças de regras de jogo, uma ação que não identificariam no governo do ex-presidente Lula.
Dos encontros com políticos, Aécio chega a outras conclusões. A principal delas é a de que há um crescente descontentamento de prefeitos e governadores, inclusive de partidos ligados à base de apoio do governo, com o que tem chamado de “concentração de poder na esfera federal”. Muitos reclamam que Brasília distribui pacotes de bondades à custa de diminuição de recursos para os Estados e municípios, mas pouco abre mão das receitas federais.
Nesse sentido, o senador pretende levar aos tucanos a ideia da defesa do “federalismo” como uma forma de repaginar a velha bandeira municipalista, até hoje apontada como uma das principais razões para a densidade eleitoral do PMDB em todo o País.
A receita de Aécio para o PSDB é fazer com que o partido assuma a linha de frente de uma política de valorização dos Estados e municípios, assegurando a governadores e prefeitos a retomada da capacidade de investimentos locais ou regionais.
Tucanos que têm participado desses encontros de Aécio com governadores e prefeitos, relatam que muitos deles, principalmente os de partidos ligados à base de apoio do governo, se sentem tratados como dependentes de Brasília e não como aliados. São lideranças que eventualmente poderiam aderir a uma campanha oposicionista se enxergassem nela a solução para seus problemas locais.
PALANQUE
No comício da Força Sindical, ataques ao governo pela suposta volta da inflação
Nas pesquisas pré-eleitorais que tem em mãos, o senador identifica um esgotamento das gestões do PT, principalmente entre as camadas de renda mais alta. Na última pesquisa, feita com uma amostragem de seis mil eleitores nas classes A e B, sua provável candidatura tem índices semelhantes ao da presidenta Dilma e superiores aos obtidos por Marina Silva – que carrega consigo um enorme recall da eleição de 2010 – e pelo governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB. As pesquisas qualitativas também apontaram a Aécio uma preocupação da classe média com o que chama de “viés autoritário do PT”.
É um tema que une os principais pré-candidatos à Presidência e agrada a setores que passaram a olhar o PSDB com reservas depois que Serra levou para os palanques uma pauta conservadora em torno de questões como o aborto e a união homoafetiva. O tucano também aposta na consolidação da candidatura de Eduardo Campos e batalha para que o Movimento Democrático, do deputado Roberto Freire, a Rede, de Marina Silva, e o Solidariedade, de Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical, consigam efetivamente sair do papel.
A aposta é de que até as vésperas dos registros das candidaturas, tucanos, socialistas e marineiros tenham discursos convergentes. A expectativa também é de que Serra permaneça aconchegado no ninho tucano. Aécio acredita ainda que, em 2014, poderá trazer para o bloco oposicionista o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab.
04 de maio de 2013
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