Hoje em dia, qualquer pessoa entra numa loja de qualquer operadora de telefonia celular e, sem tirar um real do bolso, sai com um telefone novinho e uma linha para sair falando. Se quiser uma linha de telefone fixo, também recebe de graça, muitas vezes no pacote da TV a cabo ou de internet.
Mas, há poucas décadas, isso não era assim. Primeiro, que não existia telefone celular. O primeiro que vi, no final dos anos 80, era literalmente uma maleta pesada que mais se aproximava de um equipamento de guerra ou de espionagem do que algo minimamente prático. Funcionava precariamente e era muito caro.
A linha telefônica, que hoje vem de graça, sem sequer percebermos, era um patrimônio. Valia um bom dinheiro e era transmitida como herança, através de inventário etc. As pessoas compravam e vendiam linhas telefônicas. E quem não tivesse dinheiro, que se virasse no orelhão da esquina.
ABUNDÂNCIA INSANA
O que eu acho interessante deste exemplo é que vivemos num sistema econômico baseado na escassez dos bens, martelada em nossa mente desde a mais tenra infância, que não corresponde mais à realidade. Vivemos tempo de abundância de recursos em quase todo o mundo. Para se ter ideia, 40% da comida produzida em nosso país vai para o lixo antes de chegar a nossa mesa.
Ou seja, as pessoas estão passando fome, mas não é por falta de comida. As pessoas passam fome e outras necessidades por conta de um sistema econômico que precisa da ideia de escassez para justificar preços e sustentar o mercado.
Alguém pode me perguntar: “você quer tudo de graça?”. Claro que sim! Se a tecnologia pode nos prover do que precisamos para ter uma vida melhor, para que as pessoas não tenham que se escravizar a vida toda apenas para continuar morando, comendo e comprando remédios, eu quero sim. O exemplo da linha telefônica é ótimo para ilustrar isso. Já imaginou se as pessoas pudessem simplesmente morar, estudar, receber cuidados médicos etc, sem ter que gastar nada, como ocorre com as linhas telefônicas, simplesmente porque a tecnologia possibilita isso?
SEM MÁGICA
Qual é a mágica? Não tem mágica. Se o custo da linha telefônica se tornou tão baixo que deixou de ser um patrimônio, justamente porque a tecnologia avançou nesse sentido, o mesmo raciocínio pode ser aplicado a outras coisas: casas, remédios, escolas etc.
E as pessoas? Vão viver de quê? Se você está pensando em salários, pense de novo. Se você tem uma casa para viver, escolas e hospitais públicos de qualidade, pode viajar para onde quiser e usar o seu tempo como preferir, sem ter que gastar nada, para que serve o seu salário? Eu sei que não é de uma hora para outra que se faz uma mudança tão radical e provavelmente, nem nossos netos assistirão a isso, mas alguns passos têm que ser dados.
A tecnologia também atende a outras finalidades. Por que precisamos de uma Lei Seca, que só funciona com fiscalização etc etc etc, se já existe tecnologia para identificar o motorista bêbado e parar o funcionamento do veículo antes de qualquer acidente?
Por que temos que lidar com um trânsito violento, se bastaria dotar nossos carros de pequenos radares que identificam a possibilidade de acidentes a tempo de evitá-los?
Por que andamos de carro, ônibus e avião, se já existe trem que literalmente flutua sobre imãs, utilizando 3% da energia que um trem convencional usa e, ainda por cima, é muito mais rápido e confortável do que estes meios de transporte?
Por que nos escravizamos pelo petróleo, se existem outras formas de energia limpa que podem nos suprir com sobra a custo muito mais baixo?
É claro que temos tecnologia para impedir a corrupção, mas o sistema não deixa. O que está por trás disso?
A resposta é uma só: lucro. O mercado abafa os avanços tecnológicos que possam atrapalhar o negócio. Enquanto isso, nos repetem (e repetimos sem perceber) o discurso da escassez, que já deveria estar restrito aos livros de história.
E você? Está pronto para se livrar da cultura da miséria?
04 de maio de 2013
Marcelo Nogueira, advogado no Rio de Janeiro, membro do Instituto Brasileiro de Direito Tributário.
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