"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 2 de julho de 2013

"MARKETING PADRÃO FIFA"

 
No Brasil, hoje, poucas pessoas entendem tanto de como ganhar eleição quanto o jornalista --tornado marqueteiro-- João Santana. Seu retrospecto recente inclui a reeleição de Lula no pós-mensalão e a vitória dos desconhecidos Dilma Rousseff, em 2010, e Fernando Haddad, dois anos depois.
 
Diante dos apuros em que se encontram os dois "postes" que ajudou Lula a iluminar, Santana "redobra a aposta'', como disse ao Painel após o Datafolha apontar queda de 27 pontos na avaliação da presidente: "Dilma ganha no primeiro turno''.
 
São da lavra do marqueteiro todas as peças de comunicação usadas pela presidente neste ano para comemorar a redução na conta de luz e os dez anos do PT no poder e, agora, responder aos protestos de junho.
 
O otimismo do Brasil se descolando da Terra e alçando voo rumo ao espaço, levado ao ar no programa do PT em maio, em nada combina com as cenas de milhares de pessoas indo às ruas no mesmo país para reclamar contra tudo e contra todos.
 
Mas já ali, no texto do próprio João Santana, Dilma enunciava que não basta economia dinâmica'' sem educação, saúde e segurança de qualidade. "Aliás, todos os serviços públicos têm de estar à altura do novo Brasil.''
 
Lula dizia que o Brasil aprendeu a transformar o demorado em rápido, o impossível em possível''. De fato, como se veria logo em seguida.
 
Ao refazer sua aposta na vitória da presidente sem segundo turno, apesar do cenário hoje adverso, o marqueteiro do PT deve crer que, passada o que chamou de "catarse emocional'', as reivindicações das ruas serão canalizadas para algo racional como a fala de Dilma em maio.
 
Resta saber se, depois de 12 anos de PT no poder e com a economia não tão dinâmica, a cliente de Santana terá credibilidade para vender ao eleitor não os efeitos especiais de um blockbuster chamado "Brasil'', mas os tais serviços padrão Fifa'' que os criadores dos cartazes de rua batizaram de forma tão genial. E de graça.

02 de julho de 2013
Vera Magalhães, Folha de São Paulo

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