"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 25 de julho de 2013

FARSAS, ENGODOS, MENTIRAS E O USO POLÍTICO DA PF


Fim do Bolsa Família

Um dos grandes problemas do modelo de governo que temos hoje é a infiltração partidária em órgãos que deveriam executar apenas “Políticas de Estado”.
Uma mostra disso foi o resultado do inquérito da Polícia Federal sobre os boatos envolvendo o fim do Bolsa Família e o tumulto provocado na Caixa Econômica Federal.

Seja no Itamaraty, na Polícia Federal, na Dataprev ou em qualquer outra unidade do mesmo tipo, a infiltração de filiados partidários (especialmente em cargos de direção) é terrível para o Estado Democrático e enfraquece toda a sociedade.
 
A tentativa encabeçada pelos Mensaleiros (corruptos em geral) de aprovar a famigerada PEC37, que retirava o poder de investigação do Ministério Público (dando exclusividade para tal a Polícia Federal), visava explicitamente usar essa infiltração como forma de impedir qualquer investigação de elementos ligados ao partido (e seus aliados) que dominasse o poder no momento.
 
No caso da confusão causada pelos boatos de que o governo acabaria com o Bolsa Família, o tumulto foi provocado (segundo as investigações da Imprensa com provas levantadas e mostradas para quem quisesse ver em cadeia nacional) pela própria direção da CEF (evidentemente agindo em nome e sob ordens do governo) como forma de obter ganho eleitoral ao afirmar (como rapidamente foi feito) que se trataria de “manobra eleitoreira da oposição” visando levar o pânico aos assistidos e criar um ambiente prejudicial a qualquer partido oposicionistas nas eleições que se aproximam.
 
Para surpresa dos que estão no poder, assim que essas afirmações começaram a circular nos jornais, a imprensa descobriu que os boatos partiram de uma empresa de telemarketing que prestava serviços para a própria CEF aqui no Rio.
 
tumulto pelo fim do bolsa família
 
Ao mesmo tempo, a subsequente mudança de discurso (por parte do governo) que parou de acusar e ameaçar a oposição e passou a lutar com todas as forças para fazer com que tudo não passasse de um “mal entendido”, não foi convincente o suficiente para calar a curiosidade do pessoal e nem abafar as vozes que começavam a se levantar para exigir punições dos “cumpanheiros” atrapalhados.
 
Logo veio aos noticiários o Ministro da Justiça para dar uma declaração afirmando que a Polícia Federal abriria investigações sobre o caso. Segundo ele, a apuração não deixaria “pedra sobre pedra” e iria “a fundo” no caso.
Passados alguns meses do ocorrido, a tal investigação foi encerrada melancolicamente com a conclusão de que era “impossível” chegar aos autores do boato. Afinal de contas, tudo teria nascido de “forma espontânea” e “difusa”.
 
Ora! E tudo o que a imprensa apurou? Foi sumariamente desconsiderado pela PF? E agora, depois do inquérito arquivado e liberado a vista do público pela lei de acesso a informação, descobriu-se que a Polícia Federal sequer investigou a CEF.
A tal “investigação profunda” que “não deixaria pedra sobre pedra” se limitou a pedir declarações a direção da estatal e jamais ouviu um único funcionário da empresa ou da firma de telemarketing.
 
A suposta investigação “bem feita” e “profunda” se limitou a perguntar ao acusado se ele havia cometido um crime. Como ele disse “não”; os investigadores infatigáveis da PF disseram em resposta: “Ok”.
 
Nem mesmo a mentira clara e cristalina da CEF, na declaração dada a PF, afirmando não haver antecipado os pagamentos do Bolsa Família antes do tumulto (desmascarada pela Folha de São Paulo logo nos primeiros dias do escândalo e, portanto, evidente), foi suficiente para lançar uma dúvida na “mente investigativa” dos agente ou aguçar a “sanha curiosa” que teoricamente move todo investigador policial.
 
Polícia a serviço do governo
 
Diante de tais fatos e da aparente incompetência em elucidar um crime, praticamente já desvendado de pelos jornais de maior circulação do país (faltando apontar apenas quais diretores da CEF haviam dado a ordem e a mando de quem), fica difícil engolir que não houve interferência política nessas investigações.
 
Diante do fiasco e da aparente ausência de preocupação em se disfarçar o acobertamento de um crime (em nome da proteção do partidão no poder), fica difícil aceitar que a Polícia Federal tem hoje alguma isenção para investigar os grandes escândalos que assolam nosso país e se multiplicam na gestão que aí está.
 
Essa desconfiança e a possível cooptação de elementos-chave dentro da PF pelo governo são extremamente danosas para nossa democracia e para a construção de um país mais ético e mais justo.
 
Infelizmente, a nossa sociedade parece estar impassível diante de tão grave momento e não consegue perceber o perigo que ronda cada um de nós quando a máquina do Estado, que deveria proteger o cidadão, é posta a serviço de interesses partidários (de qualquer natureza ou orientação ideológica) a fim de garantir a impunidade aos criminosos que atuem em prol desta ou daquela legenda partidária ou ideologia.
Pense nisso.
 
25 de julho de 2013
arthurius maximus

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