Em visita a Varginha, Papa diz que esforço de pacificação tem que ser acompanhado de justiça social
- Durante o discurso, o Pontífice também fez referência aos recentes protestos que ocorreram no Brasil
- Ele pediu que os mais ricos e as classes políticas sejam menos egoístas e mais solidários
- Segurança do Papa foi feita por 600 PMs em Varginha
Em visita à favela da Varginha, em Manguinhos, uma das menores do Rio, com 400 famílias, o Papa Francisco passou uma mensagem forte aos políticos: só pacificar as comunidades pobres, sem atacar o problema principal, isto é, “o abandono da periferia”, não será “duradouro”, disse. Durante o discurso, o Pontífice também fez referência aos recentes protestos que ocorreram no Brasil e pediu que os mais ricos e as classes políticas sejam menos egoístas e mais solidários. E ainda pediu aos jovens que não fiquem desiludidos com a corrupção daqueles que "em vez de buscar o bem comum, procuram seu próprio benefício", pois "a realidade pode mudar, o homem pode mudar".
Depois de afirmar primeiro que queria encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para combater a fome e a miséria, o Papa declarou:
— Nenhum esforço de pacificação será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma.
Francisco começou lançando um apelo às autoridades públicas e aos mais ricos:
— Queria lançar um apelo a todos que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: não se cansem de trabalhar para um mundo mais justo e solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo — afirmou.
E completou:
— Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frenquentemente regula nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, mas sim a cultura da solidariedade; ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão.
O Papa disse que uma sociedade assim “simplesmente empobrece a sim mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma”. Francisco insistiu que é preciso compartilhar:
— Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, que não têm outra coisa que não sua pobreza!
O Pontífice afirmou que a igreja, como “advogada da justiça e defensora dos pobres, diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu” quer ajudar em todas as iniciativas “que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo e de todo o homem”:
— Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida, que é dom Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral, que não se reduz em uma simples transformação de informações com o simples fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano.
Ele passou uma mensagem aos jovens desiludidos com as injustiças, numa possível alusão aos recentes protestos no país:
— Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar bem comum, procuram, seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desaminem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo. A igreja está ao lado de vocês, trazendo o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida, e vida em abundância”.
E concluiu o discurso voltando-se especialmente as os moradores de Varginha, dizendo que a igreja e Papa vão estar com eles.
Citações a cachaça e feijão brasileiros
Durante o discurso, o Papa disse ser muito bom ser acolhido 'com amor, generosidade e alegria na comunidade', e disse que gostaria de entrar em cada casa para tomar um cafezinho, mas não cachaça, provocando risos dos moradores.
Em seguida, afirmou que é importante partilhar a comida o tempo todo e citou uma expressão brasileira afirmando que sempre se pode colocar mais água no feijão.
- Quando somos generosos, acolhendo as pessoas, partilhando a nossa comida e o nosso tempo, não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sempre que alguém bate à sua porta vocês sempre dão um jeito de compartilhar. Como diz o ditado, sempre se pode colocar mais água no feijão - afirmou o Pontífice em outro momento descontraído do discurso.
Segurança do Papa foi feita por 600 PMs em Varginha
Cerca de 600 PMs cuidaram da segurança do Papa Francisco junto com 80 agentes federais, além de militares do Exército, na favela da Varginha, em Manguinhos. Homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque (BPChoq) fizeram o cerco à comunidade. No interior, havia 400 PMs de UPPs de Manguinhos e de outras favelas como o Complexo do Alemão.
Por onde o Pontífice passava, foram instaladas grades de ferro. Apenas pessoas credenciadas e deficientes físicos selecionados foram autorizados a ficar no perímetro de segurança. Os moradores só puderam ficar por trás das grades ou das lajes das casas. A primeira parada do Papa foi na Igreja de São Jerônimo, onde a Polícia Federal e militares das Forças Especiais do Exército fizeram uma varredura à procura de artefatos explosivos, mas nada foi encontrado.
25 de julho de 2013
Debora Berlink e Vera Araújo - O Globo
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