Internacional - Estados Unidos
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O artigo de Carlos Azambuja, Echelon – A rede de espionagem global, que Mídia Sem Máscara republica hoje, é uma obra que mostra aos iniciantes como funciona há décadas uma das redes de espionagem global.
Especialista em história dos movimentos revolucionários e serviços secretos, o autor nos dá uma clara noção de como é possível criar e funcionar por anos a fio uma rede de informações mundial sem precisar se esconder. Pode-se dizer que o gato era visível para quem quisesse ver, claro que escondendo suas entranhas.
Publicado pelo MSM em 12 de julho de 2006, o artigo vem bem a propósito para desmoralizar o alarido causado pelas revelações de Snowden. Não que ele deva ser considerado um herói, creio mesmo que deveria ser preso, julgado e condenado à morte como prevê a lei americana para os traidores.
Echelon – A rede de espionagem global
Emulando o Grande Irmão, criado por George Orwell no livro 1984, os EUA possuem uma rede de espionagem de comunicações mundial operada juntamente com a Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. O sistema, denominado Echelon, foi criado em 1948, durante a Guerra Fria, e vem sendo continuamente aperfeiçoado.
O que se sabe sobre o Echelon é o resultado do esforço de jornalistas e investigadores em todo o mundo que trabalharam durante décadas buscando dados sobre os programas mais secretos do governo dos EUA. Um dos resultados dessa investigação é o livro do jornalista neo-zeolandês Nicky Hager, Secret Power: New Zealand’s Role in the International Spy Network, cujo conteúdo é um relato pormenorizado sobre o tema.
Em 5 de setembro de 2001 o Parlamento Europeu aprovou uma Resolução denunciando essa rede global de espionagem e recomendando a seus cidadãos que codificassem suas comunicações. Essa denúncia, evidentemente, caiu no vazio, pois apenas seis dias depois foi realizado o ataque da Al-Qaeda contra as torres gêmeas, em Nova York, e todos os países da União Européia se uniram aos EUA na guerra contra o terrorismo promovida pelo presidente Bush. E, para lutar contra o terror, o Echelon é uma arma imprescindível.
Ao final da II Guerra Mundial – mais precisamente em 1948 -, os EUA e a Inglaterra firmaram um Tratado que ficou conhecido como o Pacto UKUSA (United Kingdom-United States of América). Posteriormente uniram-se a esse pacto o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia.
A constituição do UKUSA apenas deu continuidade ao total acordo de cooperação entre EUA e Inglaterra em matéria de espionagem que durante a II Guerra os levou a compartilhar os êxitos alcançados com a decodificação dos códigos nazistas e japoneses.
Na verdade, o projeto Echelon foi plenamente desenvolvido na década de 70, quando foram lançados os primeiros satélites comerciais destinados a comunicações civis.
O Echelon, através de estações de interceptação posicionadas por todo o mundo, capta todo o tráfego de comunicações via satélite, microondas, celulares e por fibras óticas. Essa informação captada é processada através dos computadores da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA, que inclui sofisticados programas de reconhecimento de voz e reconhecimento de caráter ótico, através dos quais é efetuada a pesquisa de palavras ou frases em código, pelo sistema conhecido como Dicionário Echelon, que levam os computadores a assinalarem as mensagens a serem gravadas e transcritas para uma futura análise.
A NSA, com sede no Fort George Meade, localizado nas proximidades de Washington, é a maior empregadora global de matemáticos que compõem as melhores equipes de criadores e decifradores de códigos jamais reunidas. O trabalho dessas equipes é decifrar os códigos de comunicações internas e estrangeiras, enviando as mensagens decodificadas a uma também enorme equipe de hábeis lingüistas para serem analisadas em cerca de cem idiomas.
Sabe-se, todavia, que o Echelon, após a Guerra Fria, passou a ser utilizado para objetivos outros além de sua missão original, como as espionagens política e industrial em alcance mundial.
Esses objetivos outros foram definidos após o desmantelamento do socialismo na ex-União Soviética e na Europa do Leste, com a procura, pelos órgãos de Inteligência dos EUA e seus parceiros no Echelon, de uma nova justificativa que protegesse suas atividades, mantivesse sua importância e os seus avultados orçamentos. A solução encontrada foi incluir como objetivos outros as preocupações econômicas, comerciais e empresariais. Nesse sentido, foi criado dentro do Departamento de Comércio dos EUA o Gabinete de Ligação de Informações, que canaliza para as grandes empresas norte-americanas os materiais interceptados. Na maioria dos casos, os beneficiários desse esforço de espionagem comercial são as próprias empresas que ajudaram a NSA a desenvolver os sistemas que compõem a rede Echelon e que, muitas vezes, são a fonte de vultosas contribuições em dinheiro aos dois principais partidos políticos dos EUA. Poder-se-ia dizer ser essa uma relação incestuosa. Entre essas empresas são apontadas a Lockheed, a Boeing, a Loral, a TWR e a Raytheon.
Ou seja, a verdade é que o projeto Echelon, utilizado para conter e eventualmente derrotar o Império Soviético durante a Guerra Fria é agora virtualmente dirigido contra todos os cidadãos do mundo, violando indiscriminadamente a soberania de Estados e a privacidade dos cidadãos.
Segundo se sabe, a espinha dorsal da rede Echelon são as estações de escuta e recepção maciças direcionadas para os satélites Intelsat e Inmarsat, responsáveis pela quase totalidade das comunicações via telefone e fax, no interior dos países, entre países e continentes. Os vinte satélites Intelsat transportam essencialmente tráfego civil mas, adicionalmente, comunicações diplomáticas e governamentais de interesse particular para a UKUSA.
Diversas e stações de rádio-escuta operadas pelo UKUSA estão espalhadas por todo o mundo, localizadas em bases militares em território estrangeiro e em remotas estações de escuta. As maiores estações de rádio-escuta da rede encontram-se em Tangimoana/Nova Zelândia, Bamaga/Austrália, Menwith/Inglaterra e no atol de Diego Garcia, no oceano Índico, operadas pela NSA.
Segundo o levantamento efetuado por jornalistas e investigadores, dentro da Europa todas as comunicações via fax, telefone e e-mails são rotineiramente interceptadas pela estação de Menwith e enviadas, via satélite, para Fort Mead, para análise.
Uma outra rede de busca paralela de alta freqüência intercepta sinais de comunicações com o objetivo único de localizar a posição de navios, submarinos e aviões em todo o mundo, desempenhando um papel fundamental na monitorização dos movimentos de possíveis alvos móveis.
O poder do Echelon reside em sua capacidade de decifrar, filtrar, examinar e codificar todas as mensagens interceptadas em categorias seletivas para uma análise mais pormenorizada dos agentes dos serviços de Inteligência das diversas agências UKUSA.
O Echelon utiliza poderosos programas de pesquisa através de palavras e frases-chave, analisando minuciosamente os textos das mensagens com base em complexos critérios algorítmicos. Programas de reconhecimento de vozes convertem conversas em textos para uma análise mais aprofundada. Um sistema extremamente avançado, o VOICECAST, pode visar o padrão de voz de um indivíduo para que todos os telefonemas que essa pessoa efetue sejam transcritos para futura análise. Ou seja, o mundo está virtualmente “grampeado”.
Processando milhões de mensagens por hora, o sistema Echelon funciona vinte e quatro horas por dia. É importante assinalar, todavia, que poucas mensagens e telefonemas são transcritos e registrados. A grande maioria é excluída após ser lida e ouvida pelo sistema. Apenas as mensagens que contiverem as frases ou palavras-chave alvo são armazenadas para análise posterior.
Cada estação da UKUSA mantém uma lista de frases e palavras-chave (essa lista é denominada Dicionário). Um gestor do Dicionário de cada agência é responsável por acrescentar, apagar ou alterar os critérios de frases ou palavras-chave para seus dicionários em cada uma das estações.
O Echelon é um produto da Guerra Fria, todavia, a atual luta global contra o terrorismo parece ter dado a essa estrutura, aos olhos de muitos, a justificativa necessária para desenvolver uma capacidade ainda maior para espionar os aliados, os inimigos e os cidadãos em todo o mundo, violando a soberania dos países e a privacidade das pessoas.
Além dessa rede de espionagem global, existe também um programa de rastreamento financeiro como parte dos esforços da luta global contra o terrorismo. Seria o Echelon Financeiro.
Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o Departamento do Tesouro dos EUA teria passado a rastrear possíveis financiamentos terroristas através de um programa denominado Sociedade Internacional para as Telecomunicações Financeiras e Interbancarias (SWIFT), que proporciona acesso aos registros de todas as multimilionárias transferências diárias internacionais de divisas entre oito mil bancos, casas de câmbio, bolsas de valores e outras instituições. Segundo John Snow, que foi Secretário do Tesouro até 30 de maio de 2006, o programa persegue cuidadosamente as transações financeiras de supostos terroristas estrangeiros “e é parte de um esforço para localizar as redes terroristas e deter os terroristas em todo o mundo”.
Nota:
No entanto, recentemente – segundo o artigo O Pior dos Maiores, de Olavo de Carvalho, publicado pelo JB de 29 de junho de 2006 – “o The New York Times” – jornal que, ao que parece, se especializou no vazamento de operações de Inteligência – “deu todo o serviço sobre uma operação ultra-secreta que vinha conseguindo penetrar as transações bancárias da Al-Qaeda, colocando vidas e dólares dos terroristas a salvo do malvado governo americano”.
25 de julho de 2013
Carlos Azambuja é historiador.
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