"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 29 de julho de 2013

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA HELIO FERNANDES

Dona Dilma jogou a toalha: “Lula é quem governa”. A eleição presidencial no Chile define a humanidade ou desumanidade dos que APOIARAM ou COMBATERAM Pinochet. O Papa assustou muita gente: “Voltarei em 2017”. A grande ideia: fim da reeleição e de mandatos longos
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A ideia, surgida nos debates provocados pelo povo nas ruas, teve logo ótima repercussão. Este repórter imediatamente apoiou a proposta. Minha posição era coerente e rigorosamente compatível com a que defendi, quando o presidente FHC comprou e pagou com dinheiro público a sua ambição pessoal.
 
O presidente no Planalto não defendia apenas a satisfação de se manter no cargo maior. Rasgava a Constituição, quebrava uma cláusula pétrea (a da não reeleição), além de imoral e ilegal, era também inconstitucional.
 
Agora, o fim da reeleição vem com um adendo que merece ainda maiores aplausos. Mandato de 5 anos para todos, do presidente da República aos mais distantes prefeitos e vereadores. Com a aprovação dessa proposta, fica aberto o caminho para outras providências igualmente positivas.
 
REDUÇÃO DO NÚMERO DE PARLAMENTARES E FIM DO EXECRÁVEL VOTO OBRIGATÓRIO
 
Com os parlamentares perdendo a força, com o fim dos mandatos quilométricos, até por “revanche” diriam SIM a muitas propostas saneadores. Uma delas, o VOTO OBRIGATÓRIO, que não existe em nenhum lugar e gera a abstenção de milhões de votos.
 
O cidadão não vai votar, logo depois paga multa irrisória, transforma o VOTO OBRIGATÓRIO numa farsa, fraude, mistificação.
 
Modificado o Congresso (que sem reeleição e com mandatos menores, fica mais perto do povo), podem reduzir o número de deputados e senadores. E acabar com a excrescência que é o voto proporcional. E a consolidação da mudança para o voto distrital puro, a trajetória progressista do povo no Poder.
 
De 5 em 5 anos, gente nova no Congresso, no Executivo e, por extensão, no Judiciário, as coisas mudarão seguramente. Com o voto distrital, vai diminuir (quase acabando) o voto comprado, corrupto de parte a parte.
 
Com esse tipo de voto pessoal e restrito, no Distrito quem vota conhece o candidato, este não precisa de “ficha limpa”, para ser conhecido, reconhecido e ignorado. Eleitoral e politicamente, que maravilha viver.
 
NENHUMA DIFICULDADE NA MUDANÇA
 
É preciso começar para melhorar. Já imaginaram, de 5 em 5 anos, o cidadão podendo abandonar os velhos e inacreditáveis donos de tudo, para tentar renovar? Alguns dirão: mas se continuarem errando no voto e na escolha? É possível, é possível. Mas não podem errar para sempre. E se errarem, esses que vieram no lugar dos antigos, ficarão apenas 5 anos, muito menos do que a atual eternidade dos cargos.
 
DONA DILMA NÃO QUER SAIR
 
Em plena queda ou derrocada, com dificuldade de completar o primeiro mandato, e sem ter o que dizer, Dona Dilma diz esta tolice: “O PT ainda vai ficar 10 anos no Poder”. Traduzindo: está contabilizando o fim do primeiro mandato, a reeleição, e por concessão, mais 4 anos para alguém ou algum outro do PT.
 
De contradição em contradição, Dona Dilma anuncia mais 10 anos no Poder, mas o PT decide não comemorar os 10 anos do Planalto. Dona Dilma pode se iludir, mas o PT não dá a ela nem a possibilidade de se enganar ou a chance remota de acertar. Mesmo que o PT ficasse mais 10 anos no Poder, Dona Dilma não se inscreveria nessa aritmética, que pobre e mediocremente chama da matemática.
 
Muita gente, aqui mesmo e em outros lugares, considera que 2014 está muito longe, “Dona Dilma vai se recuperar”. Nada contra, nem mesmo pela opinião. Saudável e louvável que defendam ideias e personagens, principalmente quando estão por baixo. Mas Dona Dilma caiu tanto que será difícil a reabilitação ou recuperação.
 
DONA DILMA, EIKE E SERGINHO
 
O prestígio, a credibilidade e o futuro da presidente e do governador, hoje, valem menos do que uma ação do titubeante empresário insensato. E se Eike é derrubado pela queda da ação, Dilma e Serginho são condenados por falta de ação.
 
Não é um jogo de palavras. Se houvesse uma Bolsa que avaliasse políticos, Dilma e Serginho tinham “virado pó”, como se diz no jargão financeiro. Para Dilma e Serginho, e outros: “És pó, e ao pó retornarás”. Já retornaram, só não perceberam.
 
DONA DILMA INACREDITÁVEL
 
Fez uma declaração já pronta para manchete de jornal (Folha): “Lula não vai voltar, ele nunca saiu”. Serva, submissa e subserviente, se houvesse Prêmio Nobel desse quesito, ninguém ganharia dela. Depois disso, o ex que “nunca saiu”, constrangido mas fortalecido.
 
Os supostos presidenciáveis dos mais diversos partidos já estão marchando reunidos. Não querem mais chegar ao segundo turno, se convenceram que tudo se definirá no primeiro. Lula já reservou dois terços da agenda para conversas com eles, todos querem acordo. Menos Aécio, não por vontade própria, mas por falta de condições. Frase tão curta, repercussão tão grande.
 

O REVEILLON E A MANIFESTAÇÃO DO PAPA DEVEM MUITO AO GOVERNADOR NEGRÃO DE LIMA
 
Eleito em 1965 depois de Lacerda (seu único inimigo), ficou até 1970. Acha o Rio muito “apertado”, procurou aumentá-lo. A grande preocupação: Avenida Atlântica, muito pequena. Quando foi embaixador em Portugal, conheceu um grupo de engenheiros, especialistas em obras em areia, pontes, túneis. Chamou-os.
 
Levou-os à Avenida Atlântica, perguntou: “Quero aumentar esta avenida, as pistas de rolamento e a areia, em 1 quilômetro, é possível? Pediram um prazo, em 60 dias trouxeram o projeto que transformou a Atlântica no que é hoje, espetáculo.
 
COPACABANA E O PAPA
 
Esses engenheiros (logo depois planejaram e coordenaram a Ponte Rio-Niterói, objetivo de sempre) podem ser considerados, com Negrão, os inventores das festas extraordinárias do réveillon, com milhões de pessoas, e agora abrigaram 3 milhões para verem e ouvirem o Papa. E este não perdeu tempo, emocionou e conquistou esses 3 milhões e outros milhões que estavam em casa.
 
Todos os discursos de Francisco tinham endereço certo e conhecido, e atingiram o alvo, mesmo que eles não entendessem, ou procurassem dizer, “não é comigo, não tenho nada com isso”. Por causa do tempo e da incompetência do prefeito, Francisco teve como tribuna mais importante, Copacabana. E nos discursos de sábado e ontem, domingo, a despedida, foi certeiro na crítica, na análise, na conclusão.
 
Ainda bem que Francisco anunciou: “Em 2017, estarei de volta”. Que país encontrará? O do diálogo? Ou o das mudanças impostas pelo povo nas ruas?
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PS – A próxima eleição para presidente do Chile deveria merecer primeira página de jornais, destaque em rádios, TVs, todas as formas de mídias eletrônicas. Não só pela conquista do poder, mas também pelo comportamento humano dos candidatos e pela reação da própria humanidade.
 
PS2 – Duas mulheres candidatas, que depois de 40 anos, revivem a ditadura de Pinochet. O Chile teve uma das mais cruéis ditaduras da América do Sul, o presidente Allende foi assassinado dentro
do palácio.
 
PS3 – As duas candidatas (uma já foi presidente, saiu bem avaliada) tiveram uma juventude de razoável relacionamento. Não eram amigas, mas também não estavam distantes.
 
PS4 – Filhas de dois generais da Força Aérea, moraram no mesmo quartel com os pais, que tinham a ligação que têm dois generais da mesma geração e guarnição. O golpe e o assassinato separou-os.
 
PS5 – O pai da ex-presidente novamente candidata se manteve fiel ao regime, à democracia e ao presidente brutalmente assassinado. Por causa disso, foi perseguido, preso, torturado, morreu na prisão, não resistiu. Ninguém resiste à ditadura. Quem diz, “fui torturado 3 anos”, mente como os torturados mentem à humanidade.
 
PS6 – O general, pai da outra candidata, imediatamente aderiu ao golpe, serviu aos torturadores durante os 17 anos da ditadura, da tirania, da selvageria.
 
PS7 – Mais grave ainda: comandava o quartel onde o também general, pai da ex-presidente que quer voltar, foi barbaramente torturado e morto. Afirma agora: “Não tive nada com isso, não sabia do que acontecia, nem que ele estava preso na guarnição que eu comandava.”
 
PS8 – É possível que o general que serviu à ditadura, e que comandou o quartel centro das crueldades, não tivesse participado da tortura e da morte, é possível. Mas quanto a não saber de nada? Ele copia Lula, ou Lula copia o general “não sabia de coisa alguma”. Um negava a morte, o outro a corrupção. Mas no mínimo, no mínimo, tinham que saber.
 
PS9 – A  candidata que pretende voltar, diz: “Passado é passado, não tocarei no que aconteceu”. Acontece que a eleição é em outubro, e o golpe que derrubou e assassinou Allende foi em  setembro, o Chile estará em plena campanha eleitoral.
 
PS10 – A candidata pode esquecer, é favorita, deve ganhar, mas os marqueteiros não perderão a oportunidade.
 
PS11- Recado final a Dona Dilma, que insiste no absurdo plebiscito. O que aconteceu no Chile, uma só pergunta e logicamente uma única resposta, foi o que aconteceu lá.
 
PS12 – “Pinochet deve continuar no Poder ou sair?”. Por esplêndida maioria, o povo votou pela saída. Imediatamente expulso e marcada eleição. O plebiscito não precisa de referendo, a votação é definitivo.
 
PS13 – Pinochet foi processado, fugiu para a Inglaterra, ficou confortavelmente preso algum tempo, voltou para o Chile, morreu, foi enterrado em odor de santidade, sem pagar pela desumanidade.

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