Manifestantes cobram mudanças, mas grupo de José Sarney agarra-se à surdez para garantir continuísmo
Ignorância de conveniência – As roucas vozes dos indignados tomaram as ruas de dezenas de cidades do País para pedir mudanças, mas ao que parece o som não chegou ao Maranhão, o mais pobre dos estados brasileiros.Em um dos seus precisos discursos, o papa Francisco disse que “o futuro exige reabilitar a política e o sentido ético é o desafio sem precedentes”, mas em São Luís os integrantes do clã Sarney fizeram ouvidos moucos.
No último sábado (27), enquanto o papa destilava coerência no Rio de Janeiro, na capital maranhense o caudilho José Sarney reuniu o que há de pior na política local. Durante o encontro, o grupo decidiu que Luís Fernando Silva, atual secretário estadual de Infraestrutura, será o candidato do grupo político na corrida ao Palácio dos Leões, em 2014. Luís Fernando é um dos bedéis da governadora Roseana Sarney, que por conta do pífio desempenho viu despencar a aprovação do seu governo nas recentes pesquisas de opinião.
Conforme informou o bem informado John Cutrim em seu blog, os jurássicos da política local reuniram-se na casa do senador João Alberto Souza e decidiram que, em caso de vitória, a tragédia maranhense continuará existindo com as rubricas de Fernando Sarney e Ricardo Murad, marido de Roseana. Em outras palavras, a mesmice política corre o risco de continuar dando as ordens no vilipendiado Maranhão.
Do encontro participaram, além do incensado Luís Fernando Silva, o chefe do grupo, José Sarney, Sarney Filho, Ricardo Murad, Edison Lobão, Pedro Novaes, Remi Ribeiro, João Alberto de Souza, Gastão Vieira e Roseana Sarney.
Para que o leitor consiga avaliar a extensão do estrago que esse grupo representa, passamos a um breve relato acerca do currículo de cada um dos participantes do encontro de coronéis.
Filhote da ditadura, José Sarney chegou à Presidência da República no rastro da morte de Tancredo Neves. Não fosse esse incidente, entraria para a história como reles coadjuvante. A sua longa carreira política, marcada por escândalos e decisões bisonhas, se traduz no livro “Honráveis Bandidos”, que fazendo jus ao título conta as estripulias do caudilho da terra do arroz de cuxá.
De todos os integrantes da família do ditador maranhense, Sarney Filho é o que age com mais cuidado, o que evita flagrantes ruidosos.
Mesmo assim, o deputado federal pelo PV maranhense não escapa do rol de escândalos que leva a marca da família. Zequinha, como é conhecido no Maranhão o filho do caudilho-senador, é pai dos astutos rapazes.
José Adriano Cordeiro Sarney, que de 2007 a 2009, com a anuência deliberada do avô, operou no Senado como agente de empréstimos consignados. Descoberto o escândalo, a mamata foi suspensa. Gabriel José Cordeiro Sarney, que mora em um apartamento da família localizado na elegante região dos Jardins, em São Paulo, mas que está registrado em nome de uma construtora, cujo dono é amigo do clã que governa o Maranhão à sombra do despotismo.
Sarney Filho fica enfurecido quando o seu viés ambientalista de encomenda vem à baila. Mesmo filiado ao Partido Verde, Zequinha nada fez contra a Alumar, indústria de alumínio que contaminou o solo e os lençóis freáticos de São Luís.
De igual modo, Sarney Filho adotou silêncio obsequioso por ocasião do “Escândalo do Babaçu”, em que Stênio Resendel político ligado ao clã, foi acusado de receber R$ 2 milhões para permitir o desmatamento de determinadas regiões do estado, o que viabilizou a construção de condomínios.
O rosário de escândalos na órbita da atual governadora do Maranhão é tamanho, que desfiá-lo exigiria tempo e espaço de sobra.
Após prometer entregar 64 hospitais até o final de 2010, Roseana cumpriu parcialmente a promessa, apesar de a saúde pública no Maranhão viver uma situação degradante.
Entregou apenas um e durante a campanha daquele ano prometeu outros três hospitais, elevando o número para 66. Até agora, a promessa continua sendo cumprida em lentos e enfadonhos capítulos.
Preocupada com sua imagem como política, Roseana renovou, por R$ 6 milhões, um contrato do governo estadual com o marqueteiro Duda Mendonça. Ou seja, a filha de José Sarney quer mostrar ao mundo, usando o suado dinheiro do contribuinte, aquilo que apenas fingiu fazer.
Irmão de Jorge Murad, o primeiro-marido maranhense, Ricardo sempre foi um crítico ácido da cunhada e da família Sarney.
As críticas cessaram quando Roseana Sarney chamou Ricardo Murad para fazer parte do seu governo, sempre marcado pela incompetência e por seguidos escândalos de corrupção.
Guindado ao cargo de secretário estadual da Saúde, Ricardo Murad foi encarregado de enganar o povo nas questões relacionadas à pasta, além de dar as devidas desculpas em relação aos hospitais prometidos pela cunhada.
Sem saber como substituir uma lâmpada queimada, Edison Lobão assumiu o Ministério de Minas e Energia no vácuo do acordo do PMDB com o governo do PT, que substituiu o criminoso esquema do Mensalão pelo loteamento da Esplanada dos Ministérios.
De acordo com o jornal “O Estado de S. Paulo”, Lobão teria criado um esquema para se apropriar do ouro de Serra Pelada. O ministro articulou a transferência dos direitos de exploração do minério (que pertenciam à Vale) para a Coomigasp (Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada). Após a transferência, pessoas ligadas a Edison Lobão assumiram a direção da cooperativa, não sem antes assassinarem antigos dirigentes que faziam oposição ao grupo do senador.
Recentemente, Lobão foi alvo de um episódio pitoresco e muitíssimo mal contado, que reeditou o padrão de beleza brasileiro. Hospedado em um hotel de Campos do Jordão, o ministro diz ter sido agarrado pela camareira. Indefesa, a funcionária do hotel disse na delegacia que não resistiu a esse monumento de beleza envolto em uma “robe de chambre” de seda azul.
Deputado federal que integra a tropa de choque de Sarney, mora no Rio de Janeiro e só vai ao Maranhão por ocasião das campanhas eleitorais e quando chamado para decidir assuntos relacionados à política.
Ex-ministro do Turismo, o deputado usou parte da verba indenizatória a que os parlamentares têm direito para pagar as despesas de uma bacanal durante noitada em suíte de motel no interior do Maranhão.
Outro obediente integrante da ditadura Sarney, assumiu o Ministério do Turismo no lugar de Pedro Novaes.
Especialista em viagens entre São Luís e a capital federal, Vieira foi colocado por Sarney em uma pasta que deveria estar produzindo muito mais resultados, se considerado o fato de que dentro de alguns meses acontecerá a Copa do Mundo.
Capataz político de José Sarney, o também peemedebista João Alberto é um dependente político da família que há cinco décadas governa o Maranhão com mão de ferro e faz da máquina estatal uma espécie de propriedade privada.
João Alberto foi vice-governador do Maranhão, logo após Roseana Sarney tomar o governo do pedetista Jackson Lago. Enquanto esteve na vice-governança, João Alberto escapou do escândalo dos atos secretos, que vieram à tona em 2009 e atingiram o “coronel” José Sarney. Entre 2003 e 2007, período em que integrou a Mesa Diretora do Senado, João Alberto assinou vários atos secretos.
Homem de confiança de Sarney, João Alberto voltou ao Senado em 2011, após vencer eleição e tendo como suplentes Clóvis e Mauro Fecury. Com mencionado acima, a família Fecury participa da política maranhense como cornucópia de plantão do grupo comandado por Sarney. Sempre com a devida contrapartida, pois dinheiro não dá em árvore.
Também ligado ao senador Renan Calheiros, presidente do Senado Federal, João Alberto assumiu recentemente a presidência do Conselho de Ética da Casa.
Engenheiro, Fernando Sarney é responsável por todos os negócios da família, inclusive pela contabilidade bisonha. Casado com a cunhada da irmã Roseana, Fernando Sarney divide com Jorge Murad, o primeiro-marido, a eminência parda do governo. Em nove de cada dez escândalos da família Sarney, o nome de Fernando aparece com certeza.
Alvo da Operação Boi Barrica, posteriormente rebatizada como Faktor, Fernando Sarney foi indiciado por formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Acusado de fazer caixa dois na campanha da irmã, em 2006, ele sacou R$ 2 milhões em dinheiro vivo de uma conta bancária.
Durante a Operação Castelo de Areia, a Polícia Federal identificou o nome de Fernando Sarney como sendo um suposto destinatário de propinas pagas pela empreiteira Camargo Corrêa. Em outra investigação, Fernando aparece como um dos sócios da São Luís Factoring, empresa financeira que só opera com recursos das empresas da família e movimenta dezenas de milhões de reais a cada ano.
29 de julho de 2013
ucho.info
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