Pinturas escondidas na Fundação Sarney retratam integrantes da Famiglia fantasiados de religiosos
Para abrigar alguns badulaques sem valor comercial que registram a passagem do patriarca pela Presidência da República, a Famiglia que há 50 anos suga, sangra e sufoca o Maranhão decidiu criar a Fundação José Sarney.
Para que a entidade se alojasse num lugar à altura do poderio do clã, o governo estadual presenteou o mais ilustre maranhense com o Convento das Mercês, e a relíquia da arquitetura colonial foi reduzida a sede do bando cujo chefe imediatamente adotou um codinome que combina com o endereço: Madre Superiora.
A descoberta da demasia de maracutaias encobertas pela fundação secou a cachoeira de donativos suspeitíssimos e verbas federais irregulares que sustentavam a Fundação (e engordavam as contas bancárias dos inquilinos).
Em vez de correr atrás do prejuízo e fechar o rombo, o ex-presidente ordenou à filha governadora que repassasse a conta aos pagadores de impostos.
Com o aval da Assembleia Legislativa, Roseana Sarney incorporou ao patrimônio público a entidade privada em apuros.
Não é pouca coisa. Mas não é tudo, avisou neste domingo a espantosa reportagem da Folha de S. Paulo sobre como andam as coisas no convento que ficou com cara de casa de tolerância.
Numa sala fechada à visitação pública, o jornalista Reynaldo Turollo Jr. encontrou cerca de 30 quadros que mostram integrantes da Famiglia Sarney, agregados e políticos aliados com trajes e adereços religiosos. Parece mentira? Veja a galeria publicada pela Folha e as informações que acompanham cada pintura.
José Sarney, por exemplo, contempla a eternidade fantasiado de cônego. Sua mulher, Marli, capricha na pose de freira.
Edison Lobão, instalado por Madre Superiora no gabinete de ministro de Minas e Energia, não sabe direito se é frade ou monge. Todos têm o olhar confiante de quem garantiu a aprovação no Dia do Juízo Final.
O Brasil sabe há muito tempo que essa turma faz o que pode para transformar o Maranhão num inferno sobre a terra. Soube agora que também debocha do Reino dos Céus.
29 de julho de 2013
Augusto Nunes, Veja
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