Sempre achei muito curioso quando britânicos vinham me falar sobre a atitude “tranquila” dos brasileiros, como se não ligássemos para nada e vivêssemos todos a beira da praia. Sabemos que não é o caso.
A imagem que eles têm do nosso país faz ainda menos sentido quando se nota como são eles os reais vidas-boas, com um estilo bem mais relaxado que o nosso nos sete dias da semana.
Um amigo inglês já na casa dos 40 diz que muita gente acumula folgas para gastar agora. “E pegam esses dias para comer e beber ao sol, nem todo mundo tem paciência para viajar. Aí dá uma sensação de preguiça disseminada mesmo”, conta ele.
E o trabalho? “A produtividade aumenta porque todos querem aproveitar mais tempo ao sol. As manhãs são bem intensas, o início da tarde também. Depois acabou.”
Não me convenci.
O Reino Unido não tem a siesta espanhola nem a jornada de 35 horas de trabalho semanais como na França. Mas para um país cujo PIB vai crescer menos de 1% neste ano (mais que nos últimos), a tranquilidade britânica é comovente. Dias atrás visitei uma editora e a agenda foi a seguinte: reunião (10h), trabalho (11h), almoço (13h), volta (15h), microtrabalho (16h), pizza (17h) e pub (18h).
Meu mestrado terminou há duas semanas e estou em microférias. Convido meus amigos locais para passeios aleatórios, tanto no meio do dia como no final. Quase sempre estão livres. Todos trabalham. De segunda a segunda os bares estão sempre cheios. Temos dificuldade para agendar uma mesa nos restaurantes que queremos conhecer.
Achei que fosse questão do verão. E numa conversa furada pergunto a um dono de bar se nessa época os negócios melhoram muito. A resposta é um choque. “Aqui não há turistas. Estamos cheios como sempre. A única diferença é que quem bebia do lado de dentro passa a beber do lado de fora”, diz ele. Os estudantes que agora estão de férias são os mesmos que bebem ali no inverno. Começam às 17h e só vão embora às 23h.
Um amigo me diz que está quase sempre livre porque aqui muitos empregos são para apenas dois ou três dias por semana. Outro diz que é cultural, já que viver é mais importante do que trabalhar. Um terceiro conta que esse benefício só é dado a quem não é imigrante -- esses fazem o trabalho duro. Pode ser isso tudo. Mas que eu já não aceito que falem do estilo de vida tranquilão no Brasil, ah, não aceito mesmo.
29 de julho de 2013
Mauricio Savarese é mestrando em Jornalismo Interativo pela City University London.
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