Foi uma semana de frio inusitado no Brasil todo, até em cidades pouco acostumadas com isso, como o Rio. De presença intensa do Papa Francisco, com palavras e gestos aos quais é difícil ficar indiferente, concordando ou discordando. De confirmação da queda da popularidade da presidente e de governadores. De indicadores econômicos com a fraqueza da economia.
Campo de Guaratiba alagado
O trânsito frustrou os visitantes e atormentou a vida dos moradores. Os governantes estavam achando que bastavam alguns dias de feriado que tudo se resolveria; só que a vida segue seu curso, muitas atividades não podem, nem querem parar. Houve momentos em que os cariocas se sentiram sem direito de ir e vir.
A estrutura de TI mostrou sua falha. Para atender ao crescimento da demanda, a qualidade da conexão piorou muito; a telefonia celular, que sempre foi péssima, virou uma calamidade. A cidade é hoje uma coleção de pontos cegos das várias operadoras.
Tudo isso tem um custo de imagem difícil de mensurar. Cada um desses visitantes de outros países será propagador do que não funcionou, a imprensa estrangeira vai usar todo o seu poder de propagação para falar das dificuldades que enfrentou para realizar seu trabalho.
Na chegada do Papa Francisco, a presidente submeteu o líder da Igreja Católica a um discurso cansativo e despropositado. Quando ela apresentou os avanços do país, fazendo o corte político — ao falar apenas “nos dez últimos anos” —, excluiu parte do Brasil.
Um estadista, em momentos assim, fala em nome de todo o país, e quem não professa a fé petista sabe que os avanços sociais brasileiros foram conquistas do período democrático; com marcos importantes na Constituição de 1988 e na estabilização de 1994.
Ela poderia enaltecer os avanços conduzidos pelo seu grupo político, dentro de um contexto mais amplo, mas o melhor seria fazer um discurso não eleitoreiro.
Há momento para tudo debaixo do céu, e aquele não era de campanha política.
A pesquisa da CNI-Ibope confirmou o movimento, ainda não encerrado, de perda de apoio da presidente Dilma. Parte dessa perda se deve à enorme distância entre a maneira como sua campanha eleitoral a apresentou e o que ela demonstrou ser: a gerente que tudo administraria com competência e a estadista em movimento constante num país de trens modernos e ágil mobilidade não têm relação com a realidade dos últimos anos.
Os obstáculos ficaram mais fortes, a crise de mobilidade urbana e interurbana se agravou, e o governo de 39 ministérios tem se mostrado cada vez menos administrável. Outra desdita foi jogada sobre ela por seus próprios companheiros com a campanha para que volte o ex-presidente Lula.
A economia está dando sinais cada vez mais eloquentes de dificuldade. Esta semana foi a de ficar de frente com o crescimento de 70% do déficit em transações correntes; e com mais uma encenação de corte de gastos.
Depois de espremido, nada ficou da redução das despesas anunciada pelo ministro Guido Mantega e pela ministra Miriam Belchior.
Até o Banco Central tinha pedido que o governo anunciasse de forma clara as metas fiscais e como se chegou a esse número.
Dizer que vai cortar em gastos de viagens, em material de limpeza, em contas de luz, e na decisão de enviar menos recursos para o deficitário INSS é não informar com clareza a situação fiscal do país.
27 de julho de 2013
Míriam Leitão, O Globo
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