A aplicação de juros altos como principal mecanismo de controle da inflação parecia estar superada na economia brasileira. O próprio discurso da presidente Dilma Rousseff vinha passando a segurança ao mercado e aos investidores de que essa estratégia ortodoxa não mais seria utilizada. A sensação era a de que Selic alinhada ao que acontece em todos os países civilizados, tornara-se uma tendência política do governo.
Assim, o novo aumento da taxa básica, anunciada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), desta vez de 0,5%, com a Selic atingindo 8,5%, surpreendeu negativamente os setores produtivos, que querem redução de custos, incluindo aqui o do capital, para investir e ampliar sua competitividade, em especial na indústria de transformação, a mais afetada atualmente pela concorrência com empresas estrangeiras. Aumentar juros hoje encarece produtos e serviços e não ajuda a baixar a inflação, e se for para frear a atividade econômica, eu pergunto: mais do que já esta?
Parece que a medida não surpreendeu apenas um contingente expressivo de economistas, que acreditam ser o juro alto a solução para todos os nossos problemas. A impressão é que o Copom fez um lance somente para esses profissionais verem e aplaudir. No entanto, a medida, além de inconsistente no combate à inflação, contribui para minar o ânimo daqueles que estavam pensando em investir, produzir mais, criar empregos, exportar e crescer. Além disso, com esse aumento da Selic, o governo amplia mais de R$ 4 bilhões os gastos com pagamento aos bancos dos juros relativos ao serviço da dívida pública.
Ora, esses recursos poderiam ser direcionados a investimentos para melhorar, por exemplo, a nossa infraestrutura, essencial à produtividade da economia. E esta é uma prioridade, não só para alavancar expansão mais consistente do PIB, como para reduzir a própria inflação. Afinal, quanto mais conseguirmos produzir para atender à demanda do consumo, menores serão as pressões sobre os preços.
Por outro lado, as causas principais do aumento da inflação no Brasil são os preços de alimentos e serviços, especialmente os de transportes. Será que mais 0,5 pontos na Selic resolverá tal situação? Com o baixo nível de atividade econômica no qual nos encontramos, caminhamos na contramão de outros países que estão baixando as taxas de juros para reativar suas economias. O problema que deveria ser atacado com muito vigor é o custo de se produzir no Brasil, que ficou muito caro e tem nos juros um de seus fatores agravantes. Aumentar a Selic somente piora essa situação.
É inegável que as medidas no sentido de desonerar a folha de pagamento e reduzir as tarifas de energia elétrica foram importantes para numerosos setores. Porém, isso é pouco para uma retomada mais firme do crescimento econômico. Eis aí batendo em nossa porta um preocupante déficit na balança comercial, há muito não verificado. Precisamos reagir, com menos medidas para agradar o discurso constante de alguns teóricos e mais ações efetivas voltadas a reduzir o custo da produção, estimular a indústria e os investimentos e recolocar o Brasil na trilha do crescimento da economia.
José Ricardo Roriz Coelho é presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast-SP), vice-presidente e diretor de competitividade da Fiesp.
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