Do ponto de vista da vida cotidiana do brasileiro, a situação não é das piores. Ou seja, o cidadão, pelo menos por enquanto, não convive com o fantasma do desemprego de forma sistemática e viu, nos últimos anos, sua capacidade de compra ser ampliada.
O que o brasileiro não viu mesmo foi a melhoria da qualidade dos serviços públicos.
Assim, o atendimento a saúde, educação e transporte ficou esquecido em meio à decisão governamental de se priorizar a criação de empregos por meio de investimentos públicos para alimentação do mercado interno.
Mas não é difícil entender que, à medida que o brasileiro, que antes não tinha acesso aos bens de consumo, ganha penetração no mercado, ele vai exigir também a ampliação de sua cidadania. No momento em que o consumidor despertar para a possibilidade de fazer algo mais do que comprar, é compreensível que ele perceba que suas limitações estão diretamente relacionadas à incapacidade do poder público de cumprir com seus compromissos. Ou seja, a escola não é boa e, assim sendo, não será capaz de habilitar os filhos dessa chamada nova classe média para o mercado.
ALÉM DO CONSUMO…
Não seria muito exagero afirmar que a juventude que está nas ruas forma a geração que pretende muito mais do que consumo.
Se a história fosse encerrada nesse ponto, as chances de as manifestações cessarem com alguns sinais positivos do poder público seriam grandes. Mas é difícil que isso ocorra. A dificuldade pode ser explicada na diferença entre consumismo e cidadania.
O consumo tem esgotamento. Depois de alcançado certo nível de acesso ao mercado consumidor, duas coisas podem acontecer: o desejo de compra se reduz diante do volume de bens adquiridos, e a capacidade de endividamento é achatada.
Portanto, nenhuma classe é capaz de ampliar seu poder de compra sem nenhuma restrição. Já a cidadania não tem limite; quanto mais desenvolvida uma sociedade, mais referências de cidadania existem. O cidadão deste século é muito diferente daquele que existia há 40 ou 50 anos e também não será reconhecido daqui a algumas décadas.
O poder público brasileiro precisa se preparar para lidar com o novo cidadão, a cada dia mais evoluído. Os governos precisam também de assumir mais as própria identidades, cumprindo as suas obrigações e cobrando os deveres dos cidadãos.
(transcrito do jornal O Tempo)
14 de julho de 2013
Carla Kreefftpor
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