"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

SUCESSÃO DO PAPA E SEU IMPACTO NO FUTURO DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL


Como não poderia deixar de ser tenho de me referir à renúncia do Papa Bento XVI. Como não sou religioso, sou ateu, mas considero que o cristianismo e o judaísmo são suas religiões que contribuíram de forma decisiva na construção da civilização ocidental, creio que a sucessão do Papa tem importante impacto no futuro do Ocidente. Vejam que nós ateus jamais seremos militantes do ateísmo, até porque seria negar a própria condição de ser ateu.
Contemplamos soluções para os problemas da humanidade pelo viés da razão, ou seja, valemo-nos dos postulados da ciência, conscientes de que, se ciência não tem limites para avançar no conhecimento, o limite está no cérebro do ser humano que a todo o momento demonstra suas limitações justamente pelas descobertas científicas. As coisas estão dadas pela natureza mas, invariavelmente, a ciência, como único instrumento capaz de devassar o incognoscível, pode levar séculos para descobrir algo ou, quem sabe, consumir todas as eras sem contudo encontrar o caminho que conduz à descoberta das variáveis que interferem para a existência de determinado fenômeno.
Esta, em rápidas palavras, constitui minha visão de mundo. Assim sendo, jamais condenarei aqueles que orientam sua conduta pelos postulados da fé. Seria uma completa idiotice descurar a importância desses dois ramos religiosos: o cristianismo e o judaísmo. Até porque defendo cristãos e judeus que continuam sendo perseguidos em várias partes do mundo, o que é uma coisa repulsiva e inaceitável sob todos os pontos de vista.
Se o cristianismo não tivesse impacto concreto no conjunto de valores que tipificam a civilização ocidental a renúncia do Papa não teria essa importância. Haja vista que os veículos de comunicação em todo o planeta noticiam e analisam esse acontecimento.
Depois de uma passada pelos principais sites noticiosos resolvi recolher do blog do jornalista Reinaldo Azevedo, post em que analisa o evento. Isto porque Reinaldo Azevedo é católico praticante e reúne o conhecimento de quem perscruta com dedicação assuntos ligados às religiões, especialmente o credo católico. A isto deve-se acrescentar que em suas análises Reinaldo Azevedo não deixa de contemplar o viés político que se insere no âmbito da Igreja Católica.
Sem favor nenhum, o que Reinaldo escreveu até agora e deve prosseguir escrevendo ao longo do processo de sucessão do Papa, é digno de nota por todas essas razões que declino aqui. E, mais ainda, pelo fato de que com ele concordo inteiramente no que respeita à intransigente defesa dos valores que tipificam a civilização ocidental. Muitos desses valores, como já afirmei inúmeras vezes, estão fundamentados nas duas mais importantes religiões: o cristianismo e o judaísmo.
Sobram, portanto, razões para se acompanhar, sim, o que acontecerá no Vaticano até a eleição do novo guia espiritual dos católicos.
Transcrevo a seguir o texto de Reinaldo Azevedo e, ao mesmo tempo, recomendo a todos aqueles que me honram com a sua leitura, sejam religiosos ou não, que acompanhem atentamente as análises formuladas por Reinaldo. É o que há de melhor sobre o assunto. A foto que ilustra este post é do site da revista Veja. Leiam a análise que ele apresenta.
ricardo noblat
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Má notícia para os católicos: “Bento 16 anunciou a sua renúncia”. Boa notícia para os católicos: “Bento 16 anunciou a sua renúncia”. Para que se entenda direito o que quero dizer, será preciso voltar um pouco no tempo, ao processo sucessório que resultou na escolha do então cardeal Josef Ratzinger para o Trono de Pedro. Que eu me lembre (se estiver errado, alguém o demonstrará), fui dos poucos, talvez o único, dos que escreveram sobre o assunto a fazer a aposta certa no site Primeira Leitura. Dizia-se, então, que, depois de João Paulo II, era chegada a hora de um “papa progressista”, de um papa latino-americano, de um papa africano — misturando-se, de resto, geografia com categoria teológica.
Um papa africano não quer dizer, necessariamente, um papa “progressista” segundo os critérios mixurucas que se empregam por aí para definir o “progressismo”. O cardeal Peter Turkson, de Gana, por exemplo, é um crítico das violências cometidas na África por grupos islâmicos. Os europeus ou os “teólogos da libertação” da América Latina costumam se calar. Mas retomo: todos os que, no fundo, não gostam a Igreja e rejeitam seus postulados — e seu apostolado — tinham uma boa saída para a sucessão de João Paulo II. E valia qualquer um, menos o tal Ratzinger, que, no entanto, se fez papa.
Com a renúncia de agora, abre-se a nova temporada de apostas. “Um progressista”, “um não europeu”, “um latino-americano”, o “primeiro papa negro”… Pode acontecer uma dessas coisas ou duas ou três combinadas, claro!, mas o menos provável é que o sucessor de Bento 16 abrace a plataforma do sonho dos laicistas ou “progressistas”, que, para triunfo da lógica (embora tentem fingir o contrário), não têm uma plataforma para fortalecer a Igreja, mas para destruí-la, certo? Se a Santa Madre adere à plataforma que muita gente pretende modernizadora, a instituição ficaria mais próxima, deixem-me ver, das alas mais à esquerda do Partido Democrata… E a Igreja, é preciso convir, é outra coisa.
É, sim, uma má notícia a renúncia de Bento 16 porque ele tem levado adiante uma plataforma de moralização da Igreja — sem promover a carnificina pela qual muitos torciam e sem fazer concessões em matéria doutrinária. Mas também é uma boa notícia para os católicos (e se está dando pouco relevo a este aspecto) porque papa morto não fala; se não fala, também não intervém, não articula, não negocia, não faz política — tudo aquilo que, vivo, Bento 16 pode fazer nos próximos dias e mesmo nos dias seguintes à sua renúncia, no curso do mês de março, quando, então, se vai decidir o seu sucessor.
A primeira renúncia de um papa em mais de seis séculos não é um fato corriqueiro, é evidente. O fato, em si, evidencia que ele próprio tem claro que deixar a sucessão para depois de sua morte traz embutidos alguns perigos. As teorias conspiratórias se avolumam. A Igreja sempre excitou a imaginação dos caçadores de tramas secretas. Alguns eventos recentes serviram para conferir verossimilhança mesmo às hipóteses mais estrambóticas. O jornal italiano Il Fatto Quotidiano, por exemplo, noticiou que o bispo colombiano Darío Castrillón Hoyos enviou uma carta ao papa em que relata uma viagem empreendida à China por Paolo Romeo, arcebispo de Palermo, na Sicília. Nessa viagem, teria comentado com autoridades chinesas que o papa estaria morto em um ano… A China envolvida numa conspiração para matar o papa e entronizar na Santa Sé um agente de seus interesses rende um eletrizante filme B. A morte de João Paulo I gerou especulações as mais variadas: inventou-se o mito de que queria distribuir as riquezas do Vaticano e, por isso, fora assassinado.
 
Tendo a dar pouca importância a essas hipóteses muito rocambolescas.
O mesmo cardeal Ratzinger, que respondeu pela doutrina durante o pontificado do midiático João Paulo II, está presente no papa Bento 16.
 
Parece-me que ele antecipa a sua sucessão para ter a certeza de que a Igreja não vai se converter apenas num clube de pessoas bem-intencionadas, tarefa que pode ser cumprida por partidos, por ONGs, por associações laicas.
 
Seu sucessor vai dizer se a renúncia foi o último gesto do cardeal de pulso firme — é a minha aposta — ou se deixa o Pontificado porque incapaz de conciliar as várias correntes da Igreja.
 
13 de fevereiro de 2013
Reinaldo Azevedo

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