"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"AEROPRIVATARIA" DO PT

Infraero paga até 49% do investimento, mas não vai mandar nada nos aeroportos privatizados.

A não ser que haja uma reviravolta nas próximas horas ou que um dos ministros peça vistas do processo, arcando com o custo político disso, o Tribunal de Contas da União (TCU) dará, hoje à tarde, sinal verde para o leilão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. Dessa forma, fica superado o último obstáculo para a disputa, marcada para dia 6. Ontem, em mais um passo que abriu caminho para a concessão dos aeroportos, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) considerou improcedentes cinco pedidos de impugnação de itens do edital.

A análise do TCU não obrigará o governo a fazer mudanças no edital que exijam a reabertura dos prazos legais, conforme o Valor apurou. Na questão considerada mais polêmica - a participação acionária de 49% que a Infraero terá nas futuras concessionárias -, o tribunal abrandou sua cobrança. Em dezembro, os ministros do TCU aprovaram os estudos econômicos para a concessão dos aeroportos, mas recomendaram reduzir ou mesmo retirar totalmente a fatia da Infraero nas empresas criadas para gerir os terminais.

Agora, o tribunal suavizará a recomendação, sugerindo apenas que o governo avalie a "real necessidade" de participação da estatal em futuras concessões. Há pelo menos seis determinações, relacionadas principalmente a procedimentos de fiscalização e à forma de apresentação dos estudos econômicos, no relatório que será apreciado pelos ministros na sessão plenária de hoje. Nenhuma determinação ou recomendação, no entanto, diz respeito ao limite de 2% imposto pelo governo à participação de companhias aéreas nos consórcios. Um temor no governo era o de possíveis exigências de mudança nesse limite, o que poderia gerar a necessidade de contagem de novo prazo de 45 dias entre a republicação do edital e o leilão.

Apesar de rumores nas últimas semanas, o TCU não cogitou suspender o leilão e enviou mensagens tranquilizadoras à Secretaria de Aviação Civil. O ministro-relator do processo das concessões no tribunal, Aroldo Cedraz, fez várias reuniões com integrantes do primeiro escalão do governo. Agora, o Palácio do Planalto precisará monitorar a situação de ações judiciais que estão sendo abertas. O Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina) decidiu ontem pedir liminares contra o leilão. "É muito provável que, entre amanhã (hoje) e sexta-feira, a gente distribua algumas ações na Justiça Federal de São Paulo e de Brasília. Verificamos várias ilegalidades no processo de concessão. No mínimo, vamos pedir que o edital seja levado novamente para audiência pública", afirmou o presidente do sindicato, Francisco Lemos.

Em Campinas, uma ação popular foi protocolada na 8º Vara Federal, alegando que a concessão está "eivada de vícios" e "contraria os interesses nacionais". A ação foi movida por aeroportuários que trabalham em Viracopos, mas na condição de pessoas físicas, sem vinculação formal com sindicatos. Em termos administrativos, o caminho estará desimpedido com o aval do TCU e da Anac, e as propostas e documentação dos interessados deverão ser apresentadas amanhã. Cinco pedidos de impugnação foram recebidos pela agência reguladora. ARG , ATP Engenharia, Global Participações em Energia, Instituto de Transporte Aéreo do Brasil e MPE - Montagens e Processos Especiais encaminharam pedidos de impugnação.

A MPE, por exemplo, fez críticas à indefinição de responsabilidades da Infraero na sociedade formada com empresas privadas para gerir os aeroportos. "O edital não traz, nem em suas condições gerais e tampouco em seus anexos, a definição e delimitação dos riscos da empresa privada e da Infraero", diz o pedido enviado à Anac. A MPE protestou contra os poderes dados à estatal e afirmou que isso interfere na capacidade de financiamento das futuras concessionárias. "Aliás, o que o edital deixa a todo tempo transparecer é que a Infraero fica blindada de todos os riscos durante a concessão."
Outras contestações envolvem a exigência de operadora estrangeira nos consórcios e o prazo exíguo para a busca de parcerias.
(Valor Econômico)
01 de fevereiro de 2012

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