Excelente reportagem de Luiz Magalhães, em O Globo, revela que, surpreendentemente, o prefeito Eduardo Paes, no acentuado e repetido impulso de urbanizar a zona portuária do Rio, através de empreendimentos imobiliários, decidiu transferir da Barra da Tijuca para o Porto as futuras instalações administrativas dos Jogos Olímpicos de 2016.
Já seria um absurdo. Mas não é só isso. Paralelamente, escolheu a empresa Solace – acentua a matéria – para construir dois mil apartamentos, em que local? Nas imediações da Rodoviária Novo Rio. Não será fácil revendê-los. Ainda por cima, anunciou como outra meta financiar a construção de dois hotéis cinco estrelas, onde? Na Avenida Francisco Bicalho.
As localizações falam pelo caráter impróprio dos empreendimentos. Em ambos os casos, será difícil encontrar mercado positivo, autossustentável, portanto. Os corretores que operarem nas transações vão se deparar com obstáculos para receber sua participação legítima. O retorno financeiro ficará restrito a poucos. O prejuízo repassado para muitos. Toda a população carioca.
Não é possível levar-se a sério uma ideia dessas. Vá lá que os terrenos, principalmente os situados ao longo da Avenida Rodrigues Alves são públicos e assim as empresas construtoras não teriam que arcar com os custos iniciais. Mas há os relativos à realização das obras. São vultosos.
Dois mil apartamentos incluem, no mínimo. 10 edifícios. Dois hotéis cinco estrelas são caríssimos pelas instalações que oferecem. De acordo com Luiz Ernesto Magalhães, o prefeito levanta a hipótese de financiamento por intermédio do Fundo de Previdência dos Servidores do Município. Não acredito. Em primeiro lugar, porque a Prefeitura encontra-se em débito para com este fundo. Em segundo lugar, porque os desembolsos necessários são de tal vulto que colocariam em risco a folha de pagamento dos aposentados e pensionistas. São, me parece, 70 mil pessoas.
Afinal de contas, o empreendimento só tem riscos. Menos, claro, para a Solace. Eduardo Paes informou que está articulando um esquema de financiamento com a Caixa Econômica Federal. Envolve, assim o governo Dilma Rousseff. Não vejo motivo, francamente, para a sensação de certeza que o alcaide empenha-se em passar para a opinião pública.
Minha mulher, Elena, levanta a questão de como tais empreendimentos virão a funcionar depois das Olimpíadas? Acentua o exemplo dos investimentos imobiliários feitos na Barra e Recreio pelo ex-prefeito Cesar Maia destinados ao Panamericano de 2007 e que ficaram inaproveitados.
Conjuntos residenciais apresentaram rachaduras e problemas até de afundamento. Aliás, por falar em algo movediço, qual a solução adotada pela Prefeitura? O exemplo de Barcelona, infelizmente, não foi seguido no Brasil. É sempre assim. O dinheiro sai, seu retorno não volta. Delfim Neto, quando foi o ditador da política econômica brasileira, governo Médici, levantou a teoria do bolo para traçar um caminho para a redistribuição de renda: primeiro fazer o bolo crescer, depois dividir os pedaços. Uma piada, mais uma que ficou na história.
Eduardo Paes, agora, 2012, quer contar outra ao povo, parecida com aquela. Se não tem pão, coma brioche.
12 de março de 2012
Pedro do Coutto
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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