"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 25 de abril de 2012

É IMPORTANTE A VITÓRIA DA ESQUERDA NA ELEIÇÃO DA FRANÇA

A vitória da esquerda francesa é necessária para se contrapor à hegemonia neoliberal que está destruindo os direitos sociais e o Estado de Bem-Estar Social para fazer economia de recursos em benefício dos rentistas das dívidas públicas.

O resultado do primeiro turno da eleição presidencial francesa expressa um quadro de extrema divisão política entre os franceses. Hollande (socialista, centro-esquerda) com 28,6% dos votos, seguido por Sarkozy (direita mais moderada que a Frente Nacional) com 27,2%, Le Pen (extrema-direita da Frente Nacional) com 18% e o candidato da extrema-esquerda com 11%. Desta forma, temos um resultado global entre esquerda e direita de 45,2% a 39,6% favorecendo a direita.

A grande incógnita é qual dos dois candidatos ao segundo truno vai receber a maioria dos votos de Le Pen. Embora a lógica aponte Sarkozy como o destinatário final desse contingente eleitoral, não está nada definido. A principal questão é se os eleitores da extrema-direita comparecerão maciçamente às urnas como ocorreu no primeiro escrutínio, no qual o índice de comparecimento geral foi de 80% dos eleitores, elevado, o que denota mobilização do eleitorado francês, contrapondo uma tendência havida recentemente de apatia política na França e no resto da Europa.

Podemos também comparar a atual situação com a ocorrida em 2002, quando houve baixo comparecimento eleitoral do eleitorado socialista, e Le Pen foi para o segundo turno contra Chirac, derrotando o candidato socialista Jospin.

A vitória da esquerda francesa é necessária para se contrapor à hegemonia neoliberal e à financeirização da economia, prevalência do setor financeiro frente ao setor produtivo, que está destruindo os direitos sociais e o Estado de Bem Estar Social para fazer economia de recursos em benefício dos pagar os rentistas das dívidas públicas.

A sociedade civil dos países europeus deve se mobilizar e votar contra aqueles que pretendem exterminar os direitos trabalhistas que os trabalhadores demoraram mais de cem anos para conquistar. A relação entre os fatores capital e trabalho, no neoliberalismo, é extremamente assimétrica em favor do capital, e a social democracia francesa deve manter os benefícios sociais e trabalhistas do povo para evitar a preponderância desmesurada do capital, dos bancos e das finanças, em detrimento dos cidadãos, dos operários e dos sindicatos.

A perspectiva é favorável a Hollande para o 2º turno, já que ele deve ser o principal beneficiário dos votos de Mélenchon, candidato de extrema esquerda que obteve cerca de 11 % no 1º escrutínio. Além disso, Hollande deve obter a maioria absoluta dos votos dados aos candidatos do partido verde ecologista (cerca de 3% dos sufrágios) e dos votos dos outros candidatos da extrema esquerda (cerca de 600 mil votos).



A vitória socialista é relevante também para que se consagre uma política de maior tolerância em relação à imigração. Não é justo que as outrora metrópoles coloniais européias, além da França, a Espanha, a Alemanha, a Inglaterra, a Holanda, a Bélgica, depois de pilhar as riquezas das antigas colônias e explorá-las até a exaustão, causando a miséria da África, do Oriente Médio e da América Latina, simplesmente expulsem e deportes os habitantes das ex-colônias, escorraçando-os para fora das suas fronteiras. A França socialista será importante para fazer um contraponto aos governos xenófobos de extrema-direita de alguns países europeus.”

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