"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 25 de abril de 2012

O CONSERVADORISMO AMERICANO E A IGREJA CATÓLICA


          Artigos - Conservadorismo        
Protestantismo e Catolicismo, que têm se digladiado ao longo da história, encontraram-se em pleno acordo em face da secularização e do relativismo moral, numa combinação de forças que tem fornecido apoio significativo para o movimento conservador nos Estados Unidos.

A relação entre o movimento conservador moderno e a Igreja Católica nos Estados Unidos está começando a ser compreendida agora. Apesar da evidência de uma relação estreita entre Catolicismo e Conservadorismo, a Igreja é quase sempre considerada uma instituição esquerdista, enquanto a Igreja Católica nega oficialmente qualquer conexão inerente a qualquer partido político ou ideologia.
Ainda assim, a conexão entre o Conservadorismo americano e o Catolicismo é muito mais forte do que normalmente se entende, tanto que a Igreja pode ser melhor entendida mais como uma instituição conservadora do que esquerdista.

As origens católicas do conservadorismo americano
 

Um dos fatos ignorados acerca do movimento conservador moderno é o papel imprescindível dos católicos [1]. De fato, é quase possível crer que o movimento conservador nos Estados Unidos é um movimento amplamente católico, mas isso seria superestimar a influência dos católicos.
O movimento conservador não era uma tentativa explícita de católicos leigos ou da própria Igreja de construir um movimento ou braço para obter influência política para a Igreja Católica (ao contrário da Moral Majority [2], que foi uma clara tentativa de se criar uma facção secular e se obter influência política direta para o Protestantismo evangélico).

A Igreja Católica nos Estados Unidos, ao contrário com a Igreja na Europa, não se aliou oficialmente a nenhum partido político ou movimento ideológico, respeitando a separação americana entre igreja e Estado. Na verdade, a influência católica tende a ser mais difusa, representando a grande variedade de opiniões políticas de seus membros.

Os maiores representantes do Catolicismo no movimento conservador, bastante conhecidos pelos leitores desta revista, são William F. Buckley e Russell Kirk, os fundadores de National Review e Modern Age, respectivamente. Buckley era um católico de berço que freqüentou uma escola confessional católica inglesa. Ele possuía uma forte visão tradicional da Igreja e era um opositor da Missa em língua vernácula resultante do Concílio Vaticano II (CV-II) [3].
A National Review tratava diretamente e com freqüência de questões católicas, sendo conhecida tanto por ter atacado as encíclicas do Papa João XXIII quanto pelas críticas à neo-marxista Teologia da Libertação, que emergiu na América Latina [4]. Russell Kirk, cujo livro The Conservative Mind foi publicado em diversas edições, encorajou fortemente uma forma tradicionalista de pensamento conservador.
Era católico converso, mas já havia estabelecido sua filosofia conservadora quando ingressou na Igreja [5].

Enquanto Buckley representa a influência dos católicos de berço cujas crenças religiosas os fizeram críticos agudos do desenvolvimento político e social americano pós-Segunda Guerra, Kirk representa os conservadores católicos que ingressaram na Igreja por razões pessoais de fé, certamente, mas também porque seu conservadorismo estava explícita e fortemente representado na Igreja Católica.
A presença de um grande número de católicos de berço no movimento conservador e a tendência de conservadores em se converterem em católicos levanta a questão: qual é o nexo entre Catolicismo e Conservadorismo?

Existe um grande elo entre Catolicismo e Conservadorismo, e isso pode ser observado sob cinco aspectos. Primeiro, há o respeito pela tradição, ou seja, o postulado burkeano de que qualquer instituição social vigente por um longo tempo e servindo bem às pessoas possui certo poder sobre nós. A Igreja Católica contribuiu de modo essencial e distinto para a civilização ocidental nas artes, na literatura, na música, na teologia, na filosofia e – não menos importante – na divulgação do evangelho cristão, que teve um efeito civilizatório sobre muitos povos da Europa, sobretudo aqueles originalmente chamados de “bárbaros”.

Segundo, há um realismo moral intrínseco às doutrinas e práticas da Igreja que pressupõe a existência e a distinção reais entre bem e mal. Enquanto a ordem do mundo europeu colapsou durante o século XX sob o peso de guerras totais e movimentos totalitários, bem e mal foram relegados ao posto de antigas idéias facilmente descartáveis ante o massacre do puro poder político. A contínua defesa da existência de uma ordem moral objetiva, por parte da Igreja Católica, parece, portanto, providencial e salutar.

Terceiro, havia uma política de anti-comunismo, que foi particularmente notável após a Segunda Guerra, quando a Igreja apoiou partidos de centro e centro-esquerda na Itália e na França em oposição a partidos comunistas. Nos Estados Unidos dos anos 1950, figuras como o Bispo Sheen [6] e o Cardeal Spellman [7] opuseram-se vigorosamente ao Comunismo; um resultado desconcertante do CV-II foi a mudança efetiva da Igreja de uma política anti-comunista para uma política anti-anti-comunista.

Quarto, a Igreja Católica fornece um exemplo primário de uma instituição que sobrevive na história não porque permanece estática, mas porque muda gradativamente ao longo do tempo, acomodando-se a novas circunstâncias enquanto retém sua identidade essencial. Assim, os efeitos confusos do CV-II contribuíram para uma aparente mudança radical na Igreja e um doloroso teste de fé para muitos católicos conservadores.

Alterações na ordem da Missa e a reversão da política anti-comunista causaram uma discórdia especialmente severa.
Finalmente, e apelando especialmente para os intelectuais conservadores, está a defesa, pela Igreja, da lei natural, que é consoante à doutrina dos direitos naturais fundada pela prática do direito americano e escrita na Declaração de Independência, que se refere à “natureza de Deus” como sendo a fonte dos direitos e de uma ordem moral implícita, de acordo com a qual as ações dos agentes políticos podem ser justa e racionalmente julgadas [8].

Isso não significa que o Catolicismo e o Conservadorismo americano são compatíveis em tudo. A tradição conservadora americana é diversa, tendendo especialmente para o princípio da liberdade pessoal face a controles estatais. A tradição católica é comunitária e familiar, vendo o indivíduo como algo ligado a uma rede de conexões sociais e responsabilidades cuja origem é divina.

Esse comunitarismo contradiz fortemente o individualismo que compõe inerentemente a cultura americana, como expressa em especial a vertente libertária do conservadorismo contemporâneo. Anteriormente, o magistério católico havia criticado a doutrina dos direitos individuais; isso, entretanto, está mudando.
Desde o CV-II, os documentos oficiais da Igreja defenderam a liberdade de consciência individual para defender a religião em lugares onde a Igreja é constantemente perseguida, como na China, ou onde o culto cristão é bastante restrito, como nas nações islâmicas [9].

Outro ponto semelhante de desacordo refere-se ao capitalismo de livre mercado. Teólogos católicos continentais há muito nutrem uma animosidade sobre a organização social “anglo-saxônica” da Inglaterra e dos Estados Unidos com sua ênfase na liberdade política e no desenvolvimento monetário [10].
Isso pode ser apenas um preconceito cultural, mas, na verdade, a doutrina social da Igreja não se sente à vontade com uma forma irrefreada de capitalismo na qual não há nenhuma rede reaganiana de segurança (pelo menos) para aqueles que não se beneficiam diretamente do livre mercado.
A doutrina católica advogava a promoção da solidariedade comunal com algumas garantias de moradia e dividendos para todos, e de uma perspectiva católica, a filosofia do capitalismo desenfreado eleva o livre mercado como um falso ídolo.
Novamente, entretanto, as atitudes católicas estão mudando para uma posição mais conservadora; a última encíclica social do Papa João Paulo II aprovou o livre mercado como uma maneira eficiente de estabelecer preços e alocar recursos, e proeminentes leigos católicos, como William Simon e Michael Novak, defenderam que o livre mercado é compatível com o pensamento católico [11].

A Igreja esquerdista
 

Enquanto não há nada nos documentos do CV-II que liga explicitamente o Catolicismo à filosofia social esquerdista, liberais e progressistas se valeram do Concílio para promover seus programas e filosofias dentro da Igreja. O CV-II urgiu pela participação dos leigos no mundo, de modo que a mensagem cristã pudesse espalhar-se por todos os âmbitos da sociedade.
Sem o devido delineamento dos bispos que participaram do Concílio e sob cuja supervisão seus documentos foram escritos, foi automaticamente interpretado que as reformas conciliares significavam um ativismo social semelhante ao promovido por esquemas e agendas de esquerda.
Os bispos, incluindo os papas que iniciaram o Concílio, João XXIII e Paulo VI, não desconfiavam de quão rapidamente essas mudanças deixariam a Igreja sob a pressão de diversos libelos da esquerda, incluindo feministas, pacifistas, especialistas em liturgia, radicais anarquistas e defensores da expansão do estado de bem-estar [12].
Autoridades da Igreja foram surpreendidas por alguns fatos até que se viram obrigadas a puxar as rédeas e restabelecer as linhas de autoridade, como aconteceu sob os papas João Paulo II e Bento XVI.

Uma das reformas do CV-II foi conferir um maior grau de autoridade e independência aos conselhos nacionais de bispos católicos, fazendo com que não mais precisassem esperar por diretrizes do Vaticano [13]. Nos Estados Unidos, os bispos fizeram política em seus encontros anuais e utilizaram a burocracia da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) para promulgar essas políticas e fazê-las serem aplicadas. Uma vez que tanto os encontros anuais quanto a USCCB são sediados em Washington, D.C., isso contribuiu para que a Igreja se tornasse um grupo de lobby do Dupont Circle [14] promovendo uma agenda esquerdista em praticamente todas as áreas de políticas públicas e assuntos internos e externos [15].
Todavia, as políticas da USCCB, que pretendem “compartilhar a doutrina social da Igreja”, têm atraído a oposição de conservadores católicos que e outros críticos que não apenas possuem uma visão ideológica distinta desses assuntos, mas que também possuem mais conhecimento sobre tais assuntos do que a equipe do USCCB que escreve a faz lobby dessas políticas. A única exceção à orientação esquerdista adotada pela USCCB encontra-se na área de sexo e reprodução, incluindo aborto, casamento gay, clonagem e pesquisas com células-tronco.

A idéia de que a Igreja tornou-se politicamente esquerdista e progressista foi encorajada pelos escritos dos dois papas que supervisionaram o CV-II. João XXIII promulgou duas importantes encíclicas e, como mencionado acima, Mater et Magistra, em particular, foi criticada pela National Review.
É verdade, todavia, que essa encíclica era um ensaio sensível sobre a doutrina social católica tal qual havia sido desenvolvida até aquele tempo, e pareceu que a crítica conservadora focava mais seu tom utópico ou sua intenção presumida do que seus postulados específicos.
Paulo VI, por outro lado, em seu documento (não é uma encíclica) Populorum Progressio expressou uma profunda preocupação pela justiça no Terceiro Mundo e condenou as políticas econômicas do Primeiro Mundo [16]. Não apenas progressivas, mas radicais dimensões da doutrina social católica foram rapidamente desenvolvidas pela Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM), que empregou explicitamente linguagem e temas marxistas para denunciar o capitalismo americano.
Uma importante contribuição da CELAM foi promover a doutrina da opção preferencial pelos pobres, que num instante tornou-se o padrão usual pelo qual políticas econômicas e sociais eram julgadas e promovidas pelos bispos americanos e pela USCCB [17].

Os bispos promulgaram, nos anos 1980, uma carta pastoral intitulada “Justiça Econômica para Todos”, que deveria ser um guia para a ação social católica em audiências públicas sobre questões econômicas, uma nova maneira de se fazer as coisas [18].
Apesar do modo aberto com o qual opiniões eram buscadas e a importância do tópico, a carta foi um desastre, uma vez que era basicamente um documento coletivo com uma tendência geral para reformas sociais e econômicas progressistas, mas cujas recomendações não possuíam nenhum sentido consistente. Ao contrário de uma carta pastoral anterior sobre a guerra nuclear, a carta sobre economia não surtiu efeito em âmbito nacional.

As políticas sociais de esquerda defendidas por católicos liberais depois do CV-II foram tão influenciadas pelo pensamento esquerdista contemporâneo quanto pelos Evangelhos. A opção preferencial pelos pobres reflete o argumento do filósofo político esquerdista John Rawls [19] de que desigualdades econômicas e sociais só podem ser justificadas por seu efeito positivo nos mais pobres da sociedade [20].
É importante notar que essa opção preferencial marca uma divergência significativa com a preocupação pregressa da Igreja conforme refletida nas encíclicas sociais de papas anteriores. O objetivo dessas encíclicas era fornecer um argumento moral em favor dos trabalhadores e suas famílias, que eram vistos como menos poderosos do que os donos de fábricas e empresas comerciais que os empregavam.
Em meio ao processo de rápida industrialização, a Igreja estava ansiosa por proteger aquelas pessoas que, em larga escala, haviam deixado suas fazendas para se tornarem operárias nas grandes cidades [21]. A opção preferencial pelos pobres, no entanto, substituiu a preocupação da Igreja por trabalhadores produtivos por aqueles que estão nas últimas camadas sociais e não podem contribuir para ela.

Assim sendo, a Igreja, com efeito, deu as costas aos trabalhadores e cidadãos de classe média, que parecem não mais necessitar de sua defesa. Parece agora que, ao defender a opção preferencial pelos pobres em uma era de expansão global de uma economia industrial capitalista, a Igreja deseja atrair atenção àqueles que não podem participar dessa expansão. Defensores católicos da doutrina social progressista nos Estados Unidos tendem a igualar a opção preferencial pelos pobres diretamente à expansão dos benefícios do estado de bem-estar e devem ter achado desconcertante quando o Papa João Paulo II, em sua última encíclica social, declarou que a “assistência social do Estado”, ou seja, o estado de bem-estar, não era um reflexo na preocupação evangélica pelos pobres, e que o livre mercado era um meio de distribuição mais valioso [22].

O perigo da influência esquerdista sobre a Igreja Católica pode ser visto em seus efeitos. Primeiro, a promoção do engajamento social como uma vocação cristã preferencial após o CV-II resultou, por um lado, no abandono da vocação por parte de muitos sacerdotes e religiosos, e, por outro, no declínio de novas vocações, das quais a Igreja depende para sua existência.
Ativismo social supera a dedicação sacramental na igreja esquerdista. Segundo, fiéis liberais, tanto homens quanto mulheres, duvidam da legitimidade da idéia de que a Igreja é uma instituição fundada por Deus, e argumentam que a Igreja deveria cultivar uma idéia mais humilde de si mesma.
Os liberais opõem-se por princípio ao suposto triunfalismo da Igreja e pensam que a única atitude suficiente para reparar o anti-semitismo católico é adotar um grau de auto-abnegação equivalente a um suicídio institucional [23].

Há, na igreja esquerdista, um espírito de anti-autoridade geral que vai além do mero ressentimento das atitudes de império de padres e prelados na igreja imigrante. Ou melhor, é uma atitude que nega ou procura menosprezar a relevância das normas históricas e das estruturas institucionais presentes na Igreja.
O absolutismo de regras morais, o sacerdócio masculino, a existência do Inferno, e a autoridade papal são atacados como se nenhum impedimento a reformas radicais na Igreja ou restrições a quaisquer crenças ou comportamentos individuais fossem aceitáveis. A existência da Igreja Católica em sua forma histórica é vista pelos liberais como um impedimento à consecução da verdadeira liberdade e da perfeição terrena.

A Igreja conservadora
 

Não demorou muito para que ocorresse uma reação contra os liberais que dominaram e instituíram as reformas, primeiro por padres e leigos católicos tradicionalistas, mas subseqüentemente ao nível do papado [24]. A ascensão de João Paulo II parece providencial nesse sentido. Críticos liberais enxergavam-no como uma figura reacionária, ainda que João Paulo II e seu sucessor, Bento XVI, não estivessem voltando o relógio da Igreja para o período pré-Vaticano II. Ao contrário, esses dois papas estavam fazendo avançar os reais objetivos do CV-II, pois a eles parecia que os efeitos do concílio haviam ido longe demais.

João Paulo II e Bento XVI não são totalmente reacionários, mas representantes de uma reação termidoriana [25] eclesial lutando contra os excessos das reformas pós-conciliares e tentando trazer a Igreja de volta à forma originalmente pensada pelos padres conciliares.
Nunca foi intenção dos bispos do concílio abolirem antigas tradições católicas, e dentre essas reformas há um enorme desejo de que o antigo Rito Tridentino (a Forma Extraordinária) da Missa permanecesse disponível àqueles que o quisessem, e, nos últimos tempos, introduzir breves seções de latim na Missa vernacular (a Forma Ordinária ou Novus Ordo); católicos favoráveis à reforma litúrgica enxergam isso como uma completa reviravolta ao invés de uma acomodação.

No entanto, João Paulo II esmagou pesadamente o movimento pelo sacerdócio feminino mesmo quando, triunfante, perambulou pelas maiores cidades do mundo.
Durante seu longo papado, João Paulo II escreveu e enviou ao mundo uma grande quantidade de escritos que tratando não apenas de questões espirituais, mas também culturais, políticas e econômicas. Houve importantes encíclicas se opondo ao relativismo moral e epistemológico, e outra sobre a relação da fé com a razão direcionada a teólogos católicos, mas também de interesse direto para filósofos e intelectuais preocupados com essa questão [26]. Houve outros escritos, mas foi por sua própria presença como líder carismático, que freqüentemente ofuscava os políticos com os quais se encontrava, que João Paulo II foi influente, reavivando a confiança de muitos católicos em sua fé e, não incidentalmente, inspirando muitos jovens católicos a se tornarem padres.

Foi por sua presença carismática que ele inspirou o movimento Solidariedade na Polônia, e sua manobra conspiratória com Zbigniew Brzezinski (também polonês de berço), o movimento trabalhista americano, e o presidente Reagan foi decisiva para solapar os regimes comunistas na Polônia e no leste europeu – e, eventualmente, na própria Rússia [27]. O papado de João Paulo II foi enormemente influente, uma vez que reavivou o senso de tradição católica e cumpriu a política anti-comunista da Igreja na Europa.

Há uma igreja conservadora semelhante que consiste em instituições educacionais, editoras e uma rede de televisão que coexiste com a igreja esquerdista. Dentre elas há faculdades, incluindo University of Dallas, Fraciscan University of Steubenville, Ave Maria College and Law School, e Thomas More College, a maior parte sendo instituições recentes fundadas por leigos com tendências tradicionalistas ou conservadoras (Thomas More e outras faculdades tradicionalistas são freqüentemente propagandeadas pela National Review).

Essas faculdades produzem mais sacerdotes e religiosos dentre seus alunos, absoluta ou relativamente, do que faculdades e universidades católicas mais antigas e melhor estabelecidas. Há diversos diários católicos conservadores, incluindo Crisis (antigamente Catholicism Crisis), fundado por Ralph McInerny e Michael Novak, enquanto o National Catholic Register é a contraparte tradicionalista semanal do esquerdista National Catholic Reporter. Ignatius Press, fundada por Joseph Fessio, S.J., é a maior fornecedora de livros, Bíblias, DVDs e gravações de áudio para a igreja conservadora.

O elemento mais visível e ímpar da igreja conservadora é a Eternal Word Television Network (EWTN), fundada por uma freira carismática, Madre Angelica, e diretamente financiada por seus telespectadores. A EWTN transmite 24 horas por dia, 7 dias por semana, e produz a maior parte de sua programação em Irondale, Alabama.

A Igreja Católica nos Estados Unidos compartilha algumas tendências religiosas e culturais com o Protestantismo em suas variadas formas. Uma dessas tendências é enxergar a necessidade de restaurar os valores tradicionais e opor-se à recente secularização da política americana, algo defendido também por protestantes tradicionalistas e evangélicos.
Conservadores católicos e protestantes tradicionalistas têm unido forças em questões sociais, como o aborto e a sexualização da mídia, e cristãos tradicionalistas de todas as denominações receberam entusiasticamente o filme “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson [28].
Protestantismo e Catolicismo, que têm se digladiado ao longo da história, encontraram-se em pleno acordo em face da secularização e do relativismo moral, numa combinação de forças que tem fornecido apoio significativo para o movimento conservador nos Estados Unidos.

A Igreja Católica dividida
 

O dilema do Catolicismo americano é uma situação de profundo conflito entre aqueles caracterizados como esquerdistas, liberais ou progressistas, de um lado, e os direitistas ou conservadores do outro. Esse racha interno afeta a maneira como a doutrina é interpretada e compreendida, o modo como os católicos praticam sua religião individualmente, e suas opiniões sobre política, cultura, e o papel da Igreja na arena pública.

É possível, até mesmo provável, que um católico conservador irá discordar de um comunicado que os bispos católicos americanos emitem através de sua organização oficial, a USCCB [29]. Por outro lado, é também provável que um católico esquerdista discordará de pronunciamentos e políticas papais que contradigam o “espírito” do Vaticano II, que, não obstante indefinido, pareceu prometer uma maior liberdade de opiniões e ações dentro da Igreja.
É possível tanto a um esquerdista quanto a um conservador ser um “bom católico”, ou seja, ir à Missa regularmente, ser leal à Igreja e tentar obedecer aos Mandamentos.
No entanto, é quase certo que os liberais irão escarnecer práticas católicas tradicionais, como a adoração eucarística e o rosário, ou devoções a santos específicos como Teresa de Lisieux [30], e apoiar a ordenação de mulheres para o sacerdócio.

A mentalidade esquerdista tende a fazer a religião católica se focar em sua preocupação com os pobres e no ativismo social, enquanto menospreza expressões tradicionais sobre os males do pecado e a necessidade de reparação.
Nas Missas católicas de hoje, é comum que quase todos os fiéis recebam a Comunhão mesmo que poucos se confessem, uma situação anômala que resulta mais da apologética do “sentir-se bem” dentro da Igreja do que de um aumento decisivo na santidade da maioria dos católicos.
A mentalidade conservadora se mantém viva à idéia de existência do mal no mundo e à necessidade de combatê-lo, e é particularmente alimentada pela presença do aborto, que é visto como um pecado escandaloso na sociedade americana contemporânea. Católicos conservadores participam de devoções tradicionais e tendem a ver favoravelmente a Forma Extraordinária da Missa.

Nos anos 1980, o Cardeal Bernardin [31], de Chicago, propôs uma solução do tipo “túnica inconsútil” para as divisões entre as tramas esquerdista e conservadora da Igreja [32]. A proposta de Bernardin buscou aplicar a energia do movimento anti-aborto, que caracteriza a igreja conservadora, às questões sociais mais amplas da igreja esquerdista.
Assim, pobreza, preconceito, meio-ambiente e desigualdades de moradia e educação seriam incluídas como questões de “vida”, na esperança de que o mesmo grau de intensidade espontânea que católicos devotos trazem à questão do aborto fosse aplicado a essas questões sociais. O apelo da túnica inconsútil não pegou, ainda que as questões sociais mais amplas sejam utilizadas na retórica institucional da Igreja como “questões de vida”.

A principal razão para sua falha parece ser não tanto a resistência à justiça social dentre os católicos conservadores, mas um resultado de sua maior preocupação acerca do aborto. A defesa feroz dos direitos de aborto na cultura secular reflete uma sensibilidade geral que dessacraliza a vida humana e tem sido expandida para a pesquisa com células-tronco embrionárias, clonagem, eutanásia e suicídio assistido.
Movimentos aliados incluem a legalização do casamento homossexual e uma sexualização tão intensa da cultura popular que mesmo críticos seculares têm noticiado-a e condenado-a [33]. O poder desses movimentos seculares e imorais dentro da sociedade americana apresenta um perigo claro e presente de acordo com a moralidade católica, e choca a consciência dos católicos (e muitos outros) mais do que desigualdades de moradia e renda.

É freqüente a acusação de que os católicos hoje em dia são “católicos de cafeteria”, aceitando aquelas práticas e doutrinas da Igreja que pessoalmente aprovam e negligenciando ou ignorando aquelas que não aprovam.
Essa pecha parece ser imputada igualmente tanto aos liberais quanto aos conservadores no seio da Igreja – estes ignorando a Igreja quanto a pobreza, justiça social e pena capital, aqueles ignorando a Igreja quanto a aborto, moral sexual e autoridade.
No entanto, a pecha aplica-se mais claramente aos liberais, uma vez que a imoralidade do aborto é ponto pacífico, assim como o homossexualismo e a coabitação sem o sacramento do matrimônio, enquanto a Igreja Católica, tanto histórica quanto doutrinariamente, defendeu a autoridade dos bispos e do Papa.

Por outro lado, a posição conservadora quanto à pobreza não nega a missão central dos cristãos em ajudar os pobres, mas questiona como isso deve ser feito. Soluções do estado de bem-estar para a pobreza, questões de saúde e desigualdades sociais chocam-se com uma forte oposição conservadora, o que confere uma falsa impressão de que os conservadores são indiferentes ao sofrimento.
Conservadores confiam em soluções do livre mercado para problemas sistêmicos na economia e enfatizam a obrigação pessoal de ajudar os pobres que conhecemos e dentre os quais vivemos ao invés de apoiar programas governamentais maciços cuja ineficiência e desperdício são notórios (Dorothy Day [34], uma heroína do Catolicismo esquerdista, opôs-se aos programas de bem-estar de Franklin Roosevelt e Lyndon Johnson [35]). No tocante à pena de morte, de acordo com o Catecismo da Igreja Católica, sua imposição é permitida, ainda que critérios significativos devam ser preenchidos para que a pena de morte seja administrada licitamente [36].

Através da USCCB e de sua Campanha para o Desenvolvimento Humano, a Igreja promove institucionalmente o que parece ser uma agenda esquerdista e freqüentemente exerce sua considerável influência em prol de programas governamentais esquerdistas.
Essa atuação se converte em apelo às elites liberais, que constantemente propagandeiam seu senso de compaixão pelos mais pobres e alienados, mas nos Estados Unidos, assim como em outras nações desenvolvidas ao redor do mundo, as elites liberais tendem a ser explicitamente seculares ao ponto de excluir a religião de seus horizontes [37]. Enquanto liberais seculares podem aceitar a ajuda da Igreja no lobby para aumentar a quantidade de cupons de comida ou arrefecer as regras de imigração, essas mesmas elites promovem com a mesma (se não maior) intensidade o casamento gay, o aborto e a pesquisa com células-tronco embrionárias.
Assim, qualquer apelo às elites liberais seculares é deficiente, uma vez que legitima posições que a Igreja considera imorais, mesmo quando a igreja esquerdista recusa a pedir apoio para entidades financeiras, empresariais ou comerciais.

Abraçando o “Conservadorismo Interior” da Igreja
 

O conflito entre liberais e conservadores dentro da Igreja resulta em mensagens confusas emitidas pelos bispos, tanto que a maioria dos católicos votou em Barack Obama na última eleição presidencial, mesmo apesar de ele ser um firme defensor dos direitos de aborto. Uma das causas do grande voto católico em Obama foi um documento divulgado pelos bispos intitulado “Consciência e Seu Voto”, no qual encorajaram eleitores católicos a considerar as posições dos candidatos em outros assuntos que não fossem o aborto para decidir a respeito de seus votos [38].

O documento secundou um argumento esquerdista comum dentro da Igreja de que o aborto não pode ser a preocupação principal ao se votar em um candidato. O dilema para bispos e católicos liberais é que candidatos políticos que são “pró-vida” são quase sempre conservadores em questões como bem-estar, moradia, imigração, pena de morte e guerra, de modo que tornar o aborto a preocupação decisiva resulta efetivamente no apoio institucional da Igreja a candidatos do Partido Republicano.

Outro conflito entre liberais e conservadores da Igreja advém da Campanha para o Desenvolvimento Humano, o braço oficial da Igreja que apóia a ação direta a la Saul Alinsky [39] para acabar com a injustiça social. O apelo anual feito nas Missas dominicais ao redor do país para apoiar a CDH encontraram uma resistência maior que a esperada esse ano em virtude da revelação de que a CDH estava repassando recursos para a ACORN [40], que recentemente foi acusada de se envolver em fraude eleitoral sistemática.
Um sacerdote local distribuiu a nota de desagravo emitida pelo bispo Morin sobre as relações entre a CDH e a ACORN, mas adicionou sua própria recomendação de que deixava às consciências individuais dos membros de sua diocese se deveriam ou não contribuir para a campanha anual da CDH [41].

A exceção à agenda esquerdista da USCCB são as questões envolvendo sexo e reprodução, mas no presente contexto isso não é visto meramente como uma exceção genérica ao esquerdismo dentro da Igreja: é uma exceção desqualificante. Não importa quão progressista ela possa ser em questões como pobreza e imigração, a oposição da Igreja ao aborto, ao casamento gay, à clonagem, à pesquisa com células-tronco embrionárias, à fertilização in vitro e à eutanásia, bem como sua recusa em ordenar mulheres ao sacerdócio, significa que, no contexto da cultura secular americana, a Igreja Católica será inevitavelmente vista como não-progressista. Ao contrário, a Igreja continua a ser vista como uma força retrógrada por pessoas de tendência progressista, incluindo aquelas dentro da Igreja.

Culturalmente, a Igreja continua a ser vista como um baluarte de conservadorismo social em suas doutrinas e práticas, a última resistência institucional ao relativismo moral e à absoluta liberdade pessoal dentro da cultura americana. Isso atrai uma oposição de tal monta que se converte em uma nova forma de anti-Catolicismo americano. A fonte original do anti-Catolicismo americano foi a doutrina protestante e o sentimento anti-imigração, cuja maior parte foi sendo vencida à medida que a população católica se integrou à sociedade americana.

A nova forma de anti-Catolicismo é baseada nas doutrinas da Igreja sobre sexo e reprodução, bem como em sua declaração explícita de que existe um códice moral objetivo embasado na inspiração divina [42]. O novo anti-Catolicismo é ideológico e baseado na crença progressista em uma autonomia pessoal completamente dissociada de qualquer elo social e na oposição a qualquer autoridade punitiva que pretenda impor controle social e promover um padrão moral público. As tentativas católicas de influencias a cultura com referência a uma ordem moral objetiva foram seriamente solapadas pelo recente escândalo de pedofilia.

Mas o conflito permanece, e as políticas explicitamente progressistas da Igreja, promovidas pelo lobby da USCCB e pela agitação da CDH, não conseguem e efetivamente não podem sobrepujar o conservadorismo implícito em suas ações em prol da veracidade de uma doutrina moral inspirada por Deus. Com efeito, a Igreja Católica nos Estados Unidos de hoje é politicamente esquerdista, mas culturalmente conservadora. Todavia, no contexto de aumento da secularização da cultura americana, é seu conservadorismo cultural que irá caracterizar cada vez mais a posição contra-cultural da Igreja Católica nos Estados Unidos.

Aqueles atualmente chamados “conservadores” dentro da Igreja comumente começaram como defensores das práticas tradicionais da Igreja e suas doutrinas, mas cujo motivo não era o de promulgar uma filosofia política conservadora dentro da Igreja. No entanto, como os “neocons” dentro da arena política, eles são freqüentemente chamados de “conservadores” e relegados a um escuro ostracismo pelos liberais dentro da Igreja, ainda que seu centro gravitacional se situe mais em questões religiosas do que políticas ou econômicas (um conhecido pregador franciscano ativo no movimento pró-vida se sentiu compelido a dizer: “não somos conservadores”).

Todavia, em questões de aborto, autoridade eclesiástica e promoção de devoções tradicionais, os objetivos desses tradicionalistas religiosos coincidem com a mentalidade conservadora. Mas uma crise se aproxima (de fato, já chegou), e como resultado a Igreja Católica nos Estados Unidos terá que abraçar seu conservadorismo interior, mesmo que isso pareça impróprio para muitos católicos.
A Igreja estará melhor, entretanto, se abandonar suas tentativas de apelo aos liberais e exercer uma atitude mais benigna àquelas tradições particularmente americanas de empreendedorismo, independência pessoal, rejeição do grande governo, e os valores da classe média de trabalho duro e tolerância que permitiram à Igreja Católica nos Estados Unidos atingir um grau de integração e sucesso sem par – e que fornece à Igreja Católica universal um modelo de como melhor fazer frente às novas condições da pós-modernidade.

Escrito por John Caiazza

Comentário do tradutor

 
O artigo do Dr. John Caiazza é bastante oportuno para compreendermos um pouco mais sobre como o papel dos católicos tem sido ignorado (quando não veementemente rejeitado) por eles mesmos. A USCCB, como se vê, atua exatamente na mesma linha que a CNBB: por um lado, condescendendo em diversas matérias políticas, sociais e econômicas ao pensamento revolucionário (e, não por coincidência, utilizando sua mesma linguagem); por outro, sustentando de modo light a posição oficial da Igreja Católica (como foi o caso recente da aprovação do aborto de crianças anencéfalas pelo STF).


No Brasil, os evangélicos têm preponderância muito maior no campo político do que os católicos, apesar de esta ser a maior denominação religiosa do País. Esse efeito acontece tanto em virtude do ativismo evangélico – que pode ser constatado através da atuação de diversos líderes religiosos, como Silas Malafaia – quanto por causa do silêncio católico a esse respeito.
Poucos são os grupos e associações católicas que têm exercido pressão (plenamente legítima, por mais que o discurso laicista diga o contrário) para fazer sua voz ser ouvida.

Podemos citar aqui o Instituto Plínio Correa de Oliveira (IPCO), os Promotores da Vida e a Associação Pró-Vida de Anápolis (presidida pelo aguerrido Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz). Não se trata de transformar a Igreja em um partido, pois isso seria mutilar sua verdadeira essência, mas de sobrenaturalizar a própria responsabilidade cidadã e, desse modo, engrossar as fileiras daqueles que lutam contra a mentalidade revolucionária e a cultura da morte.

Os católicos brasileiros devem ter consciência de que estamos no meio de uma crudelíssima guerra cultural – e, por que não dizer, espiritual. Queiram ou não, o combate está acontecendo agora nas escolas, nos hospitais, nas ruas, nos tribunais, no parlamento, às portas de casa. Vítimas já estão sendo feitas.

É preciso olhar para essa situação não com aquele ar de lamúria comodista, mas com uma postura firme. Querer a paz não significa adotar um pacifismo covarde e conveniente. Ser um cristão de fato implica uma grande responsabilidade, uma missão que pode ser condensada nas palavras de Cristo Jesus: “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada.” (Mateus 10:34)

Notas: (N. do A.: do autor; N. do T.: do tradutor)

[1] No entanto, o historiador Patrick Allitt atentou-se para a conexão. Vide Catholic Intellectuals and Conservative Politics in America, 1950-1985 (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1993) e The Conservatives (New Haven, CT: Yale University Press, 2009), 180–81, 167, 264–65. [N. do A.]
[2] Organização protestante evangélica de lobby político que atuou nos Estados Unidos de 1979 até fins dos anos 1980. [N. do T.]
[3] Sobre a atitude de Buckley acerca da missa em latim, vide Rev. George W. Rutler, confessor de Buckley. [N. do A.]
[4] Gary Wills, quando escrevia para a National Review, cunhou o slogan sarcástico da revista sobre Mater et Magistra, “Mater si, Magistra no”. Vide Gary Wills, Confessions of A Conservative (New York: Penguin Books, 1979), 44. [N. do A.]
[5] Kirk publicou The Conservative Mind em 1953 e converteu-se ao Catolicismo em 1964. [N. do A.]
[6] O servo de Deus Fulton John Sheen (1895 – 1979) foi um arcebispo norte-americano e pioneiro na utilização de meios de comunicação via satélite para pregações religiosas. [N. do T.]
[7] Francis Joseph Spellman (1889 – 1967) foi um cardeal norte-americano que presidiu a Arquidiocese de Nova York de 1939 até sua morte. [N. do T.]
[8] Vide John Courtney Murray, S.J., We Hold These Truths (New York: Sheed and Ward, 1960), que defendeu que a Constituição Americana tivesse uma base na lei natural. No entanto, a teoria da lei natural é menos encorajada hoje pela Igreja do que em 1960, uma vez que tem sido vista como um empecilho no diálogo com outras denominações religiosas; vide Allitt, Catholic Intellectuals, 297. [N. do A.]
[9] O Concílio Vaticano II produziu uma “Declaração sobre Liberdade Religiosa” (Dignitatis Humanae). A declaração está em Walter M. Abbott, S.J., The Documents of Vatican II (New York: America Press, 1966), 672–700, e tem uma introdução por John Courtney Murray, S.J., o jesuíta americano freqüentemente apontado como promotor da Dignitatis Humanae durante os trâmites conciliares. [N. do A.]
[10] Michael Novak, The Spirit of Democratic Capitalism (New York: Simon and Schuster, 1982), 145–50. [N. do A.]
[11] João Paulo II, Centesimus Annus, 49–50. [N. do A.]
[12] Um sumário da agenda esquerdista é fornecido por um de seus defensores proeminentes: “O Vaticano II assinalou uma mudança na guerra da Igreja contra a modernidade... [os] direitos das mulheres, o fim da autocracia patriarcal, a restauração da honestidade simples, a cura do clericalismo, o lugar do laicato, o abandono do narcisismo denominacional na relação com outras igrejas, a afirmação da sexualidade...” James Carroll, Constantine’s Sword (New York: Houghton Mifflin, 2001), 548. [N. do A.]
[13] A autoridade dos bispos locais foi reafirmada pelo “Decreto sobre o Ofício Pastoral dos Bispos na Igreja”. Abbott, Documents of Vatican II, 396–421. [N. do A.]
[14] Dupont Circle é um cruzamento de Washington, D.C., localizado em uma região onde se situam diversos órgãos governamentais. [N. do T.]
[15] Brian Benestad, The Pursuit of a Just Social Order: Policy Statements of the U.S. Catholic Bishops, 1966–80 (Washington, D.C.: Ethics and Public Policy Center, 1982). [N. do A.]
[16] O texto de Populorum Progressio, “Sobre o Desenvolvimento dos Povos,” encontra-se em Joseph Gremillion, The Gospel of Peace and Justice (Maryknoll, NY: Orbis Books, 1976), 387–416. [N. do A.]
[17] A opção preferencial pelos pobres foi primeiramente descrita de modo explícito num documento da CELAM em uma reunião em Medellín (1968), e dada a toda a Igreja na encíclica Octogesima Adveniens, de Paulo VI, em 1971; vide Gremillion, Gospel, 474, 496. [N. do A.]
[18] Conferência Nacional de Bispos Católicos, Justiça Econômica para Todos (Washington, D.C., 1986). [N. do A.]
[19] John Bordley Rawls (1921 – 2002) foi um importante filósofo político americano.
[20] John Rawls, A Theory of Justice (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1971), 60–82, descreve um princípio de justiça, o “princípio da diferença”, que estipla que desigualdades numa sociedade são justificadas apenas se elas trabalham para a vantagem dos menos favorecidos. A confiança de Rawls em modelos lógicos formais e econômicos para fazer isso é bem diferente da linguagem exortativa e às vezes profética de bispos latino-americanos e encíclicas papais, mas o ponto é o mesmo: políticas econômicas devem ser direcionadas primeiramente aos pobres. [N. do A.]
[21] A tradição católica de instrução papal sobre problemas políticos e econômicos modernos começou com a encíclica Rerum Novarum (1891), do Papa Leão XIII, e é citada freqüentemente por seus sucessores ao comentar sobre questões sociais e políticas. Vide Papa João Paulo II, Centesimus Annus (1991). [N. do A.]
[22] João Paulo II, Centesimus Annus: sobre o livre mercado (ponto 34); sobre a “assistência social do Estado” (ponto 48). [N. do A.]
[23] 18 Gary Wills, Papal Sin (New York: Doubleday, 2000), 309–11. James Carroll, Constantine’s Sword (New York: Houghton Miffl in, 2001), defende uma “reforma” tão ampla que a auto-identidade da Igreja seria destruída; Carroll, A Call for Vatican III, 547–604. [N. do A.]
[24] George A. Kelley, Battle for the American Church (Revisited) (San Francisco: Ignatius Press, 1995), 10, 11. [N. do A.]
[25] Referência à revolta que deu fim ao Terror, fase mais cruel da Revolução Francesa. Tem esse nome por conta do dia do calendário revolucionário em que ocorreu, 9 de Termidor do ano II (27 de julho de 1794). [N. do T.]
[26] Fides et Ratio (1998). [N. do A.]
[27] George Weigel, Witness to Hope (New York: Harper-Collins, 2001), 441, 445. Weigel afirma categoricamente que não houve “conspiração” entre João Paulo II e Reagan, ainda que seus interesses e visões sobre o Comunismo coincidissem. [N. do A.]
[28] The New York Times (5 de fevereiro 2004), “Some Christians See ‘Passion’ as Evangelism Tool”, por Laurie Goodstein. [N. do A.]
[29] A USCCB foi formada em 2001 pela combinação da Conferência Nacional de Bispos Católicos (NCCB) com a Conferência Católica dos Estados Unidos (USCCO. A NCCB era o braço político dos bispos, função ora exercida sob a autoridade da USCCB. [N. do A.]
[30] Mais conhecida como Santa Teresinha de Jesus. [N. do T.]
[31] Joseph Louis Bernardin (1928 - 1996) foi um cardeal norte-americano e presidiu a Arquidiocese de Chicago de 1982 até sua morte. [N. do T.]
[32] A proposta de “túnica inconsútil” do Cardeal Bernardin, combinando oposição ao aborto e à pena de morte, foi primeiramente chamada por ele de uma “consistente ética pela vida” em um discurso na Fordham University, em 1983. Veja a reação conservadora por Joseph Sobran. [N. do A.]
[33] John Caiazza, War of the Jesus and Darwin Fishes (New Brunswick, NJ: Transaction Publishers, 2007), 154–57. [N. do A.]
[34] Dorothy Day (1897 – 1980) foi uma influente jornalista e ativista social católica dos Estados Unidos.
[35] William D. Miller, A Harsh and Dreadful Love: Dorothy Day and the Catholic Worker Movement (New York: Liveright, 1973), x, xi, 81–84. [N. do A.]
[36] Catecismo da Igreja Católica, ponto 2266. [N. do A.]
[37] O caso da constituição proposta pela União Européia é bem conhecido: em um documento de quinhentas páginas, não há uma única menção às origens cristãs (católica, protestante ou ortodoxa) da civilização européia. Vide Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI) e Marcello Pera, Without Roots, trans. M. Moore (New York: Basic Books, 2006), 35–36. [N. do A.]
[38] http://www.usccb.org/bishops/FCBullinsert.pdf. [N. do A.]
[39] Saul David Alinsky (1909 – 1972) foi um escritor e ativista social norte-americano. É uma das influências políticas de Hillary Clinton. [N. do T.]
[40] A Associação de Organizações Comunitárias por Reforma Já (Association of Community Organizations for Reform Now – ACORN) foi uma ONG de organizações de bairro que trabalhava com registro de moradores para voto, ajudas do governo, assistência médica e outros. [N. do T.]
[41] Relatório do Bispo Roger Morin, presidente da Subcomissão da Campanha Católica pelo Desenvolvimento Humano, sobre a CCDH e a ACORN. [N. do A.]
[42] Vide João Paulo II, Veritatis Splendor. [N. do A.]


John C. Caiazza é PhD pela Boston University e professor adjunto de Filosofia do Rivier College (Nashua, New Hampshire).
Publicado na revista Modern Age, Vol. 52, n. 1 – Inverno de 2010.
Tradução: Felipe Melo

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