"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 29 de abril de 2012

A INFLUÊNCIA DA FICÇÃO

É interessante quanto da minha informação se origina da leitura de romances.
Desde muito cedo eu aprendi que o que eu lia não eram necessariamente fatos, mas a interpretação de fatos aos olhos de um escritor, e que tudo dependia da capacidade de o mesmo se saturar com informações sobre um assunto ou época de forma que nós, os leitores, passássemos a sentir e enxergar através de seus olhos.

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Sempre procurei pesquisar as informações dos ficcionistas através de leitura complementar de artigos sérios e de livros.
Estou correntemente envolvido em escrever um artigo sobre a China.
As declarações de economistas chineses e de ministros chineses não chegam a me impressionar, pois guardo na memória informações de autores que escreveram sobre a China ao longo dos séculos. Ninguém muda completamente de um momento para outro.
Os chineses ainda são chineses, construídos sobre as antigas dinastias, sobre a absorção cultural dos mongóis, sobre os generais que dominavam diferentes partes do país entre 1911 e 1949.
Portanto tratei de lembrar autores como Robert Elegant, que escreveu romances sobre épocas diferentes da história da China, inclusive a chegada dos portugueses, mas que também é jornalista, fluente em japonês e mandarim, conhecedor profundo da região.
Repassei James Clavell com “A Casa Nobre” e “Tai-Pan” mas também voltei ao livro “Stillwell e a experiência americana na China 1911-45”de Barbara Tuchman que analisa os líderes principais, Mão-Zedong, Chiang Kai Chek e Madame Chiang Kai Chek bem como sua interação.

Hoje a pesquisa é mais fácil, em vista do Google e das facilidades de consultar artigos e teses até obscuras sobre estes períodos, e à medida que pesquisamos nos surpreendemos avaliando diferentemente as personagens e os fatos da história conhecida. 
Acabamos saindo pela tangente e estudando coisas que nada tem a ver com o objetivo inicial da pesquisa. São contribuições para a base de conhecimentos que passamos a carregar conosco. Por exemplo, eu havia lido Barbara Tuchman sobre Stillwell. Porém Tuchman é admiradora do general. Foi interessante achar relatos dos comandantes de unidades sob Stillwell bastante críticos da capacidade do general em planejar, documentar ou exigir o que não mais podia ser exigido.

Foi interessante descobrir até que ponto certos jornalistas informaram a realidade do crescimento da competência dos exército de Mao sendo chamados de volta do Oriente porque suas opiniões não correspondiam à informação do QG de Stillwell. Foi inclusive interessante saber que o sucessor de Stillwell, o general Wedermeyer registrou suas opiniões em relatório não sendo acreditado porque ao contrario de Stillwell não falava chinês.
Contudo as previsões de Wedermeyer, que não conhecia o Oriente se realizaram uma por uma.

Não cheguei ao fim destas leituras, contudo, esta semana quando mais uma vez eu sentar ao computador para tentar escrever este artigo sobre a China moderna terei todas estas, e mais outras informações no subconsciente. Não entrarão no artigo mas terão servido para criar a primeira camada de tinta que o artista coloca numa tela, a que dá o fundo básico para que depois se pintem as árvores, os rios e o céu na obra final.
(*) Fotomontagem: Mão-Zedong, Chiang Kai Chek e Madame Chiang Kai Chek

Ralph J. Hofmann

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