PARIS – Em outubro de 1960, há meio século, em Los Angeles, assisti ao
histórico debate de Kennedy com Nixon, nas vésperas da eleição presidencial
norte-americana. Kennedy ganhou o debate e as eleições. Com debate ou sem
debate, teria ganho. Já havia ganho. A cara lavada de Nixon, tão alegada pelos
marqueteiros, foi apenas desculpa, não razão para derrota.
Em maio de 1974, aqui em Paris, vi François Mitterrand ganhar o debate e perder a eleição para Giscard d‘Estaing, com Mitterrand perplexo:
- “O senhor não tem o monopólio do coração, senhor Mitterrand”.
Em maio de 1981 vi Mitterrand ganhar o debate e derrotar Giscard:
- “Há sete anos , senhor Giscard, o senhor me acusou de ser um homem do passado. É no mínimo maçante que no intervalo o senhor tenha se tornado o homem do passivo.”
Giscard perguntou a Mitterrand qual era a taxa do marco (moeda alemã). Mitterrand o arrasou:
- “Não sou seu aluno, senhor Giscard.”
Em abril de 1988 também vi Mitterrand reeleger-se ganhando o debate e a eleição contra Jacques Chirac, que lhe perguntou:
-“Senhor Mitterrand, o senhor pode contestar minha versão dos fatos, olhando nos meus olhos?”
-“Olhando nos seus olhos, senhor Chirac, contesto”.
Chirac calou.
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SARKOZY
Em maio de 1995 foi a vez de Chirac ganhar o debate e a eleição de Lionel Jospin, do Partido Socialista, que propôs reduzir o mandato de sete para cinco anos:
-“É melhor cinco anos com Jospin do que sete com Chirac”.
A Franca preferiu continuar com sete anos. Só Mitterrand, com sua inquestionável autoridade, diminuiu o mandato de sete para cinco anos.
Cinco anos atrás, também numa quarta-feira de maio, maio de 2007, vi a socialista Segolene Royal, sorridente, simpática, afirmativa, segura, verdadeira, audaciosa e bela, vencer o debate contra Sarkozy, que perdeu o debate mas ganhou a eleição. Debate confirma vitoria. Não causa derrota.
A França tem a tradição e o gosto dos grandes debates eleitorais no final das campanhas. Com um debate nas TVs, encerra–se a campanha de Sarkozy, que tenta a reeleição, contra François Hollande, do Partido Socialista.Nao sei quem vai ganhar o debate.. Hollande é mais culto, mais preparado, melhor programa. Sarkozy é mais audacioso e joga mais pesado. Mas tenho a certeza de que Hollande já ganhou a eleição.
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GLOBÃO
Esta será uma vitoria contra duas derrotas: a do presidente Sarkozy e a da maioria da grande e poderosa imprensa francesa, comandada pelo maior grupo de imprensa da França, o jornal Figaro, com seu quase um milhão de exemplares diários e a revista L’Express do mais influente grupo econômico e financeiro da França, o Dassault, dono da Air France, fabricante dos magníficos aviões Air Bus, ligado aos maiores bancos .
O Figaro é o “Globão” daqui. Pensa que é dono da França e na verdade é dono da maioria da França. Diante dele, O Globo é um Globinho, catecismo de primeira comunhão. O que o Figaro fez na campanha é de estarrecer até um veterano jornalista exausto de velhas campanhas.
Durante semanas a principal manchete da primeira página foi do presidente Sarkozy e sua campanha. Sem assunto melhor, publicam uma entrevista, enorme, pesadona, do presidente do partido oficial, do líder do partido oficial, do secretario geral, dos líderes das bancadas governistas na Assembléia e no Senado, da porta-voz, da governanta, da babá.
Os candidatos eram dez. Um dia contei: oito páginas do Figaro para Sarkozy e uma para os outros nove, e seis páginas da revista L’Express para Sarkozy e apenas uma para Hollande. É a imprensa escabrosa.
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GLOBINHO
O escândalo é tão grande que, segundo o Le Monde, o diretor das redações do Figaro, Etienne Mougeotte, foi denunciado ao Conselho de Administração do Grupo de Imprensa das empresas Dassault e deverá ser demitido logo após as eleições. Só falta os jornalistas indicarem o sucessor. Se a moda pega no Globo, a Febraban terá uma crise de histeria.
Sebastião Nery
29 de abril de 2012
Em maio de 1974, aqui em Paris, vi François Mitterrand ganhar o debate e perder a eleição para Giscard d‘Estaing, com Mitterrand perplexo:
- “O senhor não tem o monopólio do coração, senhor Mitterrand”.
Em maio de 1981 vi Mitterrand ganhar o debate e derrotar Giscard:
- “Há sete anos , senhor Giscard, o senhor me acusou de ser um homem do passado. É no mínimo maçante que no intervalo o senhor tenha se tornado o homem do passivo.”
Giscard perguntou a Mitterrand qual era a taxa do marco (moeda alemã). Mitterrand o arrasou:
- “Não sou seu aluno, senhor Giscard.”
Em abril de 1988 também vi Mitterrand reeleger-se ganhando o debate e a eleição contra Jacques Chirac, que lhe perguntou:
-“Senhor Mitterrand, o senhor pode contestar minha versão dos fatos, olhando nos meus olhos?”
-“Olhando nos seus olhos, senhor Chirac, contesto”.
Chirac calou.
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SARKOZY
Em maio de 1995 foi a vez de Chirac ganhar o debate e a eleição de Lionel Jospin, do Partido Socialista, que propôs reduzir o mandato de sete para cinco anos:
-“É melhor cinco anos com Jospin do que sete com Chirac”.
A Franca preferiu continuar com sete anos. Só Mitterrand, com sua inquestionável autoridade, diminuiu o mandato de sete para cinco anos.
Cinco anos atrás, também numa quarta-feira de maio, maio de 2007, vi a socialista Segolene Royal, sorridente, simpática, afirmativa, segura, verdadeira, audaciosa e bela, vencer o debate contra Sarkozy, que perdeu o debate mas ganhou a eleição. Debate confirma vitoria. Não causa derrota.
A França tem a tradição e o gosto dos grandes debates eleitorais no final das campanhas. Com um debate nas TVs, encerra–se a campanha de Sarkozy, que tenta a reeleição, contra François Hollande, do Partido Socialista.Nao sei quem vai ganhar o debate.. Hollande é mais culto, mais preparado, melhor programa. Sarkozy é mais audacioso e joga mais pesado. Mas tenho a certeza de que Hollande já ganhou a eleição.
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GLOBÃO
Esta será uma vitoria contra duas derrotas: a do presidente Sarkozy e a da maioria da grande e poderosa imprensa francesa, comandada pelo maior grupo de imprensa da França, o jornal Figaro, com seu quase um milhão de exemplares diários e a revista L’Express do mais influente grupo econômico e financeiro da França, o Dassault, dono da Air France, fabricante dos magníficos aviões Air Bus, ligado aos maiores bancos .
O Figaro é o “Globão” daqui. Pensa que é dono da França e na verdade é dono da maioria da França. Diante dele, O Globo é um Globinho, catecismo de primeira comunhão. O que o Figaro fez na campanha é de estarrecer até um veterano jornalista exausto de velhas campanhas.
Durante semanas a principal manchete da primeira página foi do presidente Sarkozy e sua campanha. Sem assunto melhor, publicam uma entrevista, enorme, pesadona, do presidente do partido oficial, do líder do partido oficial, do secretario geral, dos líderes das bancadas governistas na Assembléia e no Senado, da porta-voz, da governanta, da babá.
Os candidatos eram dez. Um dia contei: oito páginas do Figaro para Sarkozy e uma para os outros nove, e seis páginas da revista L’Express para Sarkozy e apenas uma para Hollande. É a imprensa escabrosa.
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GLOBINHO
O escândalo é tão grande que, segundo o Le Monde, o diretor das redações do Figaro, Etienne Mougeotte, foi denunciado ao Conselho de Administração do Grupo de Imprensa das empresas Dassault e deverá ser demitido logo após as eleições. Só falta os jornalistas indicarem o sucessor. Se a moda pega no Globo, a Febraban terá uma crise de histeria.
Sebastião Nery
29 de abril de 2012
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