Capacidade de reconhecer sequências de letras que
formam palavras, considerada unicamente humana, é compartilhada por babuínos.
Eles não compreendem o sentido, mas identificam caracteres na ordem correta
Recinto onde os animais foram testados: caso
acertassem que a sequência na tela formava uma palavra, eles ganhavam
recompensa. |
Brasília – Mais do que compreender uma mensagem, ler
significa, em uma primeira análise, decodificar uma série de símbolos na ordem
correta. Diferenciar uma sequência de letras de um conjunto de símbolos
aleatórios é a primeira etapa para o desenvolvimento neurológico da leitura.
Até
agora, cientistas acreditavam que essa capacidade se desenvolveu ao longo do
tempo, à medida que a linguagem foi ficando mais complexa e surgiram os
primeiros símbolos escritos.
Uma pesquisa publicada na edição de hoje da revista
cientifica Science propõe uma mudança dessa visão. Pesquisadores da Universidade
de Marselha, na França, conseguiram ensinar macacos a diferenciar palavras
curtas de sequências aleatórias de letras. A novidade sugere que a capacidade
cognitiva do ser humano para reconhecer os caracteres tenha surgido antes da
linguagem.
Para chegar a essa conclusão, os especialistas instalaram ao redor de um recinto de animais uma série de cabines com telas sensíveis ao toque. Os macacos podiam entrar livremente nas cabines e completar várias rodadas do exercício.
Para chegar a essa conclusão, os especialistas instalaram ao redor de um recinto de animais uma série de cabines com telas sensíveis ao toque. Os macacos podiam entrar livremente nas cabines e completar várias rodadas do exercício.
Na tela, aparecia uma sequência de quatro
letras. Os animais precisavam, em seguida, tocar em um dos dois símbolos que
apareciam na tela: um indicava que se tratava de uma palavra; o outro, que
aquela era uma sequência aleatória de letras, sem sentido.
Quando os macacos
acertavam em qual dos dois grupos as letras que eles viram se encaixavam,
ganhavam alimento como recompensa.
Durante um mês e meio, os babuínos aprenderam a discriminar dezenas de palavras dentre mais de 7 mil não palavras, com quase 75 % de precisão. Essa capacidade de identificar combinações específicas, conhecida como “processamento ortográfico”, é um componente-chave de leitura.
Durante um mês e meio, os babuínos aprenderam a discriminar dezenas de palavras dentre mais de 7 mil não palavras, com quase 75 % de precisão. Essa capacidade de identificar combinações específicas, conhecida como “processamento ortográfico”, é um componente-chave de leitura.
Assim, um dos blocos de construção da capacidade de leitura –
atividade que é uma das mais complexas habilidades humanas – pode não ser
exclusiva do homem, mas comum aos demais primatas.
“O ponto central desse estudo
foi a descoberta de que uma aquisição tão tremendamente humana, cultural, como a
leitura, mais precisamente o processamento ortográfico, pode ser realizada por
primatas não humanos”, contou ao Estado de Minas a pesquisadora francesa Marie
Montant, uma das autoras do artigo.
Senso lógico Além de colocar homens e macacos mais próximos, os resultados publicados hoje alteram a compreensão de como a leitura é processada no cérebro, desafiando a noção de longa data de que a habilidade de reconhecer palavras – como combinações de objetos que aparecem visualmente em certas sequências – seria fundamentalmente relacionada à linguagem.
Senso lógico Além de colocar homens e macacos mais próximos, os resultados publicados hoje alteram a compreensão de como a leitura é processada no cérebro, desafiando a noção de longa data de que a habilidade de reconhecer palavras – como combinações de objetos que aparecem visualmente em certas sequências – seria fundamentalmente relacionada à linguagem.
A capacidade dos macacos de reconhecer as palavras,
mesmo sem ter qualquer habilidade linguística, demonstra que quando os seres
humanos leem estão recorrendo, pelo menos parcialmente, a uma habilidade antiga,
anterior à evolução que resultou no surgimento do Homo sapiens.
A principal hipótese que explicaria a capacidade de leitura dos babuínos relaciona-se à análise estatística. “Os babuínos, provavelmente, conseguem identificar as palavras usando as propriedades computacionais do sistema visual que são compartilhados pela maioria dos primatas, incluindo humanos”, completa Marie.
A principal hipótese que explicaria a capacidade de leitura dos babuínos relaciona-se à análise estatística. “Os babuínos, provavelmente, conseguem identificar as palavras usando as propriedades computacionais do sistema visual que são compartilhados pela maioria dos primatas, incluindo humanos”, completa Marie.
À medida que a comida era liberada quando os animais acertavam as
primeiras palavras, eles desenvolveram um senso lógico de qual tipo de
combinações de letras resulta em palavras e quais não. “A principal diferença
entre as palavras e pseudopalavras está no número de vezes que certas
combinações de letras aparecem”, explicou ao EM o principal autor do estudo,
Jonathan Grainger. “Assim, por exemplo, a sequência ‘wa’ pode ser vista mais
várias vezes, em palavras como walk, ward e wall”, diz o especialista. Em
inglês, as expressões significam, respectivamente, caminhar, ala e parede. Logo,
por experiência, os animais identificam que a combinação das letras é
correta.
O pesquisador explica que os animais não aprenderam o conceito de o que é palavra, ou da ideia que elas representam. “Habilidades ortográficas básicas podem serem desenvolvidas mesmo sem nenhum conhecimento prévio de linguagem”, contou Grainger . “A razão para isso é que quando usamos informações das letras para ler palavras inteiras estamos basicamente imitando o que nós fazemos para identificar objetos corriqueiros, como mesas ou cadeiras: usamos partes dos objetos e as relações entre essas partes para entender o todo”, completa o especialista.
O pesquisador explica que os animais não aprenderam o conceito de o que é palavra, ou da ideia que elas representam. “Habilidades ortográficas básicas podem serem desenvolvidas mesmo sem nenhum conhecimento prévio de linguagem”, contou Grainger . “A razão para isso é que quando usamos informações das letras para ler palavras inteiras estamos basicamente imitando o que nós fazemos para identificar objetos corriqueiros, como mesas ou cadeiras: usamos partes dos objetos e as relações entre essas partes para entender o todo”, completa o especialista.
13 de abril de 2012
Max Milliano Melo
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