Até mesmo na hipótese dos gestores espanhois não estarem correspondendo aos compromissos assumidos ao adquirirem a exploradora de petróleo argentina e a distribuidora de energia elétrica boliviana, o ato sumário de expropriação destoa das inúmeras alternativas sensatas de superar conflitos dessa natureza.
O aspecto inquietante desses eventos é a difusão, na América do Sul, do uso de impulsos político-eleitoreiros-populistas no tratamento de assuntos que, em termos do interesse nacional, jamais poderiam ser abordados dessa forma.
Mesmo se essa difusão não ocorrer, os eventos na Argentina e Bolívia, adicionados aos acontecimentos na Venezuela de Chaves e às atitudes do presidente do Equador, podem causar respingos danosos nos demais países sul-americanos, que seriam alvo de repúdio por parte dos investidores internacionais.
O caso da Argentina, como fonte de má influência para seus vizinhos, é especialmente doloroso, dado o brilhante desempenho econômico e social que exibiu no fim do século XIX e início do XX. Desde o advento do peronismo, um constante processo de debilitação de seus costumes políticos vem prejudicando profundamente seu perfil econômico e social.
Cada um desses ímpetos passionais provocam crescente desconfiança do mundo, inclusive dos parceiros do Mercosul, induzindo a um isolamento que conspira contra o desenvolvimento da Argentina
Há mais de setenta anos se alternam no poder figuras cuja principal característica é ser incompetente, ou populista, ou corrupto, ou autoritário, ou criminoso, ou irresponsável ou, enfim, reunir variados conjuntos dessas qualidades, senão todas.
Muito já foi escrito sobre a dicotomia entre o elevado nível cultural dos argentinos e a mediocridade do universo político nacional. Mas, ainda assim, continua nos surpreendendo o inesgotável repertório de bobagens oferecido pelos sucessivos governos, tanto civis quanto militares.
No exemplo mais recente, a nacionalização de 51% da YPF pertencentes à espanhola Repsol, a presidente Cristina Kirshner exacerbou o pendor dos dirigentes argentinos por bravatas demagógicas.
Mas o perigo reside no fato de que essas atitudes possuem um teor suicida, em termos da vida nacional.
Cada um desses ímpetos passionais provocam crescente desconfiança do mundo, inclusive dos parceiros do Mercosul, induzindo a um isolamento que conspira contra o desenvolvimento da Argentina.
O caso da YPF, somado ao calote da dívida junto ao Clube de Paris, às medidas protecionistas, ao uso inapropriado das reservas do Banco Central, à manipulação das estatísticas econômicas, ao controle eleitoreiro dos preços de serviços públicos e combustíveis, além de outros atos erráticos, podem causar danos à Argentina equivalentes ao de um bloqueio comercial e financeiro internacional.
E o pior de tudo é que não existe a mínima perspectiva de surgir alguma liderança política lúcida, moderna e honesta, que possa reconduzir o país a uma trajetória de prosperidade e avanço social. Talvez seja mais fácil acontecer, em um futuro próximo, um positivo avanço político na Bolívia e na Venezuela, do que na Argentina.
13 de maio de 2012
Marcello Averbug
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