Leio que as ditas igrejas "inclusivas" - voltadas predominantemente para o público gay - vêm crescendo a um ritmo acelerado no Brasil, à revelia da oposição de alas religiosas mais conservadoras. Estimativas feitas por especialistas a pedido da BBC Brasil indicam que já existem pelo menos dez diferentes congregações de igrejas "gay-friendly" no Brasil, com mais de 40 missões e delegações espalhadas pelo país.
Ah! Não se fazem mais homossexuais como antigamente. Tanto que viraram gays, homoafetivos, tudo menos homossexuais. Convivi com eles desde o ginásio à universidade e mais tarde na vida profissional. Ostentavam uma certa aura, não digo de heróis, mas de rebeldes avessos à sociedade bem comportada, à ética vigente, ao casamento e à religião. Entre os homossexuais com os quais convivi – e alguns eram companheiros de bar – nunca vi casais nem pessoas com pendores religiosos. Todos tinham consciência de que as religiões vigentes condenavam seus comportamentos, e das igrejas só queriam distância. Eram geralmente pessoas cultas e sensíveis. Quando penso nos homossexuais de minha juventude, sempre me vem à mente o “non serviam” de Lucifer, a primeira afirmação de liberdade ante a arrogância do Altíssimo.
Eram também avessos ao convívio familiar e trocavam de parceiros como quem troca de roupa. Não havia namorinhos na época, nem mãozinhas dadas. Mas uma sexualidade intensa e diversificada. Dispensavam aquelas longas conversas que tínhamos de suportar, na época, para levar uma menina à cama. Bastava um olhar trocado na rua. O tempo entre o olhar e os fatos era igual ao necessário para encontrar o quarto mais próximo. Não enganavam parceiro algum com promessas de amor duradouro, muito menos de casamento, aliás nem se cogitava disto na época.
Concentradas, principalmente, no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, as igrejas inclusivas somam em torno de 10 mil fiéis, ou 0,005% da população brasileira. A maioria dos membros (70%) é composta por homens, incluindo solteiros e casais, de diferentes níveis sociais. É o que diz a imprensa. O número ainda é baixo se comparado à quantidade de católicos e evangélicos, as duas principais religiões do país, que, em 2009, respondiam por 68,43% e 20,23% da população brasileira, respectivamente, segundo um estudo publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O crescimento das igrejas inclusivas ganhou força com o surgimento de políticas de combate à homofobia, ao passo que o preconceito também diminuiu, alegam especialistas. Hoje, segundo o IBGE, há 60 mil casais homossexuais no Brasil. Para grupos militantes, o número de gays é estimado entre 6 a 10 milhões de pessoas.
Ao que tudo indica, o homossexualismo foi cooptado pelo sistema. Homossexuais agora constituem famílias, nos mesmos moldes dos heterossexuais e se submetem às mesmas regras de fidelidade destes. A qualquer infidelidade, o divórcio. A Suécia, sempre pioneira nestas questões, é talvez o país campeão em matéria de separações legais entre pessoas do mesmo sexo. Em maio de 2004, um estudo publicado pelo Institute for Marriage and Public Policy (IMAPP), mostrava o elevado índice de “divórcios” legais entre homossexuais que registraram uma união civil na Suécia.
Segundo o Instituto, entre os anos de 1995 e 2002, houve na Suécia 1.526 uniões homossexuais, comparadas com as 280.000 heterossexuais. Em cada 1000 novos parceiros registados na Suécia, cinco é entre pessoas do mesmo sexo. Dessas, 62% são entre homens do mesmo sexo. A pesquisa revelou uma elevada taxa de divórcios legais entre os os homossexuais suecos. Os homens homossexuais eram 50% mais susceptíveis de se divorciarem dentro dum período de 8 anos do que os heterossexuais, enquanto as lésbicas eram 167% mais susceptíveis de se “divorciarem” do que os heterossexuais.
O primeiro divórcio homossexual, cá no Sul, ocorreu na Argentina, o primeiro país da América Latina a aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo ao aprovar uma reforma do Código Civil. Duas mulheres, que estavam juntas há seis anos e se casaram em abril de 2011, iniciaram os trâmites de divórcio em junho do mesmo ano. A ruptura do casamento aconteceu por iniciativa de uma delas, alegando que a outras lhe era infiel. O casamento destruiu uma relação que prometia ser duradoura.
Em São Paulo ocorreu o segundo divórcio. Com a liberação do casamento homossexual pelo Supremo Tribunal Federal, em maio de 2011, uma verdadeira onda de casamentos do gênero se espalhou em todo país. Em agosto do mesmo ano, surgia o primeiro divórcio entre dois homens. Segundo o que tomou a iniciativa, o casamento foi muito bom enquanto durou, mas é difícil trabalhar o dia todo, chegar em casa e encontrar o marido, assistindo TV com a casa uma bagunça. A marida não gostou.
Casamento é fatal. Acabou a vida mansa. Acrescente a isto o aborrecimento de divisão de papéis, custos judiciais e advocatícios. Não bastassem optarem pelo casamento, agora os antigos rebeldes estão buscando os templos. Segundo a pesquisadora Fátima Weiss, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que mapeia o setor desde 2008, havia apenas uma única igreja inclusiva com sede fixa no Brasil dez anos atrás. "Com um discurso que prega a tolerância, essas igrejas permitem a manifestação da fé na tradição cristã independente da orientação sexual", disse Weiss à BBC Brasil.
O número de frequentadores dessas igrejas - que são abertas a fiéis de qualquer orientação sexual - acompanhou também a emancipação das congregações. Se, há dez anos, os fiéis totalizavam menos de 500 pessoas; hoje, já são quase 10 mil - número que, segundo os fundadores dessas igrejas, deve dobrar nos próximos cinco anos.
É de perguntar-se que deus ou deuses cultuam estes novos crentes. O deus cristão não há de ser. Jeová é taxativo. No Levítico 20:13 lemos: "Se um homem se deitar com outro homem, como se fosse com mulher, ambos terão praticado abominação; certamente serão mortos; o seu sangue será sobre eles". As relações entre mulheres não são evocadas, porque aos olhos dos hebreus só há transgressão sexual quando há penetração.
Militantes de movimentos gays estão tentando transformar em crime a citação da Bíblia. Em maio de 2010, um pregador britânico foi preso depois de ter dito durante sermão na rua que homossexualismo é pecado. Segundo o jornal britânico The Daily Telegraph, Dale McAlpine foi acusado de causar "alarme, intimidação e angústia" depois que um policial comunitário ouviu o pastor batista mencionar vários "pecados" citados na Bíblia, inclusive blasfêmia, embriaguez e relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Segundo o Daily Mail, o policial Sam Adams avisou o pregador, que distribuía folhetos e conversava com as pessoas nas ruas, que ele estava violando a lei. Mas ele continuou pregando e foi levado para a prisão, onde permaneceu por sete horas.
Mais cedo ou mais tarde, a moda chega até nós, escrevi na ocasião. Já chegou. Recentemente, o pastor Silas Malafaia foi acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de incentivar a violência contra homossexuais na TV. A ação foi extinta pelo O juiz federal Victorio Giuzio Neto, da 24ª Vara Cível de São Paulo, que viu na acusação do MTF “uma clara intenção de ressuscitar a censura através deste Juízo.”
Remando contra toda lógica, padres e pastores estão conclamando pecadores de toda espécie. Templo é dinheiro. Os homossexuais, parece que domesticados pela mídia, estão se tornando de repente místicos. O que é uma lástima. Os antigos rebeldes estão desaparecendo. O non serviam luciferino virou “sum servus tuus, domine”.
Ó tempora, ó mores!
02 de maio de 2012
janer cristaldo
Nenhum comentário:
Postar um comentário