COMISSÃO
COM TELHADO DE VIDRO - A TAL CPI DA "SOBRIEDADE E FOCO" : "A única coisa que
pode fazer essa CPI funcionar é o fato de ser uma guerra política, usada para
descredenciar adversários”
Menos de um terço dos 32 titulares da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investigará as ligações do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários já estiveram do outro lado do balcão, expostos a denúncias e desconfianças da opinião pública.
A personificação das reviravoltas políticas é o
ex-presidente da República e agora senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL).
Vinte anos depois de descer a rampa do Palácio do Planalto pela última vez, como
unanimidade nacional, ele volta à cena para investigar um de seus pares, o
senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).
Na lista de representantes do Congresso indicados para
buscar a verdade, há ex-fichas sujas, aliados de figuras controversas, nomes
envolvidos em escândalos nacionais e até deputado pego no
bafômetro.
Collor subiu à tribuna do Senado esta semana para
anunciar que trabalhará contra o vazamento de informações à imprensa. Ele
confidenciou a aliados que uma de suas motivações na CPI será colocar luz nas
relações de repórteres e veículos de comunicação com a quadrilha de
Cachoeira.
A antiga condição de vidraça, no entanto, não é
exclusividade do senador alagoano.
Relator do colegiado, o deputado federal Odair Cunha
(PT-MG) foi acusado de usar sua cota de passagens aéreas para financiar a viagem
de um amigo entre Buenos Aires e o Rio. Cunha nega, argumentando que o bilhete
foi adquirido com milhas e que pagou a taxa de embarque legalmente, segundo
ele.
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) teve o mandato
de governador cassado em 2009. A Justiça entendeu que, durante a campanha de
2006, ele usou um programa social do governo em benefício de sua candidatura à
reeleição. Então considerado ficha suja, só assumiu em 2011 a cadeira no Senado,
um ano depois da eleição.
O Supremo Tribunal Federal (STF) foi favorável à posse
por interpretar que a pena de inegibilidade já havia sido cumprida.
Outro que já esteve no centro do noticiário foi o
senador Humberto Costa (PT-PE). Ele era o ministro da Saúde quando veio à tona o
escândalo dos sanguessugas:
esquema de desvio de recursos da pasta que deveriam
ser empregados na aquisição de ambulâncias. Costa, relator do processo que corre
no Conselho de Ética da Casa contra Demóstenes, foi absolvido das
denúncias.
Escutas
O senador Jayme Campos (DEM-MT) acumula processos na
Jutiça, entre eles um de improbidade administrativa. Todas as ações são herança
do período em que foi governador de Mato Grosso. Já a senadora Kátia Abreu
(PSD-TO) teve seu nome citado em escutas feitas pela Polícia Federal durante a
Operação Satiagraha, em 2008.
Um aliado do empresário Daniel Dantas afirmava que a
parlamentar recebera R$ 2 milhões de uma empresa para apresentar emendas a uma
medida provisória, da qual ela era relatora. A alteração iria de encontro aos
interesses de Dantas.
A denúncia nunca foi comprovada.
A denúncia nunca foi comprovada.
Cientista
político da UnB, o professor Leonardo Barreto enxerga na ficha dos parlamentares
motivos para endossar o senso comum de que CPI é sinônimo de pizza.
“A única coisa que pode fazer essa CPI funcionar é o
fato de ser uma guerra política, usada para descredenciar adversários”, analisou
Barreto.
Leonardo
Barreto, cientista político da UnB
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