"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 27 de junho de 2012

AS "BOCAS DE LOBO" DO BRASIL DAS RATAZANAS


GATO GORDO - Com salário de R$ 23 mil, garagista da Câmara está há 6 anos fora da garagem

Símbolo da discrepância de remunerações na Casa, Alexandre Pereira é, na verdade, assessor parlamentar do vereador Juscelino Gadelha

Um garagista da Câmara Municipal de São Paulo não trabalha na garagem há pelo menos seis anos. Alexandre Camargo Pereira, de 37 anos, é, na verdade, assessor parlamentar do vereador Juscelino Gadelha (PSB). Segundo o site da Casa, seu salário bruto é de R$ 23.206,96 - mais que o dobro do que ganha o presidente José Police Neto (R$ 9,3 mil).

Veja também:
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Câmara reajusta em R$ 18 mil verba de gabinete dos deputados

O salário dos garagistas, maior também que o dos 55 vereadores, de R$ 7,2 mil mensais, chamou atenção até do prefeito Gilberto Kassab (PSD). Um dia após a divulgação dos salários do Legislativo - a Câmara de São Paulo foi o primeiro órgão desse poder a abrir os vencimentos dos seus funcionários -, o prefeito brincou e disse que gostaria de ser garagista da Casa.

Até a revista inglesa The Economist falou sobre os holerites dos servidores paulistanos, a quem apelidou de "gatos gordos".

Pereira nunca prestou concurso para trabalhar no Legislativo. Foi nomeado assessor parlamentar de Gadelha, que vai trabalhar com carro próprio e não usa motorista da Casa, em janeiro de 2005. Filho de Joaquim Nabuco Pereira, que recebeu em maio - em valores brutos - R$ 17 mil para coordenar os motoristas, ele hoje é um "faz-tudo" no gabinete de Gadelha.

Ajuda tanto a descarregar caixas que chegam ao gabinete quanto na elaboração de ofícios que são enviados a secretarias municipais. "Quem trabalha na garagem é meu pai, o supervisor dos motoristas.

Eu já fui motorista do Zé Eduardo (José Eduardo Martins Cardoso, atual ministro da Justiça, vereador até 2003), já fiz esse trabalho, mas agora estou no gabinete do Juscelino", confirmou Pereira nesta terça-feira, 26, ao Estado.

Segundo o vereador, Pereira foi colocado "em função errada" e seu salário real é de cerca de R$ 7 mil - ele teria recebido o salário errado de R$ 23 mil por "dois ou três meses". Gadelha diz ainda que o valor recebido a mais será devolvido aos cofres públicos, "mesmo que ele tenha de tirar a diferença "do próprio bolso".

Nesta terça, o holerite de Pereira, publicado no site da Câmara, ainda mostrava os vencimentos de maio, com salário bruto que chega a R$ 23 mil. Procurado, ele afirmou que a reportagem deveria pedir mais explicações ao chefe de gabinete de Gadelha, Edson Dominguez.

"O que sei é que foi um erro do vereador. Ele não trabalha na garagem, o Juscelino nem usa motorista", admitiu Dominguez. A presidência da Casa informou que "no próximo mês haverá a atualização de dados, com o novo salário".


Diego Zanchetta e Rodrigo Burgarelli O Estado de S. Paulo
27 de junhode 2012

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