A CRENÇA DE JORGE AMADO
Jorge Amado, deputado comunista na Constituinte de 45, por São Paulo, deixou sua marca de libertário, democrata, popular e filho de santo baiano, como autor do item VI do art. 5 da Constituição:
- “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livro exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
Apesar da garantia da Constituição, a perseguição religiosa, no Brasil, durou muito tempo. Só a Igreja Católica tinha realmente liberdade. Os protestantes, hoje evangélicos, sofriam pressões em toda parte. Os espíritas também. E o candomblé, até mesmo na Bahia e no Maranhão, era implacavelmente discriminado, perseguido, chantageado.
Na Bahia, a polícia invadia sistematicamente os terreiros para extorquir dinheiro ou bater, prender. Eleito deputado baiano em 62, Jorge Amado me sugeriu e apresentei, com a autoridade de católico e oito anos de seminário, um projeto, baseado no artigo dele na Constituição, proibindo a polícia de entrar em terreiros sem ordem judicial, como não entrava nas igrejas e templos.
Quando os levava a algum candomblé, amigos do sul não entendiam o carinho da velha Menininha do Gantois e outras mães de santo comigo. É que nunca mais a polícia baiana chantageou, extorquiu ou invadiu terreiro nenhum.
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BEIJO NA BOCA
Luís de Oliveira, orador popular nas lutas políticas da Aliança Liberal, na revolução de 30, aliado e liderado de José Américo de Almeida na Paraíba, elegeu-se vereador de João Pessoa. Era o tribuno do povo.
Um dia, os jornais começaram uma campanha contra beijo na boca em público. Diziam que aquilo era “degradação que vinha do Rio, contaminado por idéias estranhas aos puros sentimentos do povo brasileiro e que não podia ser consentida pela virtuosa família paraibana” (editorial do jornal “A União”).
Logo apareceu, na Câmara Municipal, um projeto mandando prender quem desse beijo na boca em público. O bispo mandou chamar Luís Oliveira:
- Vereador, o senhor é o maior votado, o mais popular e o representante da juventude na Câmara. Precisa dar o exemplo, nos ajudar. Queremos seu voto.
- Senhor bispo, me perdoe, mas não posso. Sou um cristão, um católico e sei que o beijo na boca em público é um atentado à moral. Mas sou um democrata e não posso ficar contra um movimento popular vitorioso.
O projeto foi aprovado. Mas o democrata Luís Oliveira votou contra.
27 de junho de 2012
Sebastiâo Nery
Jorge Amado, deputado comunista na Constituinte de 45, por São Paulo, deixou sua marca de libertário, democrata, popular e filho de santo baiano, como autor do item VI do art. 5 da Constituição:
- “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livro exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
Apesar da garantia da Constituição, a perseguição religiosa, no Brasil, durou muito tempo. Só a Igreja Católica tinha realmente liberdade. Os protestantes, hoje evangélicos, sofriam pressões em toda parte. Os espíritas também. E o candomblé, até mesmo na Bahia e no Maranhão, era implacavelmente discriminado, perseguido, chantageado.
Na Bahia, a polícia invadia sistematicamente os terreiros para extorquir dinheiro ou bater, prender. Eleito deputado baiano em 62, Jorge Amado me sugeriu e apresentei, com a autoridade de católico e oito anos de seminário, um projeto, baseado no artigo dele na Constituição, proibindo a polícia de entrar em terreiros sem ordem judicial, como não entrava nas igrejas e templos.
Quando os levava a algum candomblé, amigos do sul não entendiam o carinho da velha Menininha do Gantois e outras mães de santo comigo. É que nunca mais a polícia baiana chantageou, extorquiu ou invadiu terreiro nenhum.
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BEIJO NA BOCA
Luís de Oliveira, orador popular nas lutas políticas da Aliança Liberal, na revolução de 30, aliado e liderado de José Américo de Almeida na Paraíba, elegeu-se vereador de João Pessoa. Era o tribuno do povo.
Um dia, os jornais começaram uma campanha contra beijo na boca em público. Diziam que aquilo era “degradação que vinha do Rio, contaminado por idéias estranhas aos puros sentimentos do povo brasileiro e que não podia ser consentida pela virtuosa família paraibana” (editorial do jornal “A União”).
Logo apareceu, na Câmara Municipal, um projeto mandando prender quem desse beijo na boca em público. O bispo mandou chamar Luís Oliveira:
- Vereador, o senhor é o maior votado, o mais popular e o representante da juventude na Câmara. Precisa dar o exemplo, nos ajudar. Queremos seu voto.
- Senhor bispo, me perdoe, mas não posso. Sou um cristão, um católico e sei que o beijo na boca em público é um atentado à moral. Mas sou um democrata e não posso ficar contra um movimento popular vitorioso.
O projeto foi aprovado. Mas o democrata Luís Oliveira votou contra.
27 de junho de 2012
Sebastiâo Nery
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