Saúde debilitada do presidente venezuelano gera especulações sobre sucessão até mesmo entre seus mais fiéis apoiadores
Por mais de três horas ele se manteve diante das multidões no centro da cidade – imponente, feroz, engraçado, cantando canções, e o prometendo que o socialismo rígido destruiria o capitalismo ao estilo norte-americano que ele tanto abomina. Mas apesar de sua aparição há duas semanas, as muitas semanas que Hugo Chávez passou comandando a Venezuela do Twitter durante seu período de recuperação da mais recente cirurgia realizada em sua luta contra um câncer, fazem com que muitos de seus apoiadores se perguntem se ele sobreviverá a outro mandato de seis anos.
O desafio de Chávez
Chávez oficializa candidatura à presidência em Caracas
“Nós o vimos, e sabemos que ele está doente”, diz Evelyn Quesada, um professora de 57 anos, a mesma idade de Chávez. “Algo está acontecendo com o presidente, caso contrário ele estaria na TV todo dia. Esse não é seu estilo”.
Um ano após a complicada cirurgia no qual médicos cubanos removeram um crescente tumor de seu corpo, Hugo Chávez, um presidente que comandou seu país como o apresentador de um programa televisivo raramente aparece na TV, e revela apenas pequenos detalhes sobre sua saúde. O programa dominical de Chávez, Aló Presidente, foi suspenso por boa parte do ano, assim como suas constantes viagens, que mantiveram a atenção da mídia.
No seu lugar entraram pequeno eventos como um breve encontro com membros do governo bielorrusso, e uma caminhada pelo palácio presidencial, no qual as câmeras estavam posicionadas para mostrar que Chávez ainda consegue se movimentar sem ajuda. O presidente, no entanto, afirma que as especulações sobre seu estado de saúde são o trabalho de inimigos da revolução que querem tirá-lo da presidência.
“Eles dizem que não consigo andar, que preciso de duas bengalas e uma cadeira de rodas”, disse Chávez no centro de Caracas. “Em breve estarmos jogando beisebol”. Seu corpo parecia inchado, e ele andou vagarosamente, mas o presidente soube usar suas potentes habilidades de oratória e a devoção a sua figura para tentar apagar qualquer dúvida quanto a sua saúde.
“Aqui estou, mais uma vez na frente de vocês, e em seu nome e em nome da pátria, registrando minha candidatura à presidência”, afirmou o Chávez, o único autorizado a falar sobre sua saúde, que revelou ter passado por três operações, além de quimioterapia e radioterapia. Ainda assim, sua campanha não vislumbra a possibilidade de Chávez abrir mão da disputa presidencial contra Henrique Caprilles. “Digo agora o que confirmarei na manhã de 8 de outubro: Chávez dará uma surra no candidato da direita”, diz Jorge Rodriguez, chefe da campanha de reeleição do presidente.
“Tudo indica que seu câncer não parece ser do tipo curável”, afirmou Julian Molina, um oncologista da Mayo Clinic, que vem acompanhando, à distância, a saúde do presidente venezuelano. “Em casos como esse, a melhor chance de cura é na primeira tentativa”, diz o médico, que acredita que Chávez sofre de um tumor agressivo – possivelmente um sarcoma – resistente à quimioterapia.
Quem poderá substituí-lo?
Aos poucos surgem sinais dentro do movimento chavista de que a possibilidade de uma Venezuela sem Chávez começa a ser levantada. “O presidente tem câncer, e isso é lago que não pode ser ignorado”, afirmou Wilmar Castro, chefe de planejamento da campanha de reeleição. Mas apoiadores, como o ex-parlamentar Ramses Reyes, acreditam que o poder de Chávez vai além de sua presença física.
“Chávez pode ser substituído, mas não suas ideias. Chávez transcende a vida. Ele é o símbolo do processo revolucionário, e sua filosofia continuará viva mantendo seus apoiadores unidos depois de sua morte”, afirmou Reyes.
Entre os indicados para substituir Chávez estão seu irmão, Adan, que o introoduziu á política radical, e é próximo do regime cubano; o vice-presidente Elías Jaua, que se destacou nos protestos universitários; o ministro das Relações Exteriores, Nicolas Maduro, ex-motorista de ônibus e sindicalista; e Diosdado Cabello, um ex-militar que esteve ao lado de Chávez na fracassada tentativa de golpe de 1992.
Segundo Marbella Pineda, uma chavista fervorosa presente no comício de segunda-feira, todos eles são “sérios e objetivos, e contam com o apoio da população”. Mas quando perguntada se algum deles poderia realmente substituir Hugo Chávez, ela riu de maneira nervosa. “Não”, afirmou Pineda. “Nenhum deles”.
27 de junho de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário