Existem argumentos contra fatos e fotos? Graças ao bom Deus que sim! Uma experiência incrível é fazer uma releitura do famoso e derradeiro livro “A Câmara Clara” (Ed. Nova Fronteira) do sociólogo e semiólogo francês Roland Barthes – publicado poucos dias antes dele morrer atropelado, em 1980. Na obra, ele nos resume a fotografia como a eternização de um instante que já morreu: “A Fotografia não fala (forçosamente) daquilo que não é mais, mas apenas e com certeza daquilo que foi”.
A foto acima, clicada pelo repórter-fotográfico Moacyr Lopes Júnior, da Folhapress, em 19 de junho de 2012, é um documento historicamente vivo de que Barthes tinha inteira razão. O pesquisador nos ensinava que a fotografia visa à reprodução da impressão visual do fotógrafo, que faz do mundo real um objeto digno de ser estudado.
A imagem ilustra a polêmica – e para alguns surpreendente – união entre Luiz Inácio Lula da Silva (aquele que já foi, mas acha que ainda é) e Paulo Salim Maluf (aquele que sonhou em ser o que Lula foi mas nunca conseguiu), selando um apoio àquele (Fernando Haddad) que sonha em ser o que dificilmente será (Prefeito de São Paulo).
Vale rever algumas frases de Barthes que se aplicam ao episódio e – também, ironicamente – ao momento especial vivido por Lula – que a lenda médica jura ter sido completamente curado de um violento câncer de laringe. Barthes escreveu: “A fotografia é uma lição de amor e de ódio ao mesmo tempo. É uma metralhadora, mas também é o divã do analista. Uma interrogação e uma afirmação, um sim e um não ao mesmo tempo. Mas é sobretudo um beijo muito cálido”.
No caso de Lula-Haddad, o fotografado apoio de Maluf foi um “beijo da morte” para a candidatura da vice-prefeitável Luiza Erundina. A ex-prefeita, em ação perfeita, teve a hombridade de tirar o time dela daquela parceria com o político procurado pela Interpol por crimes de corrupção e suposta lavagem de dinheiro. O desapoio de Erundina praticamente sepultou a candidatura Haddad – uma invenção imposta por Lula que lhe rendeu o ódio eterno da companheira Marta Suplicy, por ele traída e preterida na disputa paulistana.
Mas voltemos aos úteis ensinamentos Roland Barthes, que também escreveu: “Quando você olha por uma câmera e dispara, tudo acontece naquele momento. O que você quer fotografar se apresenta diante de você como um instante decisivo. Às vezes você está ali para disparar, e muitas vezes você não vê. Mas eu vivo esse instante. É o que me interessa. Tudo se compõe nesse momento e é preciso saber vê-lo”.
Ainda Barthes (que parece até falar sobre Lula, Deus me livre!): “A fotografia transforma o sujeito em objeto, e até mesmo, se é possível falar assim, em objeto de museu (...)”. E mais: “Imaginariamente, a fotografia (aquele de que tenho intenção) represente esse momento muito sutil em que, para dizer a verdade, não sou nem um sujeito nem um objeto, mas antes um sujeito que se sente tornar-se objeto: vivo então uma microexperiência da morte: torno-me verdadeiramente espectro”.
Bathes esclarece ainda mais, (e Lula devia ler, pena que não gosta de livro...): “A fotografia não fala (forçosamente) daquilo que não é mais, mas apenas e com certeza daquilo que foi. Essa sutileza é decisiva. Diante de uma foto, a consciência não toma necessariamente a via nostálgica da lembrança (quando fotografias estão fora do tempo individual), mas, sem relação a qualquer foto existente no mundo, a via da certeza: a essência da Fotografia consiste em ratificar o que ela representa”.
O que Lula representa todo mundo (que pensa um pouco) sabe muito bem... Neste final-começo de semana, a Folha de S. Paulo, nos traz o emblemático depoimento de uma testemunha ocular da história em que a famosa foto foi feita. O vereador Wadih Mutran (PP), que tentará disputar seu oitavo mandato consecutivo aos 76 anos de idade, contesta a versão petralha de que o petista $talinácio ficou constrangido ao lado do rival histórico: "Foi o Lula quem pediu para tirar a foto. Se ele não quisesse, entrava no carro e ia embora, Eu renuncio se alguém provar que o Lula reclamou. Ele estava tão sorridente...".
Para dar um fecho monumental à análise da foto que movimentou a sucessão paulistana, o vereador Wadih Mutran ainda repete uma velha lição muito sabida por quem faz política (ou politicagem) no ignorante e subdesenvolvido Brasil: "A política tem disso, meu filho. O inimigo de hoje pode ser seu amigo amanhã". O azar dos brasileiros é que sofrem com os inimigos de ontem, de hoje e de sempre...
Já que falamos de riscos políticos, nada custa lembrar que o Altíssimo, lá nas alturas, mandou um recadinho à Presidenta Dilma Rousseff, na noite de sexta-feira. O Arbus 320 – caríssimo avião que transporta nossos imperiais dirigentes máximos (pouco ou nada) republicanos – sofreu uma perigosa pane em pleno voo do Rio de Janeiro para o Detrito Federal. A aeronave sofreu uma despressurização. Foi obrigada a retornar ao Galeão, onde Dilma embarcou no aviãozinho reserva para viajar até Brasília.
Em tempos de queda de presidente no Paraguai, não se tem certeza de que a pane foi um recado divino. Ou se foi mais uma divina armação, com notinha plantada na mídia amestrada, para criar as pré-condições psicológicas para que os burocratas e negociantes em torno da Presidência possam justificar a compra, urgente e imediata, de uma nova e também caríssima limousine aérea para transportar os poderosos membros do politiburo tupiniquim.
Dane-se o avião! Aqui na terra firme, os sinais evidentes são de que o Governo do Crime Organizado corre o risco de sofrer alguma ruptura. Quando, como e se realmente acontecerá, só Deus sabe. Mas é bom prestar atenção aos fatos para não ficar mal na fotografia final.Valhei-nos, São João!
24 de junho de 2012
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.
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